Jurassic World: O Reino Ameaçado | Crítica | Jurassic World: Fallen Kingdom, 2018
Jurassic World: O Reino Ameaçado é a melhor continuação do universo criado por Spielberg, um filme que com Bayona consegue se afastar do mestre.
Depois de três continuações, o que estava ameaçada era essa franquia – felizmente, Jurassic World: O Reino Ameaçado traz algo de diferente para a história iniciada nos anos 1990. Com menos toques de nostalgia que a produção anterior, Bayona toma as rédeas para dar ao filme um tom mais trágico, mas sem se esquecer do que gostamos naquele primeiro grito da T-Rex que Steven Spielberg nos trouxe. Ainda que a produção inicial seja inalcançável por diversos motivos, numerosos demais para citar, o novo filme se encontra nos discursos éticos, na comédia e na ação, equilibrando esses temas sem deixar que a trama se arraste até a conclusão.
Já no prólogo, Bayona quer nos deixar inquietos. Ali, na escuridão da sala do cinema que faz paralelo com a da Ilha Nublar após os eventos de Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros (Jurassic World, 2015, Colin Trevorrow), a fuga do mosassauro já é uma mudança do status quo: não dos personagens, mas do mundo. Com esse novo jogador nos nossos mares, ainda que o ser não tenha destaque na trama da mesma maneira que a produção de 2015, temos um novo mundo, como aponta o Dr Ian Malcolm (Goldblum). Agora, é como nós humanos vamos lidar com essa gigantesca mudança. Questões éticas vão permear o filme, e em mais de um momento vão te pegar questionando suas próprias respostas.
E os personagens não saíram ilesos da desventura anterior: agora Claire (Howard) vive com bem menos glamour de quando era a diretora do parque – interessante que Bayona usa de posições de câmera parecidas com as do filme de Trevorrow para reforçar isso, mas que terminam de maneira diferente, como uma porta de elevador que não abre direito, ou focando nos pés para mostrar suas botas. O caminho entre ser uma burocrata e uma ativista não veio sem preço. Correndo contra o tempo para salvar os dinossauros de uma nova extinção, o filme carrega um senso de urgência desde as primeiras interações da personagem: ela chega no escritório e sem tempo para respirar, tem que convencer uma política a entrar no barco com ela, para logo em seguida ser levada a conhecer um novo participante.
Já Owen (Pratt) tem os mesmos problemas que faziam ele ser menos interessante no filme anterior. Aliás, as coisas vão além: se o personagem já parecia perfeito e praticamente à prova de falhas, essa característica é exacerbada, com outras qualidades sendo adicionadas, pois ele está construindo uma casa com as próprias mãos e consegue sair na porrada com seguranças treinados. Para dar um pequeno ar de humanidade ao personagem, numa tentativa de deixa-lo mais palatável, há uma cena em que Owen precisa ajudar Claire e Franklin (Smith) e como está debaixo da água, o diretor permite que ele suba para respirar. Fora isso, o personagem já era um estrago, e pouco pôde ser feito.
Há espaços também para novos jogadores, cada um interessante a sua maneira – o frágil Benjamim (Cromwell), herdeiro do legado de Hammond; o já citado Franklin no papel de alívio cômico, que apesar de ser negro não é reduzido à ser apenas uma piada, como tantos outros filmes fazem; a latina Dra Zia Rodriguez (Pineda), num misto de cérebro e ação, uma personagem sagaz que sabe como se manter viva; e o jovem e ambicioso Eli (Spall), aquele com cara de bom moço, cheio de boas intenções (como o inferno) e a pequena Maisie, a jovem mais frágil e inocente dessa sequência e, diferente dos sobrinhos de Claire, alguém que nos importamos.
