Frances Ha | Crítica | Frances Ha, 2013, EUA
Frances Ha é um daqueles sopros de criatividade no cinema, com uma protagonista pouco convencional e apaixonante, sem deixar de aprofundar nos personagens secundários.
Com Greta Gerwig, Mickey Sumner, Charlotte d’Amboise, Adam Driver, Michael Esper, Grace Gummer e Patrick Heusinger. Roteirizado por Noah Baumbach e Greta Gerwig. Dirigido por Noah Baumbach (A Lula e a Baleia).
Frances Ha é um sopro de criatividade. Noah Baumbach mostra que é um diretor terno, e foge de padrão ao apresentar um roteiro – assinado também por Greta Gerwig – com uma protagonista nada convencional, mas apaixonante, e uma miríade de personagens secundários profundos. E faz isso tecnicamente também, ao apostar na fotografia Preto e Branco. O que temos é um recorte da vida. Os dramas se misturam com risos, e enfrentamos um desafio de cada vez. Vale muito a pena acompanhar parte da história desta interessante mulher.
Frances (Gerwing) é uma dançarina que divide um apartamento com a melhor amiga, Sophie (Summer). As duas estão bem acostumadas uma com a outra, e se rotulam como um casal de velhas lésbicas – apesar de não serem. Mas Sophie quer se mudar para um bairro melhor e mais caro, e deixa Frances perdida. Agora ela tem que se ajustar à essa nova realidade, sem saber exatamente como fazer isso.
É divertido ver a relação entre Frances e Sophie nos primeiros momentos do filme. Mesmo numa sucessão planos curtos, o diretor traz à tona várias características das duas amigas. Apesar da diferença de personalidades, representada por cada uma ocupar janelas diferentes do apartamento, elas compartilham sonhos. No fim dessa sequência, elas estão na cama assistindo um filme, e Sophie pede que Frances fique, desde que ela tire as meias. As duas já se sentem tão íntimas que podem fazer esses pedidos esdrúxulos. E vai passar pela sua cabeça que elas são namoradas. Mas o comprometimento delas não é assim, por isso que é difícil entender que Sophie queira se mudar. E é pior por sabermos que Frances teve a mesma oportunidade, quando o namorado a convidou para se mudar para casa dele. A lealdade da dançarina é contagiante, e machuca quando vemos que ela perdeu o chão por causa da situação.
Eu gostaria muito de conhecer melhor Nova York – em segundo plano, o filme é uma exploração da cidade – porque cada vez que a legenda mostra um novo endereço de Frances, a impressão é que ela está descendo de qualidade de vida. Reforçando essa visão, a personagem é filmada se deslocando da esquerda para a direita da tela em vários momentos. Ao descer, por assim dizer, Frances tem que lidar com mais dureza alguns problemas da cidade grande, como o custo de vida e o aluguel.
Frances não é a personagem feminina típica. Notem que Lev (Driver) cumprimenta Sophie com um beijo, e depois a colega de quarto com um high five. Frances também é desleixada, ao ponto de dar a desculpa que ela não tem tempo de arrumar suas coisas por ser ocupada demais. Ela também é deselegante no figurino – sempre usando os mesmos motivos florais – e tem uma relação nervosa com a comida. Todos essas características, que no clichê seriam atribuídas à um homem, é um dos motivos dela ser tão tridimensional. E o que Baumbach e Gerwig fizeram muito bem foi mimetizar situações que muitos de nós passamos, fazendo Frances ser, antes de tudo, humana.
Dentro desse universo que mistura insegurança, desejos, mentiras e até um pouco de imaturidade, Frances Ha é um filme apaixonante. A personagem-título não tem medo de arriscar, está sempre correndo, improvisando pequenos passos de dança enquanto se desloca – a cena dela andando pelas ruas de Manhattan ao som de “Modern Love” de David Bowie ao fundo é linda demais. A decisão de filmar em PB e a ausência de trilha sonora, a não ser entreatos, faz parte da visão da realística e quase documental do diretor: romântica, rica, depressiva, mas nunca monótona. Assistir essa coprodução Brasil-Estados Unidos é como ser conduzido em uma dança. Não tenha medo de se deixar levar. O baile vai valer a pena.
Frances Ha | Trailer
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