Han Solo: Uma História Star Wars | Crítica | Solo: A Star Wars Story
Han Solo: Uma História Star Wars é a mais genérica encarnação da franquia iniciada em 1977, com poucos momentos de brilho, apostando apenas no quesito aventura.
Pegar um personagem amado, que teve outras encarnações literárias e transportá-lo para as telas do cinema é uma faca de dois gumes, e muitas oportunidades foram desperdiçadas em Han Solo: Uma História Star Wars. Isso significa que se procura uma aventura direta, descompromissada, com atos de bravura e heroísmo, você encontra nesse novo filme de Ron Howard. Porém, Star Wars já viu isso outras vezes e de maneira melhor trabalhada. O resultado é uma aventura praticamente despida de personalidade, genérica ao ponto de poder ser replicada em outros personagens, mesmo dando os devidos créditos aos secundários, ótimos efeitos especiais e detalhes técnicos – o mínimo que esperamos de uma franquia Star Wars – além daquela já esperada dose de nostalgia.
É curioso notar que a trama escrita por Kasdan pai e Kasdan filho é a síntese do que as “Histórias Star Wars” querem: ligar o presente e o passado. Os dois colocam Han (Ehrenreich) em posições difíceis, um jovem que teve que lidar com a escória e o submundo desde a juventude. E aqui submundo não poderia ser mais claro, considerando que os seres alienígenas que o protagonista serve vivem como vampiros, isolados da luz. Esse é o ponto mais forte do roteiro, algo que vai embalar a parte mais genérica da história. É um tipo de fábula social, onde Han e Qi’ra (Clarke), por causa de sua condição de pobreza, fazem de tudo para sobreviver.
O que acontece é que o personagem consegue se adaptar: das ruas para o Império, do Império para o contrabando e do contrabando para a rebelião, na saga clássica. Nas suas doses de cinismo, esse é um Han que conhecemos pelos diálogos e que sempre acha um jeito de safar: e aí reside um dos problemas dessa e, bem da verdade, qualquer prequela. Não importa a situação desesperada, por mais suja que ela seja – de novo acontece literalmente – sabemos que tanto Han quanto Chewbacca (Suotamo) e Lando (Glover) sairão ilesos. No máximo, a missão deles será atrasada por esses entraves, o que deixaria para os outros personagens espaço para brilhar.
Para lembrar que esses são momentos de guerra civil, da introdução somos jogados ao cenário da guerra, algo que já havíamos visto em Rogue One (2016, Dir Gareth Edwards), mas dessa vez do outro lado. E sem essa de humanizar o Império: Han e seus companheiros são jogados na lama, seguem um plano sem um objetivo claro, com uma visão falsa de paz – pela prosperidade na galáxia, diz um tenente. Mais uma vez, Han não segue os padrões e vê em Beckett (Harrelson) uma nova chance de mudar seu rumo – e percebam como ele e seus infiltrados se movimentam em direção contrária às tropas imperiais, fisicamente falando. E assim como Luke encontrou Yoda num lamaçal, Star Wars faz auto referência, com o nosso querido contrabandista conhecendo seu mentor em outro lugar de aparência nada agradável.
Depois de uma interessante introdução, a história cai no modo genérico mencionado, beirando o preguiçoso. Para dinamizar a trama, os Kasdan incluem uma enorme coincidência, mesmo se tratando de um filme com ares juvenis, ao colocar Han e Qi’ra no mesmo lugar, anos depois de se separarem, num lugar que o primeiro chegou apenas por sorte, o que nos deixa uma dúvida de quanto é grande esse universo – a não ser que levemos em conta as palavras de Obi-Wan em Uma Nova Esperança (A New Hope, 1977, Dir George Lucas) e acreditarmos que sorte é algo que não existe e que a Força (que pela primeira vez não é citada num filme Star Wars) trabalha em caminhos misteriosos.
Até a questão de representação de personagens cai em clichês, o que piora quando lembramos como o caminho de Han foi construído inclusive pelo seu visual: se é bem interessante que ao fugir da perseguição no início, o contrabandista se disfarce como um Darth Vader tosco com uma capa e um gorro, o mesmo cuidado não é dado a Dryden Vos (Bettany) que é carrega o estigma de ser o cara bonito, mas cheio de cicatrizes – podemos dizer que, na verdade, aquelas são marcas características da raça não-definida do personagem, mas o resultado final é esse. O curioso é a surpresa do visual revelado de Enfys Nest (Kellyman), que se porta como um pirata e esconde o rosto por um motivo que vem de necessidade de ser uma fora da lei ao invés de ser um novo (ou velho) Kylo Ren.
Isso indica que esse é um roteiro sanduíche, com Kasdan pai tratando das camadas e Kasdan filho ficando com o recheio. Assim, o mais velho abre o caminho para o mais novo desenvolver o filme, e volta para fechar pontas e colocar elementos mais interessantes. Então, a partir da nova vida de Han e Chewie, a história dá uma vertiginosa queda, entrando no território do comum, com aquelas situações típicas de uma aventura feita para os mais jovens, onde mesmo a presença de monstros e mais louca ou impossível que a situação seja, tudo sairá bem para os nossos heróis. O final, com um confronto arenoso, lembra um western, mais velho, e corrige uma falha de George Lucas.
Porém, algo que funciona é o desenvolvimento de Qi’ra. A noiva/conselheira/escrava de Dryden (notem que ela é marcada como gado) e mestre em Teräs Käsi, se esconde pela fachada de sua beleza, mas a influência que a personagem tem trespassa essa característica. O roteiro, pelo menos nessa parte, consegue esconder por não focar tanto nela, essa característica similar à de Han, a de uma sobrevivente e que precisou fazer o necessário, inclusive fazer uma aliança com um improvável personagem – ainda que essa aparição sirva mais para colocar o filme num certo ponto da cronologia e manter o cânone do universo – e assim, Qi’ra supera as nossas expectativas e não é transformada na donzela em perigo.
Durante a projeção, não pude deixar de lembrar de um momento de Os Simpsons: no episódio Homer no Espaço (Deep Space Homer, s15e15, 1994), Lisa pede aos céus para que Homer saia vivo da missão e nisso o vovô Abe Simpson diz “claro que vai dar certo, é televisão”. É isso que Han Solo: Uma História Star Wars é – um episódio de televisão, mas com orçamento de cinema. Bem feito, mas num formato engessado e pouco espaço para ousadias, com exceção por L3-37 (Waller-Bridge) que luta pelos direitos dos dróides cientes. A história mostra a influência que o mais jovem Kasdan trouxe da pequena tela (ele é escritor de séries como Dawson’s Creek e da fantástica Freaks and Geeks). Existem outras histórias de Han para serem contadas – o fim dessa até abre espaço para uma franquia paralela – mas essa foi a menos interessante delas.
Elenco
Alden Ehrenreich
Woody Harrelson
Emilia Clarke
Donald Glover
Thandie Newton
Phoebe Waller-Bridge
Joonas Suotamo
Paul Bettany
Direção
Ron Howard (Inferno)
Roteiro
Jonathan Kasdan
Lawrence Kasdan
Fotografia
Bradford Young
Trilha Sonora
John Powell
John Williams (Temas de Han Solo e do original Star Wars)
Montagem
Pietro Scalia
País
Estados Unidos
Distribuição
Walt Disney Studios Motion Pictures
Duração
135 minutos
Antes de fazer parte da aliança rebelde, Han era um jovem ladrão e também fez parte do Império. Não querendo fazer parte de nada disso, ele se alia a um contrabandista para poder salvar Qi’ra, a mulher que ele foi forçado a deixar para trás.
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