Dezesseis Luas | Crítica | Beautiful Creatures, 2013, EUA
Dezesseis Luas é um filme mediano que tem pontos divertidos e mistura bons e maus efeitos especiais. Mas o que faz cair a nota para o patamar mediano é o seu final covarde.
Com Alden Ehrenreich, Alice Englert, Jeremy Irons, Viola Davis, Emmy Rossum, Thomas Mann e Emma Thompson. Roteirizado por Richard LaGravenese, baseado no romance de Kami Garcia e Margaret Stohl. Dirigido por Richard LaGravenese (PS: Eu te Amo).
Me pergunto qual é a necessidade de obras se afirmarem como novo isso, ou o novo aquilo. Fora questões mercadológicas, a história funcionar por si só deveria ser chamariz suficiente. E isso quer dizer que “Dezesseis Luas” tem algo de original? Só se você contar a inversão de papeis, onde a mulher aparece forte e controladora, e seu par romântico ser um rapaz submisso. Basicamente, é um filme mediano que tem pontos divertidos e mistura bons e maus efeitos especiais. Mas o que faz cair a nota para o patamar mediano é o seu final covarde.
Narração off é uma praga. Poucos filmes usam o recurso de um jeito interessante. É uma muleta para apontar ao espectador de quem é o ponto de vista da história, que nesse caso é o adolescente Ethan (Ehrenreich), que vive na cidade de Gatlin (mesmo nome do filme “Colheita Maldita”, ambas ficcionais), um lugar que empacou na época da guerra civil e tem na sua maioria pessoas preconceituosas, supersticiosas, e radicais. O conselho da cidade chega a banir livros, o que faz Ethan ter gosto especial por esse tipo de leitura. Durante sonhos que tiram a paz do rapaz e corridas durante a alvorada, ele vai levando essa vida pacata, mas ao mesmo tempo está desesperado para sair. Ele se refreia por um pai que se enclausura no quarto depois da morte da mãe, e aqui o diretor faz um bom trabalho ao nunca mostrar o personagem. E na escola a novata Lena Duchannes (Englert) aparece e causa furor por causa de seu tio, também recluso, que é acusado de ser um bruxo, um satanista e uma má-influência para o nome da cidade. E pelo menos uma dessas coisas é certa, apesar de Lena preferir o termo conjurador.
É engraçado, para não dizer conflituoso, ver como Lena trata Ethan no segundo arco do filme. Ela tem a estranha capacidade de afastar uma pessoa que tenta sinceramente se aproximar, e é no mínimo irritante ela estar sempre na defensiva. Afinal de contas, a personagem começou a frequentar a escola porque queria uma vida normal nos últimos 104 dias antes da escolha que determinaria que tipo de feiticeira ela seria. Durante esse período de preparação, ela é cuidada por seu tio Macon Ravenwood (Irons) um feiticeiro das trevas, letrado e apreciador de Chopin, e acredita que Lena pode escolher o lado da luz, e por isso muda por ela.
Dentro da narrativa, é interessante notar os detalhes que a encorpam: o professor de história que não tem um olho (parece que passou por algum tipo de guerra), a tatuagem de Lena que entra em contagem regressiva, o batente da porta dos Ravenwood que tem o símbolo de um leão (uma homenagem ao universo “Narnia”, de C S Lewis), o figurino de Ethan ser em tons pasteis e o bloqueio que Macon faz para proteger a casa dentro de um loop de tempo são destaques. Por outro lado é difícil de entender a falta de cuidado com efeitos especiais. Se fossem todos fracos, seria compreensível que os US$60 milhões teriam sido usados só para pagar o cachê dos pesos pesados do elenco. No entanto, o filme mistura ótimos efeitos visuais, como o da briga entre Lena e a prima Riddley (Rossum) e na cena da tempestade, e falhe miseravelmente quando é apresentada a ameaça da mãe de Lena, Sarafine (Thompson), ou até o brilho especial dos olhos. Seria melhor manter efeitos medianos, para dar uma unidade ao filme. E a fotografia é uma coisa triste, e não no sentido figurado. Em várias cenas, principalmente nas noturnas, ela parece falsa e sem nenhum cuidado.
Parece que os pontos fracos do filme são apenas técnicos, mas existem outros motivos. Além da narração off já comentada que estraga momentos que funcionam visualmente perfeitamente, como quando Lena e Ethan estão numa determinada biblioteca, o diretor foca na tatuagem de contagem regressiva, o diretor insiste que o jovem pense alto e diga “passamos mais de uma semana na biblioteca”, o que dá vontade de levantar da cadeira e dizer “ah, é mesmo?”.
A história também toca em vários pontos da crença das pessoas em Deus, ou nas divindades em geral. O que é difícil de engolir quando temos um universo que é abastecido pela magia. Lena, Macon e os outros tem seus poderes ativados, para o bem ou para mal, quando completam dezesseis anos e a lua é o catalisador dessa transformação. Portanto, não seria o nosso satélite ou a natureza uma divindade também? Pois não há outro meio de explicar o mal cometido arbitrariamente por Riddley, quando a real natureza dela toma conta da jovem e a faz dominar a mente de um inocente transeunte para que fique na frente de um trem em movimento e se mate.
Diferente de outros filmes de romance onde um personagem diz que não pode ficar com o outro pelo perigo, ou qualquer outro motivo, é ótimo ver que Lena faça alguma coisa de verdade para que isso aconteça, diferente de um certo “vampiro”. É uma ato muito corajoso do roteiro adaptado do livro (que não havia lido). Outro mérito é que a história cita pelo menos três escritores de renome e que devem, assim espero, chamar a atenção para que os jovens que leram e viram essa história se interessem por outros temas escritos por gente como Kurt Vonnegut, Harper Lee e Charles Bukowski (com a coletânea de poemas You Get So Alone at Times That It Just Makes Sense).
“Dezesseis Luas” continua com problemas que vão aos poucos diminuindo a nota, principalmente no seu arco final. O desfecho mostra que é normal usar armas funcionais numa encenação (apenas uma forçação de barra para que uma tragédia acontecesse) , e também faz um dos personagens esquecer, ou não ligar, para o fato de um ter atirado no outro. Mas o que quase enterra o filme é o seu final. O roteirista, e provavelmente os romancistas, mostram um encerramento que de tão covarde faz parecer inacreditável. De nada adiantou o conflito, e com isso a história não evolui para a dupla principal. A não ser, é claro, fazer que as mentes mais jovens olhem para tela e suspirem em uníssono com as mãos juntas esperando o próximo filme, que vai trazer a mesma coisa que já estão acostumados, num ad infinitum de histórias cada vez mais similares umas com as outras.
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