Kong: A Ilha da Caveira | Crítica | Kong: Skull Island, 2017, EUA

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O Rei não está morto! Viva longa ao Rei em Kong: A Ilha da Caveira – que falha no desenvolvimento de alguns personagens, mas diverte.

Kong: A Ilha da Caveira (2017)

Elenco: Tom Hiddleston, Samuel L. Jackson, John Goodman, Brie Larson, Jing Tian, Toby Kebbell, John Ortiz, Corey Hawkins, Jason Mitchell, Shea Whigham, Thomas Mann, Terry Notary, John C. Reilly | Argumento: John Gatins, Dan Gilroy | Roteiro: Dan Gilroy, Max Borenstein, Sevak Anakhasyan | Baseado em: King Kong (Merian C. Cooper, Edgar Wallace) | Direção: Jordan Vogt-Roberts (Os Reis do Verão) | Duração: 118 minutos | 3D: Relevante | Cena Pós-Créditos

Alguns personagens são tão eternos que fica uma ponta de duvida em revisitá-los. Apenas para confirmar que a nostalgia é a onda da vez, Kong: A Ilha da Caveira é tanto uma homenagem ao personagem de 1933 como uma reimaginação do icônico personagem, atualizando questões já defasadas na refilmagem de 1976. É uma produção que abraça a fantasia e aventura desde o princípio, diverte a audiência e levanta o mesmo tema de antes, mas que continua atual: tememos o que não entendemos. Mesmo que tenha alguns clichês, a história subverte temas e nos presenteia com algumas surpresas. Principalmente para os fãs dos clássicos monstros gigantes.

Por ser um filme onde o protagonista é um megaprimata, não faz sentido deixá-lo escondido. Kong (Captura de movimentos de Notary) é revelado pelo diretor com menos de cinco minutos para mostrar que o conflito da Segunda Guerra Mundial, onde um soldado dos EUA e outro do Japão lutam ao cair na Ilha da Caveira, não é nada em comparação à força da natureza.  Basicamente é isso que o personagem representa: essa força contra a destruição humana. Kong é a resposta ao sorriso do soldado que chega à Ilha da Caveira com bombas para ser rechaçado, homenageando produções belicistas: a fotografia do primeiro confronto remete às cores de Apocalipse Now (1979, Francis Ford Coppola) – o pôster IMAX reforçou essa referência – e Nascido Para Matar (Full Metal Jacket, 1987, Stanley Kubrick), algo que simbolicamente fica ao fundo como o próprio pano da Guerra Fria que está acabando.

A montagem de Richard Pearson, já acostumado com filmes de ação, é um dos grandes trunfos do filme em conjunto com outros aspectos técnicos. A sensação de urgência está sempre presente por causa da megafauna apresentada, onde qualquer descuido pode significar a morte, sensação dosada pelo montador e pelo diretor. Ou seja, depois de quase duas horas de projeção, o espectador não se sentirá exausto mesmo com o número de explosões e tiros. Há pausas para descansarmos e pensarmos no que acabamos de ver e refletir o papel da sociedade. O que mostra que o filme não é apenas um primor técnico (apesar de ser nessas categorias que o filme será lembrado no Oscar ano que vem, não que existam maiores pretensões).

Assim como Mason (Brie) esse é um filme anti-guerra e alguns estereótipos acabam sendo perdoáveis, como o do Tenente Coronel Packard (Jackson) – num papel que Jackson repete uma infinidade de personagens que já fez – que não quer escapar das sombras da guerra. A produção se perde também na biologista San Lin (Tian) apenas para cumprir a cota chinesa de produções hollywoodianas. A representatividade é muito importante e a presença dela quebra o Princípio Smurfete (apesar de não no teste de Bechdel), mas a personagem tem importância zero na trama. Querem mostrar que se importam mesmo? Então deem um sentido para a personagem existir. Falando em personagens mal desenvolvidos, James Conrad (Hiddleston) é chamado por ser um rastreador que não rastreia nada.

Porém é preciso apontar que Mason Weaver não é nem de longe Ann Darrow ou Dwan (dos filmes de 1933/2005 e 1986): ela já esteve em guerras, é apaixonada pela profissão e acompanha a expedição da Monarca porque quer. E a química com James não é baseada em sexo, mas no campo da curiosidade. É interessante a conexão feita previamente com os dois pelo cinematógrafo Larry Fong na fotografia avermelhada que banha os personagens em lugares e situações diferentes – James numa briga de bar, Mason revelando fotos num quarto escuro. Como uma dupla dinâmica, os dois complementam ideias e tem espaço divido na história; Mason em especial não precisa se provar em nenhum momento, o que foge do lugar comum da mulher forte.

