Deadpool 2 | Crítica | Deadpool, 2018
Sem perder a personalidade, Deadpool 2 busca um jeito mais maduro de ser nessa continuação que tem o espírito do filme anterior, o que quer dizer que essa é uma maturidade apropriada para o protagonista. Traduzindo: muita zoeira.
Prontos para um filme família? É o que Deadpool 2 é – mas da maneira que só o indestrutível anti-herói mais desbocado dos quadrinhos, e agora do cinema, pode ser. É verdade que se perdeu muito da novidade do primeiro Deadpool, e vindo o personagem-título joga palavrões como balas de uma metralhadora, é o mínimo que poderíamos esperar. A novidade no roteiro fica por conta de uma amadurecida na trama, com momentos dramáticos e assuntos sérios como abuso infantil e racismo. Mas tudo isso embalado em vermelho e preto, muitos tiros, quebras de quarta parede e de expectativas que só um personagem que admite as próprias falhas – não só do personagem, mas do universo que pertence – poderia fazer. Além de muita zoação.
Se alguém disser que Wade/Deadpool (Reynolds) não é um piadista, está completamente enganado. Um tanto perturbado com certeza, mas longe de ter um senso de justiça. Deturpado, definitivamente. Com sonhos como qualquer um – no caso começar uma família com Vanessa (Baccarin) e superar a sanguinolência de Logan – o nosso querido mutante entra num mundo que não quer, arrastado para a sarjeta e sendo resgatado por Colossos (Kapičić) para mudar de vida e ser um herói. Mas, como a maioria das boas comédias costumam ser, esse não é um filme de redenção e Deadpool basicamente aprende nada. O que não quer dizer que não haja uma evolução do personagem, pois ele aprende a ser menos egoísta e fazer o que é certo. De novo, no jeito Deadpool de ser.
É por isso que ele não se dá muito bem, e isso é um grande eufemismo, sendo um X-Men, se cercando assim de não-heróis (o que seria diferente de anti-heróis). É um caminho mais natural para ele, quebrar algumas regras para um fim que Wade acreditar ser justo, mas sem se importar com as poças de sangue e os palavrões deixados no caminho. Essa X-Force que o personagem consegue juntar é um ótimo resumo do filme, algo cheio de anti-clímax, coisas um tanto inesperadas no quesito do destino dos membros do grupo. Afinal de contas, é a carreira mais curta de uma equipe de super-seres. Mas se nos focarmos em Dominó (Beetz) podemos entender melhor essa força, por assim dizer, de Deadpool.
Sendo ela uma personagem sem exatamente um super-poder, como o próprio Wade diz sorte é qualquer coisa menos isso, ela não é uma heroína. E o melhor de tudo que não precisa ser, não pelo menos nos moldes tradicionais. E como quando tudo dá errado nos planos para resgatar o jovem Russel (Dennison), o cenário se repete na cena onde Cable (Brolin) aparece de surpresa. Se prestarmos atenção, ninguém ali – Deadpool por motivos que não valem mencionar para guardar a surpresa, Domino, Weasel (Miller), Al (Uggams) – nem mesmo o próprio viajante do tempo, poderiam ser chamados do que tradicionalmente definimos como super-herói. Mas existe um código de conduta, até de moral porque não, naquele amálgama de perdedores e destroçados.
E se formos nos concentrar na seriedade do filme, podemos notar que esse novo arco serve para melhorar Deadpool, um mínimo que seja. Por isso que apesar da maioria das situações em que exista uma brecha para transformar coisas sérias em comédia – e que são várias – a história não faz o mesmo com a questão do abuso infantil sofrido por Russel. Sim, existe espaço para o personagem ser alvo de piadas pela situação que se encontra, como querer bancar o valente e falhando, mas, em geral, esse um ponto que o filme tenta não cruzar. É a maneira de um roteiro com e conveniências – algo admitido pelo protagonista – e alguns furos – o mais gritante é saber como Wade arranja dinheiro para um helicóptero – falar de problemas da sociedade e de como somos colocados em determinados caminhos, sem perder a essência palhaça.
