John Wick 3: Parabellum | Crítica | John Wick: Chapter 3 – Parabellum, 2019
John Wick 3: Parabellum não decepciona no quesito ação nem nas coreografias sem esquecer de contar uma boa história, ainda que com suas conveniências.
Os filmes de ação entraram numa toada de serem franquias faz tempo. Mesmo assim, com seus atos impossíveis e personagens quase indestrutíveis, John Wick 3: Parabellum ainda encontra força para animar a plateia, como aqueles últimos passos que damos quando precisamos tirar força de algum lugar para continuar nosso caminho. Por mais que seja um filme violento e que se aproveita muito de ter um personagem estabelecido numa mitologia e sem amarras, há uma elegância nos movimentos e ações do protagonista, uma arte que ele faz tão bem que pode ser comparado com uma arte clássica como um balé – e quem sabe ao que os estudantes dessa dança são submetidos, o paralelo não é um exagero.
A história de John Wick (Reeves) não precisa de muita explicação, e Stahelski nem mesmo se preocupa em recontar a história pregressa do assassino, caindo apenas alguns minutos depois dos eventos de John Wick: Um Novo Dia Para Matar (John Wick: Chpater 2, 2017). Isso eventualmente acontece em algumas falas, sem que o diretor apele para flashbacks ou narrações off. Só isso já é suficiente para mostrar o senso de urgência do protagonista que tem que se esconder tanto da luz quanto das sombras. Isso e o fato de John ainda estar de terno preto, apesar desse elemento funcionar simbolicamente como um tipo de uniforme do anti-herói.
Caçado pela Alta Cúpula, John tem que enfrentar praticamente toda a Nova York. E é digno de nota que os roteiristas não fazem isso apenas pelos assassinos: até o trânsito da cidade se torna um obstáculo para John enquanto ele tenta encontrar uma saída para seu problema, e poucos lugares são cosmopolitas o bastante para essa sensação de perseguição global. Seja da Sérvia, China, Itália, Estados Unidos ou Japão, John precisa ser como a água e se adaptar a cada cenário. E isso volta à questão apresentada inicialmente sobre a elegância entre a violência. Diretores mais propensos à clichês usariam a trilha sonora em tudo. Porém, Stahelski prefere usar o som como um elemento mais importante na trama.
Começando pela cena da biblioteca, onde um dos perseguidores de John pede que ele faça silêncio, passando pelos perseguidores num antiquário e nos estábulos, o diretor prefere que os golpes desferidos e recebidos por um John ferido e cansado sejam melhor percebidos por nós. Isso traz em si algo de comédia, não pela coreografia ser engraçada ou malfeita – muito pelo contrário -, mas porque a matança, digamos, inesperada, tira risos de nós porque Stahelski sabe que todos temos um tanto de perversão do lado de dentro. Mesmo com cenas que na vida real nos desviássemos o olhar, como uma faca perfurando um olho, o diretor que veio do mundo dos dublês sabe que no cinema temos uma liberdade não presente no mundo real.
O filme, no entanto, não escapa de alguns clichês. O primeiro por John voltar à suas origens para tentar se manter vivo, o que faz a história ser também global em termos físicos, introduzindo Sofia (Berry), uma personagem que pode ser definida como a versão mulher de John e que, sem dúvidas, poderia ter um filme solo. Pelo menos, a passagem curta da personagem não usa o clichê da dama em perigo, mas o extremo oposto disso ao percebermos que John não sai para salvar a personagem uma vez sequer. Nem mesmo uma tensão sexual é colocada entre os dois, o que seria em si outro clichê.
Há também uma dose de conveniência para as saídas de John. Isso não quer dizer que seja uma vida fácil, mas desde que Winston (McShane) não deu cabo de John da mesma maneira que uma personagem do primeiro filme, que cometeu a mesma falta no Continental e foi impedida de perseguir o protagonista ferido, outros personagens facilitam a vida de John. Mesmo com um preço altíssimo por sua cabeça e sabendo que a Alta Cúpula não costuma mostrar piedade, ele é ajudado tanto por Sofia – que só por suas ações pode simplesmente não ter voltado para casa – quanto pela Diretora (Huston), que ganha só uma punição leve.
Nesse leque se encontram também os assassinatos de Zero (Dacascos) e seus estudantes. Ao perseguirem John, eles matam pessoas em lugares movimentados como uma estação de metrô e ninguém percebe. É justo dizer, porém, que isso é um pouco de crítica à pressa das pessoas que vivem em metrópoles, basicamente dizendo que ninguém se importa, mas ainda assim é um exagero. E quando os alunos de Zero poderiam fechar a questão – lembrando, ainda com 15 milhões de dólares em jogo – eles apelam para algum tipo de honra e permitem que John recupere o fôlego. Se fossem honrados como samurais mesmo, a luta seria um a um.
Há na trama algo de aventura de videogame, mas os roteiristas e Stahelski não trabalham isso de maneira tão leviana. Como qualquer jogador de jogos de tiro sabe, quando subimos de nível os inimigos precisam levar mais balas para serem derrotados, e o diretor transporta isso para o mundo real de maneira bem prática e realista ao vestir os agentes da Alta Cúpula que vão atrás de John com os coletes praticamente impenetráveis. E, de novo da mesma maneira que nós com um controle em mãos sabemos, precisamos de mais poder de fogo. E não deixa de ser engraçado esse upgrade de armas ser conseguido num cofre.
O subtítulo do filme vem de um provérbio latino – si vis pacem, para bellum – e guerra é o que encontramos em John Wick 3: Parabellum. John sabia que ele nunca verdadeiramente sairia daquela vida – ou seja, nada de paz –, por isso ele tinha em casa, como vemos no primeiro filme, um arsenal e ativos financeiros cimentados para emergências, e que a única maneira de se livrar da Alta Cúpula é explodindo tudo. Mesmo repetindo alguns temas do filme anterior, e fazendo rimas visuais, a nova desventura de John Wick se coloca um tanto acima do filme de 2017, mantendo o carisma do personagem, mesmo que mostre um Keanu Reeves gasto para esse tipo de papel.
Elenco
Keanu Reeves
Halle Berry
Laurence Fishburne
Mark Dacascos
Asia Kate Dillon
Lance Reddick
Anjelica Huston
Ian McShane
Direção
Chad Stahelski (John Wick: Um Novo Dia Para Matar)
Roteiro
Derek Kolstad
Shay Hatten
Chris Colllins
Marc Abrams
Argumento
Derek Kolstad
Fotografia
Dan Laustsen
Trilha Sonora
Tyler Bates
Joel J. Richard
Montagem
Evan Schiff
País
Estados Unidos
Distribuição
Summit Entertainment
Paris Filmes (Brasil)
Duração
131 minutos
Data de estreia
16/mai/2019
Banido, John Wick é agora perseguido por toda a Alta Cúpula. Para sobreviver, além de desviar de qualquer um que possa aparecer das sombras, ele precisa cobrar antigos favores e voltar ao início de tudo.
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