Homem-Aranha: De Volta Ao Lar | Crítica | Spider-Man: Homecoming, 2017, EUA
Homem-Aranha: De Volta ao Lar é o filme mais divertido do Universo Cinemático Marvel e a segunda melhor adaptação do amigão da vizinhança.
Elenco: Tom Holland, Michael Keaton, Jon Favreau, Zendaya, Donald Glover, Tyne Daly, Marisa Tomei, Robert Downey Jr. | Roteiro: Jonathan Goldstein, John Francis Daley, Jon Watts, Christopher Ford, Chris McKenna, Erik Sommers | Direção: Jon Watts (Clown) | Duração: 133 minutos | Cena Extra
O melhor jeito de definir o novo filme do cabeça-de-teia vem do seu subtítulo. Homem-Aranha: De Volta Ao Lar é tão reconfortante quanto estar de volta para o lugar que você chama de casa depois de uma longa viagem. Por mais experiências que elas tenham lhe dado, é no seu aconchego que você merece estar. É um sentimento que a Marvel Studio se comprometeu para satisfazer os fãs do personagem, e eles se sentirão recompensados. Entre ação e aventura, há um personagem relativamente novo para o Universo Cinemático Marvel, mas ao mesmo tempo familiar para quem o acompanha há algum tempo – sem se esquecer daqueles que aprenderam a gostar desse mundo de heróis lá em 2008.
Apesar desse ser o primeiro filme solo do personagem, o roteiro leva em conta que esse é um personagem conhecido inclusive no cinema – sendo essa a terceira encarnação na mídia – e deixa para lá a fórmula do filme-origem. Ou seja, diferente de tantos outros, esse não é uma Homem-Aranha Begins, que o já diferencia. Ele é um filme de mais um dia na vida do Homem-Aranha/Peter Parker (Holland), numa experiência tão pessoal que o prólogo é quase um mockumentary. A brincadeira dura pouco, como se Peter fosse tirado de um sonho louco, onde ele roubou o escudo do Capitão América (Evans), e é trazido para a realidade quando o Homem de Ferro/Tony Stark (Downey Jr) diz que pode precisar dele no futuro – aí a filmagem torna-se tradicional mais uma vez.
Depois desse segundo prólogo – um pequeno demérito do filme, pois já havia sido precedido por um de Adrian Toomes (Keaton) contando a origem do vilão e de alguns detalhes pós-invasão dos Chitauri em Os Vingadores (The Avengers, 2012, Joss Whedon) – o que era excitação se torna lentidão, nitidamente sentida no ritmo dos próximo minutos e na fotografia que ganha tons mais cinzas. Percebemos nessa aproximação mais real do UCM que nem sempre existe um robô ciente tentando dominar o mundo. Um dos grandes acertos dessa história é passar por meio de imagens como um jovem de 15 anos viu tanto pode voltar à normalidade do subúrbio no Queens. Então, cada olhada no relógio de Peter faz sentido e cada ligação para Happy (Favreau) é justificada.
Passando muito por cima a suas origens, com Peter apenas mencionando para o amigo Ned Leeds (Batalon) que foi picado por uma aranha radiotiva, sem citar um Tio Ben ou a frase das responsabilidades, há bem mais espaço para desenvolver Peter como o que ele realmente é: um adolescente. Com superpoderes. Aí reside a graça do filme. Seja pela distração e descuido do protagonista que entrega a identidade secreta de lambuja para Ned ou tão empolgado pela adrenalina da perseguição que, às vezes, não percebe que não existe lugares para atirar suas teias. Em geral, a inexperiência de Peter é manifesta na maioria das suas ações – compensada pela sua força de vontade.
É até difícil acreditar que um roteiro tão coeso tenha vindo de tanta gente – seis pessoas entre argumentistas e roteiristas – o que só reforça o poder de Kevin Feige com produtor. Desde a já citada opção de entrar na aventura em desfavor ao estilo origens, como atualizar a vida de Peter para um cenário onde ele é pupilo de Tony Stark e um gênio, merecendo assim estar numa escola melhor – sem deixar de lado a questão do bullying, que continua atual. Visualmente existem destaque e um cuidado visual desde as pequenas coisas até às grandes. Por exemplo, quando Ned é convencido por Peter a hackear o uniforme tecnológico, há um pequeno adesivo no laptop do “This is fine” – uma referência que pouca gente vai pegar.
E os grandes, como toda a diferença que os olhos fazem, algo que já vimos em Capitão América: Guerra Civil (Captain America: Civil War, 2016, Anthony e Joe Russo). Para quem conhece um pouco dos quadrinhos, sabe que os olhos do personagem refletem o que ele está passando e sentido – algo bem comum dos mangás – e transportarem isso de uma maneira tecnológica para o universo dos filmes deu aquele toque de identificação com a audiência que faltava ao personagem nas outras aparições. Watts brinca também com o destino de salvador que ele e outros heróis partilham na cena em que o Homem-Aranha tenta unir duas metades de uma balsa com os braços (que também é uma homenagem ao segundo filme com Tobey Maguire), emulando a figura de Cristo crucificado, onde ele realmente estava disposto a dar a própria vida para salvar a de outros.
O que não quer dizer que o que temos aqui é um herói perfeito. Ao contrário, o Homem-Aranha desse filme é um personagem em construção que ainda precisa da tutoria do Homem de Ferro, o que deve agradar quem sempre perguntava o que diabos os outros Vingadores estariam fazendo para não ajudar os colegas. Tony é quase uma figura paterna, pelo menos tão paterno quanto Tony pode ser, e a sinergia entre os dois personagens, numa escala onde já conhecemos o jeito canastrão de um e ainda estamos nos acostumando com o mais puro do outro, é mais um elemento que nos afeiçoamos nesse novo-velho personagem.
É injusto dizer que o Aranha nunca foi bem retratado nas telas do cinema, mas Homem-Aranha: De Volta Ao Lar é a melhor encarnação do personagem em anos. E isso acontece por ser um filme tão humano, tão íntimo e tão Peter Parker de ser. Há uma frase de Tony Stark estampada também no trailer, como um substitutivo àquela clássica, que diz “se você precisa do uniforme, você não deveria tê-lo“. Então não é só um filme de heróis; é um filme sobre uma pessoa que até ontem era como nós e que agora é um pouco mais, mas sem deixar o espírito da vizinhança sair dele. Diferente de deuses, semideuses, multimilionários que podem comprar um país ou gigantes radioativos, o Homem-Aranha é o mais próximo daquela audiência sentada no escuro e acompanhando as suas aventuras.
Homem-Aranha: De Volta Ao Lar | Trailer
Homem-Aranha: De Volta Ao Lar | Pôster
Homem-Aranha: De Volta Ao Lar | Galeria
Homem-Aranha: De Volta Ao Lar | Sinopse
Depois dos eventos da Guerra Civil, Peter Parker (Holland) só quer ser mais útil para o mundo dos super-heróis. Mas ser um num mundo que nem sempre precisa de super-seres pode ser frustrante para um garoto de quinze anos. Mesmo assim, chegará a hora que o Homem-Aranha precisará provar seu valor.
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