Jogo do Dinheiro | Crítica | Money Monster, 2016, EUA
Em Jogo do Dinheiro a diretora Jodie Foster dá as rédeas da trama às mulheres, enquanto explica como é sujo o mundo financeiro.
Com George Clooney, Julia Roberts, Jack O’Connell, Dominic West, Caitriona Balfe, Giancarlo Esposito. Roteirizado por Alan Di Fiore, Jim Kouf, Jamie Linden. Dirigido por Jodie Foster.
Você é um fracassado: é isso que a mídia quer te fazer acreditar e que tudo se resolveria com roupas de marca ou a compra de um carro. Dizem os economistas que 99% de nós nadam entre tubarões. Em Jogo do Dinheiro a diretora Jodie Foster nos mostra uma nação inescrupulosa, midiática, imediatista e iludida. Além do óbvio contexto socioeconômico, ela nada entre seus próprios predadores, numa Hollywood que dá poucas chances às mulheres na direção e em papeis de destaque. Então ela subverte contextos, alguns poderiam até dizer exageradamente, mas se você pensar o quanto papeis femininos foram relegados a secretárias bonitas, é justificado.
E é interessante que o filme consegue mesclar esses dois assuntos sem parecer demasiadamente longo ou óbvio. Sim, o apresentador Lee Gates (Clooney) é a cara do filme, um frontman se preferirem, alguém tão anti-jornalístico quanto um apresentador brasileiro que é um grande roedor, mas Patty Fenn (Roberts) é o cérebro da equipe. Ela fica na sua cabine, direcionando e dando ordens, sendo Lee sua boca – mesmo que ela admita que o que eles fazem não é jornalismo – o operador de câmera são seus olhos, a assistente seus ouvidos. Há uma divertida piada com o assistente de Lee que usa um creme para disfunção erétil e é tratado pela diretora como um apêndice, quase uma vingança por tantas mulheres serem tratadas como objeto.
O mercado financeiro ainda é uma cicatriz, visto que esse é o segundo grande filme a tratar do tema em menos de um ano. Sem fazer comparações, Foster traz a situação para um plano mais humano, sintetizando em Kyle (O’Connell) frustações comuns de quem não aguenta mais ser empurrado para baixo, o que nos faz lembrar do protagonista de Um Dia de Fúria (Falling Down, 1993, Dir Joel Schumacher). Apesar dessa relação, ambos homens desesperados pensando como vão criar seus filhos, a diretora subverte uma questão que seria piegas quando a namorada de Kyle aparece na negociação. Vem de maneira tão surpreendente e quebra a audiência, mesmo que provoque algumas risadas, apenas para afirmar que aquilo não é TV – onde a jovem está – mas sim a vida real.
A produção é tensa praticamente desde quando Kyle aparece armado no estúdio de Patty e Lee até a conclusão, quando uma multidão começa a acompanhar os dois que estão do lado do fora. Dessa vez, do jornalismo onde o cérebro, ou melhor, Patty, tem que coordenador cada um dos seus membros para sair com vida daquela situação. Se o primeiro ato há uma afirmação do desproposito que é o circo que eles participam, o segundo e o terceiro vem como redenção da profissão. O que não quer que a diretora dizer e o trio de roteiristas e tenham muita fé no espírito humano, pois no primeiro plano feito do lado de fora começam os gritos, as fotos e as sefies – essa geração que precisa registrar tudo e que precisa ouvir um tiro para perceber que não é brincadeira.
A diretora quebra outros clichês como a da amante que é só um rosto bonito com a COO Diane Lester (Balfe), que dá o cara a tapa quando o problema da empresa em que trabalha afeta Kyle e tantos outros. Subestimada pelo chefe, que acha que pode cuidar dela quase como um bicho de estimação, trazendo chocolates e dando beijos que estaria tudo bem, ela enrola com muita facilidade o empresário. Em geral, no filme os homens são belos panacas – o que dá o ar de comédia para quebrar um pouco da tensão –, enquanto as mulheres são fortes, inteligentes e determinadas. Só isso pode ser o suficiente para muita gente detratar a inteligente produção.
Ao criticar a sociedade como um todo – mercado financeiro, a mídia, o sensacionalismo e a geração imediatista – Foster faz um terrível retrato da nossa história. Por mais ficcional que seja, é impossível não olhar para nós mesmos e perceber o quanto Jogo do Dinheiro tem paralelos com a realidade. É uma produção eficiente, tensa e que não perde o ritmo, além de ter atuações não menos que apaixonantes e com uma incrível sinergia entre Julia Roberts e George Clooney. E se havia alguma dúvida se deveríamos seguir o trabalho de Jodie Foster como diretora, algo que ela faz pouco, acabou nesse filme.
Sinopse oficial
“No suspense Jogo do Dinheiro, Lee Gates (Clooney) é uma personalidade bombástica de TV que foi transformado no mago do dinheiro de Wall Street graças ao sucesso de seu programa financeiro. Mas depois de recomendar as ações de uma empresa de tecnologia que misteriosamente entram em colapso; um irado investidor (O’Connell) toma como reféns Gates, sua equipe e sua astuta produtora Patty Fenn (Roberts) durante uma transmissão ao vivo. Com os desdobramentos transmitidos em tempo real, Gates e Fenn precisam encontrar uma maneira de se manterem vivos enquanto buscam desvendar a verdade por trás de um emaranhado de mentiras e muito dinheiro.”