Mas nenhum deles é protagonista. Como sempre foi, Jurassic Park/World é sobre dinossauros andando entre nós, num interessante exercício de imaginação. Claro que não estamos excluídos dessa equação, pois é a humanidade a responsável pela reversão da extinção desses seres e, por consequência, cai em nós o seu destino. É uma questão interessante, algo que entra em conflito entre sobrevivermos como espécie ou se evoluímos verdadeiramente para lidar com as responsabilidades, mais gigantescas que elas sejam.
Isso algo que vai acontecer em todo o filme. Podemos começar com Zia que ao ver pela primeira vez um dinossauro de perto – um braquiossauro – é como alguém que vê a neve também pela primeira vez. Então, somos tragadas para um inferno, onde a analogia do fogo para a frigideira funciona. Se estivéssemos junto dos personagens que fogem da lava, pensaríamos nas nossas próprias vidas. Então Bayona, sabendo desse sentimento da plateia, pega essa sensação e massacra nosso egoísmo quando assistimos o desaparecimento de uma espécie, num momento que é misto de tragédia e elegância.
E o diretor não se contenta em apenas fazer um filme de ação, mais uma vez se distanciando da abordagem anterior de Treverrow. Além disso, o espanhol se distancia da obra de Spielberg – não completamente, mas o suficiente para ter um diferencial. Para termos uma ideia, nem mesmo os tons clássicos da música de John Williams aparecem nas notas de Giacchino, a não ser quando sobem os créditos. O que acontece é que a história, escrita por Treverrow e Connoly, pega elementos do original para subverte-los: Franklin e Zia são novos na ilha, mas não são crianças; o elemento noturno é usado como suspense, mas de maneira trágica, pois o novo dinossauro apresentado, o indoraptor, se torna um monstro.
Essa é a parte mais interessante do filme: a construção desse novo personagem é um pesadelo maior que a indominus rex em 2015. Se levarmos em conta que o ser é o primeiro macho (criado, não nascido) da história da franquia, isso leva a discussão a outro nível, pois o indoraptor se comporta quase como os clássicos assassinos de filmes de terror, mas com uma vantagem evolutiva: se notarmos bem, esse é a primeira ameaça com 4 dedos nas garras. Além disso ele é inteligente, cretino e enganador – se soar familiar, é porque a carapuça serviu. E como um grande monstro da vida real, ele aparece para destruir a infância e a segurança de Maisse – de muitas maneiras.
Se Jurassic World: O Reino Ameaçado seguisse os passos de seu antecessor, seria o que todas as sequências de Jurassic Park foram – filmes calcados apenas na nostalgia do melhor filme de dinossauros do cinema. Mesmo que seja impossível se equiparar a esse gigante, Bayona trouxe algo de novo, uma ousadia que carrega grandes possibilidades para o já anunciado fechamento dessa nova trilogia em 2021, algo tão pesado que sentimos como é difícil sair da boca do Dr Ian na conclusão da história. Antes era tudo muito contido, mas a partir de agora é tudo novo, sem amarras e esperamos que esse admirável lugar seja bem construído.
Elenco
Chris Pratt
Bryce Dallas Howard
Rafe Spall
Justice Smith
Daniella Pineda
James Cromwell
Toby Jones
Ted Levine
B. D. Wong
Isabella Sermon
Geraldine Chaplin
Jeff Goldblum
Direção
J. A. Bayona (Sete Minutos Depois da Meia Noite)
Roteiro
Colin Trevorrow
Derek Connolly
Baseado em
O Parque dos Dinossauros (Michael Crichton)
Fotografia
Óscar Faura
Trilha Sonora
Michael Giacchino
Montagem
Bernat Vilaplana
País
Estados Unidos
Distribuição
Universal Pictures
Duração
128 minutos
3D
Relevante
Cena Extra
Três anos depois do fechamento do parque, os dinossauros podem ser extintos novamente por causa de um evento geológico na Ilha Nublar. Advogando pelo direito dos seres continuar a existir, Claire convence Owen à voltar novamente para a ilha, num plano de salvar alguns deles – incluindo Blue. Mas outros motivos estão por trás da empresa que financia a expedição.
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