Gonzaga – de Pai pra Filho | Crítica | 2012, Brasil
Gonzaga – De Pai Pra Filho vai além da imagem do Rei do Baião, mostrando que feridas podem ser curadas.
Com Júlio Andrade, Adélio Lima, Nanda Costa, Roberta Gualda, Claudio Joborandy e Domingos Montagner. Roteirizado por Patricia Andrade e Maria Hernandez. Dirigido por Breno Silveira (Dois Filhos de Francisco).
Enquanto assistia Gonzaga – De Pai Pra Filho pensava muito no meu pai e nos meus avós. É impressionante quando uma cinebiografia te cativa tanto, mesmo que você não conheça muito bem os personagens. No meu caso, nem sou apreciador do baião, nem de seu representante maior que é Luiz Gonzaga, e nem mesmo de seu filho, Gonzaginha. Mas Silveira, Andrade e Hernandez nos trazem um filme emocionante por ir além da imagem de “Rei do Baião”, e mostram um história de superação e redenção. Definitivamente, um dos melhores filmes do ano.
Inspirado livremente na biografia “Gonzaguinha e Gonzagão, Uma História Brasileira” vemos no filme um Gonzaguinha (Andrade) já famoso, mas perseguido pela presença herdada do pai, mesmo sem fazer o mesmo estilo de música, com Silveira mostrando uma “lembrança” de Gonzaguinha, vendo o pai de costas, reluzindo e cantando para um grande público. De volta ao presente, o filho do rei do baião se esconde em seu camarim, um ambiente pesado (que o diretor faz ficar pesado ao focar uma garrafa de whisky na mesa). Quando a atual mulher de Gonzaga (Lima) vai até o enteado para pedir que o filho ajude o pai, Gonzaguinha parte para Exu, cidadezinha onde a presença de Gonzaga é constante: nome de praças, estátuas, e até a casa do músico é pintada com o nome dele. Para tentar se reaproximar do filho muitas vezes rejeitado (“Sou filho do Luiz Gonzaga. Tá aqui, ó”, diz Gonzaguinha apontando para o RG), Gonzaga começa a contar um pouco da própria história para que o filho o conheça de verdade. O que o leva a gravar a conversa, para não perder nada do que o pai fala, especialmente da história com a mãe.
Contando com vários flashbacks, Gonzaga fala de um antigo amor, tanto com a personagem Nezinha (Dassi) e com o acordeom, como teve que fugir de Exu por causa da ameaça do pai da moça, um coronel da cidade, o preconceito por ser mulato, e tudo mais que o fez a chegar em Fortaleza em 1929 e se alistar no Exército. Silveira dá um jeito de criticar a instituição, como tinha feito em “Dois Filhos de Francisco”, mas é esperado. A frase do pai de Gonzaga, Seu Januário (Jaborandy), que diz que não queria ver o filho a “sair pelo mundo matando gente” me parece forçada demais para uma pessoa tão humilde. Depois, Gonzaga quase participa da Revolução de 1932, e dá um jeito muito esperto de não matar ninguém, como tinha prometido ao pai, e achar seu lugar como corneteiro na tropa. Ao dar baixa, Gonzaga vai morar no Rio de Janeiro, em 1939, onde começa a tentar a ganhar a vida na carreira musical. Gonzaga se mostra influenciado por outros estilos, ao ponto de se esquecer como se toca o baião que gostava tanto. O diretor tem muita competência ao mostrar a “queda” de Gonzaga, perdendo a alegria de tocar. A fotografia acompanha as notas musicais tristes do fado e do bolero ao ponto que o nordestino percebe que não é isso que vai lhe dar dinheiro nem felicidade. Só quando Gonzaga “lembra”de como tocar o baião, a fotografia fica cálida novamente. O filme também mescla cenas de arquivo para dar um ar de veracidade aos acontecimentos, para provar para quem não conhece a história de que pelo menos uma parte dela é verdade. Gonzaga continua falando de seus amores, de seu jeito “troncho” e de como resolveu buscar suas raízes mais uma vez para poder criar mais e melhores músicas (e junto um dos maiores sucessos de sua carreira: “Asa Branca”). Mas o diretor teve sensibilidade para mostrar também como o abandono fez mal para Gonzaguinha, que no momento das gravações questiona com muita raiva as decisões do pai, tratado como alguém de pouca visão e egocêntrico. Determinado o ponto ele diz ao filho “nunca te faltou nada”, ao que ele responde “só faltou você”.
Permeado por momentos emocionantes, doces e ainda outros de raiva, “Gonzaga – De pai pra filho” é um grande exemplo da boa fase que o cinema brasileiro passa. Com a competente fotografia de Adrian Teijido (que já tinha trabalhado no excelente O Palhaço), os responsáveis nos trazem uma história muito sensível, de uma parte frequentemente esquecida do Brasil. As caracterizações dos personagens principais também está ótima. Parece mesmo que estamos vendo Gonzaga e Gonzaguinha na tela. E é uma bela homenagem à um dos maiores personagens da música popular brasileira.
Gonzaga – de Pai pra Filho | Trailer
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