Histórias Assustadoras Para Contar no Escuro | Crítica | Scary Stories to Tell in the Dark, 2019
Ao ficar mais na estética do que na história, Histórias Assustadoras Para Contar no Escuro se perde no caminho da homenagem ao gênero do terror.
Antologias de histórias de terror não são nenhuma novidade no mundo do cinema, nem mesmo da literatura. E o que Histórias Assustadoras Para Contar no Escuro se presta é fazer uma homenagem a esse mundo, uma atitude nobre, mas que mostra sem força para sair do chão. E pelo clima que vemos nos primeiros minutos, fica claro que Øvredal fez a lição de casa, mas a intenção fica ali na primeira camada do estético. Existe um quê de novidade quando essa antologia faz parte do universo do filme, ao invés de ser só uma história que um narrador não-participante nos conta. Além disso, são os sustos de sempre comuns, mesmo que se louve a intenção de trazer uma nova geração para o gênero.
O bom terror sempre tem um porquê, e isso é referenciado no filme de Øvredal a cada pôster no quarto de Stella (Colleti) ou nas projeções de A Noite dos Mortos Vivos (Night of the Living Dead, 1968, George Romero). Isso não quer dizer que o diretor queira copiar Romero, apenas fica clara a inspiração – mas o diretor e roteiro parecem muito inseguros. Entre elementos comuns dos filmes – fantasmas, teias de aranha e outros seres sobrenaturais – a história não quer apenas referenciar o ano de 1968 como um ano péssimo, mas ele precisa mostrar nas televisões que a eleição de Nixon foi um ponto de virada para coisas terríveis a cada 20 minutos de projeção.
Com uma narrativa menos firme, o diretor apela para a já mencionada estética. Algumas que pegamos de cara, como os elementos de filmes dos anos 1950, outras que demoram, como a decisão de Øvredal mostrar muitas vezes a câmera filmando de baixo para cima. Essa decisão é, em parte, para causar um incômodo, mas é só quando percebe-se que essa é a visão de como se o filme estivesse sendo lido como um livro é que se entende a intenção. Existe também pequenos e rápidos detalhes de como a vida de Stella é mais complicada que parece – em especial, a rápida cena, que dura quase nada, onde vemos uma navalha e depois a personagem fazendo um desenho de corte no pescoço.
Isso faz o começo do filme ser a parte mais interessante, onde esses elementos, junto com a questão da homenagem, criam um clima para querermos conhecer mais da história da família Bellows. E é justo mencionar o bom trabalho da fotografia em praticamente todo o filme, onde Roman Osin nos coloca na penumbra, dando o verdadeiro clima de estar num lugar mal iluminado e com um grupo de jovens nada preparados para essa aventura que é visitar uma casa mal-assombrada. Eventualmente, a fotografia serve também para separar os momentos históricos da trama, sem parecer um flashback barato, mas algo fluido.
Ao mesmo tempo, a trama cai no lugar comum com os sustos fáceis, a música ininterrupta e a série de conveniências como a do xerife da cidade resolve não chamar o pai de Stella, uma menor de idade, para busca-la na delegacia por nenhum motivo além de dizer que, sendo da força policial e um apoiador de Nixon, seria um cretino. É mais crível ele perseguir Ramón (Garza) pela cor da pelo do que essa sequência toda, que poderia até ganhar tons mais dramáticos. O roteiro, também com tanta gente envolvida, se deixa levar com armadilhas, como repetir as coisas que vemos sendo escritas, literalmente.
Até a fotografia, elogiada inicialmente, acaba encontrando problemas. Quando Chuck (Zajur) enfrente o seu desafio, o trabalho de Osin deixa aquela sutiliza das sombras, fugindo do ar insólito e de não entender direito o que está acontecendo, para mostrar demais. Poderia ser só um deslize, mas é um exemplo dos variados que acontecem na trama e que vão diminuindo a qualidade da produção. É bom ver como Stella age como uma pessoa inteligente e, por ter lido tantas histórias de terror, se mostra sensata ao devolver o objeto da maldição que liberou um mal como se tivesse aberto as tumbas do faraó. E, sendo realistas, os personagens agem sabendo que estão numa pior.
Então, a história funciona melhor nesses momentos inteligentes, falando tanto de personagens quanto de elementos da trama. Mas tudo fica no quase – quase assustam, quase impressionam e quase saímos satisfeitos. Por exemplo, quando os personagens tentam fazer as coisas mais óbvias, como aprenderam nos filmes, eles se separam, uma das regras do que não se fazer num filme de terror. A estrutura do sobrenatural não é incomum ao menos para Stella e Ramón, e seria deles o dever de apontar o óbvio para os não-crentes– e de novo no quase, pois ora decidem fazer isso, ora não.
Eventualmente, o posicionamento da história para dizer que Nixon era ruim chega ao exagero quando vemos na casa de uma personagem secundária uma foto de Kennedy e outra de Luther King. A vontade é de dizer para o diretor que já entendemos a mensagem, que a Guerra do Vietnã foi um erro, e que ele precisa contar a história e deixar de lado a mensagem tão direta. No fim das contas, temos que nos contentar com alguns momentos espirituosos, como perceber a brincadeira que “red room” parece foneticamente com “redrum”, a união de um quarteto de párias que lembra D’artagnan e os outros mosqueteiros, e os momentos em que o diretor permite que o clima seja dado mais pelo que estamos vendo e corta a música – uma cena bem interessante que acontece num quarto iluminado.
E fechando com o grande mal hollywoodiano, pensando mais em ser uma franquia do que se resolver em si mesmo, Histórias Assustadoras Para Contar no Escuro deixa um gosto de que poderia ir além, mas morre antes da linha de chegada como um personagem secundário. Em determinados momentos, a trama se mostra arrastada e considerando que o público-alvo são os mais jovens, isso é um grande erro. E, pensando nesse alvo, podemos até pensar como a fotografia funciona para isso, pois ao dar mais escuridão, tanto o sangue quanto a violência são amenizadas. Por um lado, isso abre a possibilidade de uma classificação etária mais abrangente, mas perde quando se busca o terror. E é nessa massa disforme que a história corre, deixando um perigo de não agradar nenhum dos públicos.
Elenco
Zoe Colletti
Michael Garza
Gabriel Rush
Austin Abrams
Dean Norris
Gil Bellows
Lorraine Toussaint
Direção
André Øvredal
Roteiro
Dan Hageman
Kevin Hageman
Argumento
Guillermo del Toro
Patrick Melton
Marcus Dunstan
Baseado em
Scary Stories to Tell in the Dark (Alvin Schwartz)
Fotografia
Roman Osin
Trilha Sonora
Marco Beltrami
Anna Drubich
Montagem
Patrick Larsgaard
País
Estados Unidos
Distribuição
Lionsgate
Diamond Filmes (Brasil)
Duração
108 minutos
Data de estreia
08/ago/2019
É noite de Halloween e um grupo de amigos resolvem visitar uma casa que, de acordo com a lenda local, foi palco de várias mortes. E por isso, eles liberam um mal que vai persegui-los um a um. A não ser que descubram como quebrar a maldição.
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