Dumbo | Crítica | Dumbo, 2019
Fazendo uma atualização necessárias para o nosso tempo, Dumbo é tanto doce quanto melancólico e um remake que vale a pena visitar.
Apenas em conta de fadas como em Dumbo podemos ser levados de maneira tão inocente por uma narrativa, numa história que de tão mágica parecia completa em sua primeira encarnação. Apesar de navegar pela nostalgia poder ser um problema, Tim Burton pegou um clássico absoluto e o atualizou de maneira necessária para os nossos tempos, sem deixar de lado a própria assinatura. A cada voo do personagem, bate no peito uma emoção e passa um arrepio pelo corpo e acreditamos que realmente um elefante pode voar. Apresentando tanto doçura quanto melancolia, esse é um daqueles remakes que valem a pena visitar sem medo de ser apenas uma cópia do original, apostando não só na lembrança, mas também com alguma novidade.
Sabendo ser impossível desassociar o original da nossa versão, Burton monta um clima diferente para se afastar o máximo possível da versão de 1941. Então, os ratos de antes estão ali só como elo entre uma produção e outra e quem liberta o potencial de Dumbo são outros pequenos: as crianças. Milly (Parker) junto do irmão Finley (Hobbins) fazem a conexão entre filme e plateia e lembram que ser curioso e sempre se fazer perguntas é algo necessário para o ser humano. Isso e viver num mundo sem julgamentos.
O mundo triste, que ainda vive o fim da primeira grande Guerra, entra em contraste com o trem da trupe de Max (DeVito) que chega com um sorriso estampado na frente da máquina. Sendo um típico filme de Burton, o diretor mostra sua dose de tristeza com a máquina que vemos em seguida, uma que traz de volta o pai das crianças. Holt (Farrell), mutilado na guerra e na vida pela perda da esposa, volta para seus filhos num período onde a magia parece estar sumindo. E o nascimento de Dumbo, antes visto como um peso, tem que ser revelado pelos mais jovens como um milagre.
Os adultos não enxergam o potencial do bebê elefante por estarem presos na praticidade. Sendo gente com responsabilidade com outros – Max com os circenses e Holt com seus filhos – eles só acreditam no que seus olhos vêem. E mesmo vendendo ilusões, coisa do próprio circo, eles falham em entender aquele pequeno milagre, mesmo dentro de um mundo onde os párias seriam aceitos. Dumbo é diferente, mas Holt também é por não ter um dos braços e seu caminho também será de aprendizagem.
O que incomoda um pouco o espectador é que a história se alonga demais por tentar ser didática ao extremo. Mesmo sendo um filme para crianças, algumas explicações nos diálogos são desnecessárias: Milly explicando os sentimentos de Dumbo, que uma buzina não era sua mãe ou que o personagem estava seguindo para um determinado lugar sendo que acabamos de ver alguém importante ali são alguns exemplos que travam a narrativa. É bem possível se encontrar olhando o relógio e perceber que a produção, com quase o dobro de duração do original, tem seus momentos de marasmo. Alguns cortes na sala de edição resolveriam esses quinze minutos de excesso.
Em contrapartida, apesar de ser uma história infantil, a bruma de tristeza não deixa a história até dia conclusão. Burton já está acostumado em mostrar nas suas histórias essas nuances do nosso mundo, um lugar que tem muita gente boa, mas que também tem sua dose de maldade. Pode ser uma pura simples ou uma mais sofisticada encarnada por Vandevere (Keaton), num jeito Rockefeller de ser. Esse empresário prefere ter tudo para si ao invés de conviver com o resto do mundo, uma obsessão por controle que se estende não apenas por dinheiro, mas também por pessoas.
Nessa parte mais sutil do roteiro é que se encontra Colette (Green), assim como o próprio Max, alguém que Vandevere acredita possa comprar. Mas a acrobata não está presa ao chão e mesmo começando com o pé esquerdo na relação com Holt, nos comparecemos da personagem quando ela respeita Dumbo e acredita nas duas crianças. É verdade que essa transição se dá muito rapidamente no filme, mostrando que a história precisa ser concluída é que o tempo exagerado de explicações anteriores vai cobrar seu preço. Esse é o pulo mais claro da narrativa, pois diferente da relação de Dumbo com Milly e Finley, não conseguimos criar uma conexão com a francesa.
É divertido perceber algumas críticas sociais na história. A primeira de não negar o diferente apenas por ser assim é a mais óbvia, mas há outros momentos que completam o filme, como o único personagem negro da trupe de Max trabalhar quase como um escravo, tendo várias tarefas no circo. A outra vem do fato de enjaularmos animais para o nosso entretenimento, algo que não é tão difícil de se encontrar olhando por aí. Essa mensagem é particularmente importante para crianças e uma mudança necessária em relação a história original.
Por isso que o elemento humano é tão importante. Ao invés de fazer uma história de fábula com ratos e pássaros falantes, Burton coloca pessoas interagindo para que possamos nos identificar com aquele cenário. Deixando o passado na animação original, esse filme trata desses temas os abordando de maneira divertida, doce e também séria, onde o diretor mostra que é possível confiar no bom senso de seu público-alvo – ou, se forem muito novos, podemos deixar essa missão nas mãos dos pais que tem a tarefa de guiar seus filhos. Assim como os personagens secundários da história se unem para um bem maior, existe depois da sessão uma necessidade de nos posicionar e unir para fazer o que é certo.
Assistir Dumbo voando é emocionante, e esse filme mostra que é possível recontar velhas histórias sem ficar preso a elas como se tais clássicos fossem intocáveis. Uma das partes mais importantes de pertencer a raça humana é aprender com o passado. O Dumbo original continua existindo para quem quiser visitá-lo, mas é recomendável ver como o tempo faz bem para a nossa sociedade. Se fosse para contar de novo a história apenas com uma lustrada de modernização por causa dos aspectos técnicos, a nova versão não seria tão relevante. Felizmente, Burton mostrou que outro caminho é possível, mesmo com o peso enorme da nostalgia.
Elenco
Colin Farrell
Michael Keaton
Danny DeVito
Eva Green
Alan Arkin
Nico Parker
Finley Hobbins
Direção
Tim Burton (O Lar das Crianças Peculiares)
Roteiro
Ehren Kruger
Baseado em
Dumbo (Helen Aberson, Harold Pearl)
Fotografia
Ben Davis
Trilha Sonora
Danny Elfman
Montagem
Chris Lebenzon
País
Estados Unidos
Distribuição
Walt Disney Pictures
Duração
112 minutos
Data de estreia
28/mar/2019
No fim da Primeira Guerra Mundial, Holt, um ex-combatente volta para seus filhos e para o circo que trabalhava. Nesses tempos difíceis, o dono do circo quer usar um bebê elefante para chamar mais pessoas para sua tenda. Mas o bebê Dumbo é visto como uma aberração por causa de suas orelhas e os filhos de Holt terão que convencer o mundo o milagre que chegou.
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