São quase duas horas de membros decepados, violência exacerbada, algumas referências para serem caçadas, piadas que funcionam sozinhas, outras que é preciso um conhecimento prévio de outros filmes da Franquia X e algumas obscuras, essas para quem conhece quadrinhos. Mas é suficiente para quem vem acompanhando outros filmes da Fox/Marvel – é verdade que não é um filme que funcione sozinho, mas nunca teve a intenção de ser. Há alguns momentos de romance, piegas, até mesmo mais tradicionais na narrativa, mas Wade não dá descanso e muitas vezes a surpresa nos pega, seja com alguma olhada de desespero para a câmera ou uma piada que vem para quebrar a seriedade.
Há uma anedota que circula na internet há alguns anos sobre o que acontece alguma coisa inamovível se encontra com uma força imparável – algo que Deadpool e Cable são. O viajante não pretende parar até encontrar meios de completar sua missão que salvar a família e o próprio futuro. Já Wade é esse objeto que não pode se move, uma pedra no sapato. Se ignorarmos as leis da física nessa questão e pensarmos só na poesia dessa questão, a resposta fica no diálogo, algo que mesmo o desbocado protagonista não domina, mas nem de longe. Esse parecia ser mais o papel de Vanessa, o que explica a simbologia da cena do reencontro dos dois: a comunicação é, para Wade, uma coisa muito difícil.
Pode ser que essa onda de seriedade em Deadpool 2 desagrade a versão hardcore do filme original, mas isso é porque todo personagem precisa de um ciclo de amadurecimento. Outras franquias tiveram tempo para isso e Wade apenas dois filmes. Mas o bom dessa história é que o espírito louco e desvairado do personagem ainda está lá. O que acontece é que existe uma dose de seriedade para lembrar as analogias que o universo X fazia desde os quadrinhos nos anos 1960. Provavelmente alguém que reluta ser chamado de herói, mas ainda assim com um coração. Metade inconsequente, metade biruta, como deve ser para continuar relevante num gênero que não deve parar tão cedo.
E, como sempre, não saiam da sala antes dos créditos para três cenas extras!
Elenco
Ryan Reynolds
Josh Brolin
Morena Baccarin
Julian Dennison
Zazie Beetz
T.J. Miller
Brianna Hildebrand
Jack Kesy
Direção
David Leitch (Atômica)
Roteiro
Rhett Reese
Paul Wernick
Ryan Reynolds
Baseado em
Deadpool (Fabian Nicieza, Rob Liefeld)
Fotografia
Jonathan Sela
Trilha Sonora
Tyler Bates
Montagem
Dirk Westervelt
Craig Alpert
Elísabet Ronaldsdóttir
País
Estados Unidos
Distribuição
20th Century Fox
Duração
120 minutes
Cena Extra
Depois de uma tentativa frustrada de acabar com a própria vida, Deadpool tenta levar um vida mais altruísta e salvar um jovem mutante com a ajuda de um novo super-time, o X-Force. Mas Cable, um viajante do tempo aparece para impedir esses planos.
[críticas, comentários e voadoras no baço]
• email: [email protected]
• twitter: @tigrenocinema
• fan page facebook: http://www.facebook.com/umtigrenocinema
• grupo no facebook: https://www.facebook.com/groups/umtigrenocinema/
• Google Plus: https://www.google.com/+Umtigrenocinemacom
• Instagram: http://instagram/umtigrenocinema
• Assine a nossa newsletter!
Apoie o nosso trabalho!
Compartilhe!
- Clique para compartilhar no Facebook(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no Twitter(abre em nova janela)
- Clique para imprimir(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no WhatsApp(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no Telegram(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no Tumblr(abre em nova janela)
- Mais