E mesmo num filme de ação, onde os elementos já são conhecidos e repetidos, a produção encontra brechas para subversões. Se normalmente existe a calmaria que precede a tempestade, aqui é a tempestade que precede, atos heroicos acabam de maneira pouco usual e o alívio cômico não é tão cômico assim. Ao escalar John C. Reilly como Hank Marlow havia o perigo dele ser aquele personagem de sempre que não tem noção de fazer algo errado o que vira comédia – apesar dessa característica não ser descartada, o veterano da Segunda Guerra tem uma dor e um passado melancólico que, mais uma vez, equilibra a narrativa.

Os detalhes com a produção é outro ponto de encher os olhos. É muito simples dizer que o filme é bonito – e é – mas é importante dar atenção ao design de produção, os pontos já citados da fotografia e a mixagem de som (em especial o primeiro encontro dos invasores da Ilha com Kong, onde as pás dos helicópteros batem como o nosso coração). Visualmente é um filme impecável que, em certos momentos, vai nos remeter a produções como Godzilla (2014, Gareth Edwards) e Círculo de Fogo (Pacific Rim, 2013, Guillermo del Toro) – aliás, filmes da Legendary Pictures que, por causa de alguns elementos, podem até se passar no mesmo “monstroverso”.

Esse cuidado passa também pelo sentido biológico, com aranhas gigantes com patas mimetizando troncos de bambu, animais que parecem madeira para escapar de predadores e mamíferos que se cmuflando na água permitindo que aves pousem nas suas cabeças. Ao mesmo tempo em que o filme não se leva tão ao sério ao usar a teoria da terra oca – não que seres gigantes já não fizessem o esse papel – mesclando ação, aventura e fantasia com temas mais sérios, como a união fazer a força que é representada pelo barco criado a partir de sucatas de Sptifire P-51 e um Mitsubishi A6M Zero ou a caça indiscriminada de Packard (numa homenagem da dualidade Ahab/Moby Dick).

Sem perder tempo afirmando o óbvio (por exemplo, que há um gorila monstruosamente gigante na nossa frente ou que alguns dos personagens são devorados vivos) Kong: A Ilha da Caveira passeia entre exageros – Conrad é quase perfeito, sabendo se virar até com uma shoto – momentos divertidos e homenagens ao cinema de monstros e do próprio King Kong – os fãs irão vibrar com as batidas no peito, esqueletos de Tricerátopos e correntes que tentam prender o gigante. Mas ainda há espaço para sermos surpresos em alguns momentos com expectativas sendo quebradas naquilo que mais queremos ver: o UFC de verdadeiros monstros.

Há uma cena pós-crédito: só cuidado para não se empolgar com ela mais do que o filme.

Kong: A Ilha da Caveira concorre ao Oscar 2018 na categoria Melhores Efeitos Visuais (Stephen Rosenbaum, Jeff White, Scott Benza e Mike Meinardus).

Kong: A Ilha da Caveira | Trailer

Kong: A Ilha da Caveira | Pôster

Kong: A Ilha da Caveira | Cartaz

Kong: A Ilha da Caveira | Imagens

Kong: A Ilha da Caveira | Imagens

Kong: A Ilha da Caveira | Imagens

Kong: A Ilha da Caveira | Imagens

Kong: A Ilha da Caveira | Imagens

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Kong: A Ilha da Caveira | Imagens

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Kong: A Ilha da Caveira | Imagens

Kong: A Ilha da Caveira | Imagens

Créditos: Divulgação
Kong: A Ilha da Caveira | Sinopse

No fim da Guerra Fria, um grupo de cientistas escoltados por soldados que ainda não esqueceram a guerra participam de uma expedição para um ilha não-mapeada no Pacífico. Alguns pela curiosidade, outros com motivos escusos. Um a um irão encontrar o rei daquele lugar: o gigantesco Kong, o rei daquela ilha.

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About TIAGO

TIAGO LIRA | Criador do site, UX Designer por profissão, cinéfilo por paixão. Seus filmes preferidos são "2001: Uma Odisseia no Espaço", "Era uma Vez no Oeste", "Blade Runner", "O Império Contra-Ataca" e "Solaris".