Dois Caras Legais | Crítica | The Nice Guys, 2016, EUA

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Dois Caras Legais é engraçado, subverte um tema muito conhecido e ainda consegue ser socialmente relevante.

Dois Caras Legais (2016)

Com Russell Crowe, Ryan Gosling, Angourie Rice, Matt Bomer, Margaret Qualley, Keith David e Kim Basinger. Roteirizado por Shane Black e Anthony Bagarozzi. Dirigido por Shane Black (Homem de Ferro 3).

9/10 - "tem um Tigre no cinema"Poucos filmes conseguem misturar uma série de gêneros, e quando a comédia é o tema principal, parece mais difícil não apelar para o pastelão. Pois Dois Caras Legais é umas das melhores comédias do ano, incorporando temas nonsense e outros vindos do cinema noir, subverte o tira bom e tira mau, e ainda consegue encaixar um drama familiar sem ficar expondo isso a todo o momento. Há também um tema eco-político que, na brincadeira, faz uma crítica ao capitalismo e à indústria automobilística americana. Ritmo, piadas e a canastrice são pontos altos da produção que veio para revitalizar o estilo buddy cop.

O ponto alto do filme vem do elemento nonsense que permeia a história desde os primeiros minutos, com um garoto roubando uma revista pornográfica de seu pai e um carro atravessar sua casa, e lá está a própria capa da revista. Depois vemos March (Gosling) numa banheira, vestindo terno, e cheia de água – que é bem maluco, mas existe um sentido narrativo mais profundo também. E durante a história, muitas pistas – e pessoas – quase que caem no colo de Holland e Healy (Crowe), elementos que podem ser considerados ex-machinas, e não deixam de ser. Mas a comédia e a falta de compromisso são abraçadas por Black e Bagarozzi desde o começo. E nisso o filme deixa de lado a obrigação de fazer sentido.

O diretor, no entanto, usa a sua história desvairada para criticar o cenário que culminou com o declínio da cidade de Detroit nos entre os anos 1970 e 1980. Black envolve política, o mercado pornográfico, drogas e violência dentro da comédia exatamente para dizer como é ridícula a ideia que grandes corporações ou sistemas se importam com o cidadão comum. Mas é entre um tiro e outro, socos, pontapés e assassinatos. E se é correto dizer ser mais fácil memorizar um tema se ouvir uma piada antes, a produção cumpre uma função socioeconômica inclusive. Que é bem mais que podemos esperar de outros filmes do gênero.

O tom mais sério está representado também na fotografia de Philippe Rousselot, algo esfumaçado que reflete a poluição e a já comentada questão de Detroit, e são contrastadas pelas cores fortes – vermelhos, rosas, azuis – tantos dos personagens quanto dos cenários. Isso e da personalidade dos protagonistas. Jack lembra mais aquele detetive durão que resolve as coisas na violência, enquanto Holland seria mais comedido, mas não menos forte. E, mais uma vez na subversão, Black desconstrói esse papel pré-julgado por nós quando Jack desloca o braço do detetive particular e esse dá um grito agudo de dor – provavelmente quando a maioria pensou que ele seria marrento nessa hora, xingaria, mas não se comportaria como uma criança.

A dupla de roteiristas consegue também, por meio de sutilezas, representar seus personagens por meio de cores, músicas setentistas e pequenos elementos, como Healy sempre negar bebidas alcoólicas em oposição à March, sempre achando espaço para encher a cara, ligando os dois a questões familiares. A vida bagunçada de um e a metódica de outro são complementares, mas a graça é que o caos deles não é mostrado de maneira clássica, são tons de cinza. Enquanto March tem um padrão de vida mais alto e uma filha para cuidar, ele é bagunçado por dentro. Já Healy é organizado, como vemos numa cena em que ele deixa cada coisa que precisa separada numa mesa, mas por fora o vemos cansado e se vestindo com a mesma roupa durante quase todo o filme.

Em vários aspectos Dois Caras Legais é uma produção inesperada. Seja na virada do segundo para o terceiro ato, as idiossincrasias dos personagens que fogem do padrão que estávamos acostumados nos anos 1980 ou a já citada questão social. É uma comédia engraçadíssima que traz Shane Black de volta ao estilo que ajudou a definir – ele roteirista tanto de Máquina Mortífera e sua sequência de 1989 – porém sem repeti-lo, o que seria tomar o caminho mais fácil e que relegaria o diretor à sua própria sombra. Diferente da aventura Marvel que dirigiu e ajudou a roteirizar também, essa é uma história mais coesa e infinitamente mais divertida, trazendo uma sensação de familiaridade, mas sem se prender totalmente à nostalgia.

Dois Caras Legais | Trailer

Dois Caras Legais | Galeria

Dois Caras Legais | Pôster brasileiro

Dois Caras Legais | Galeria

Dois Caras Legais | Galeria

Dois Caras Legais | Galeria

Dois Caras Legais | Galeria

Dois Caras Legais | Sinopse

Na Los Angeles dos anos 70, Amelia (Margaret Qualley), filha de uma funcionária do Departamento de Justiça dos Estados Unidos (Kim Basinger) é sequestrada. Ela decide contratar Jackson Healy (Russell Crowe), detetive particular violento e ex-alcoólatra, para investigar o caso. O trabalho revela-se mais complicado do que o esperado e ele decide dividir a investigação com o atrapalhado Holland March (Ryan Gosling). Ambos descobrem que o caso e a morte de uma estrela pornô estão, de alguma maneira, relacionados. Eles então descobrem uma conspiração chocante que atinge até os mais altos círculos do poder“.

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About TIAGO

TIAGO LIRA | Criador do site, UX Designer por profissão, cinéfilo por paixão. Seus filmes preferidos são "2001: Uma Odisseia no Espaço", "Era uma Vez no Oeste", "Blade Runner", "O Império Contra-Ataca" e "Solaris".