De Canção em Canção | Crítica | Song to Song, 2017, EUA

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De Canção em Canção traz novamente a assinatura visual tão conhecida de Malick que ainda leva o público para uma experiência muito intimista.

Elenco: Michael Fassbender, Ryan Gosling, Rooney Mara, Natalie Portman | Roteiro e direção: Terrence Malick (O Novo Mundo) | Duração: 129 minutos

Pode ser fácil dizer como um filme de Terrence Malick começa – nessa estética que vem desde de Árvore da Vida (Tree of Life, 2011)  -, mas tal facilidade é inversamente proporcional dizer como termina. De Canção em Canção é ao mesmo tempo o ápice da sua assinatura e visão cinematográfica como é o momento de colocar tudo que fez nos últimos seis anos em perspectiva. É verdade também que a maneira de criar do diretor/roteirista – que chega a sequer dar um roteiro para atores e atrizes – é um desafio para quem escolhe participar dessa aventura, usando ao máximo seu poder de interpretação e improvisação com apenas algumas dicas vindas do diretor. No entanto, falta para Malick um desafio próprio: o de saber se ele consegue contar uma história como antigamente, estruturada de maneira tradicional.

Se é fácil identificar um filme de Malick visualmente falando nas suas narrações off, câmeras soltas e vários plongées e contra-plongées, é difícil expressar em palavras o que o diretor quer, pelo menos a princípio. Desde seu filme de 2011 que o diretor/roteirista quer nos passar uma experiência muito íntima. É como se cada um de seus filmes fossem mais conceitos que histórias em si. Podemos dizer inclusive que a história de Faye (Mara) enquanto passeia pela vida de BV (Gosling) e Cook (Fassbender) é como um álbum: assim como passamos de faixa em faixa, a jovem passa de relacionamento em relacionamento para se descobrir.

Essa estética tão conhecida do diretor, que poderia ser apontada num certo desdém como maluca, pode ser vista da mesma maneira que organizamos nossas próprias memórias. Então o diretor com seus cortes, poucas falas e posições de câmera fora do padrão estão organizadas com aqueles pensamentos que puxamos aos poucos, não necessariamente de maneira cronológica, mas como sentimos. Lembranças marcantes, sejam boas ou ruins, nos tomam de súbito para depois tentarmos organizá-las de alguma maneira que faça sentido. Perdemos alguns detalhes, mas não a essência – exatamente a intenção do diretor quando filma poucos diálogos e forçando que seus personagens digam mais pela linguagem corporal do que por palavras.

No entanto, toda essa pompa não pode servir como desculpa para os exageros do filme. Não é apenas uma questão mais do mesmo – principalmente quando pegam Malick para Cristo apontando a visão estética e sua assinatura – mas o diretor está se arriscando pouco. Seu estilo é reconhecível pelas abordagens já citadas no segundo parágrafo dessa crítica e apesar de ser comercialmente arriscada é defendida com unhas e dentes pelos fãs do seu trabalho. O que acontece é que agora Malick está no que podemos chamar de fase, uma que foi altamente elogiada seis anos atrás e que preferiu estender até agora. Poderíamos comparar isso com Picasso, passando pelas fases Azul, Rosa e eventualmente o Cubismo. O que falta para Malick é fazer como o artista espanhol e tentar o classicismo como forma de se expressar.

Mas a subjetividade do diretor, e consequentemente de seus personagens, tem suas recompensas. Apesar de usar a narração off por praticamente toda a narrativa, ela não é daquelas que entregam o ou explicam pelo que ele está passando no momento. São mais traduções de sentimentos de maneira poética. E essa narração não é tão usada na divisão de paixões de Faye entre BV e Cook. Por exemplo, podemos ver na cena em que os três viajam para o México que a protagonista veste vermelho enquanto é observada pelos dois – ou seja, é objeto de desejo deles – e que os momentos mais doces entre Faye e BV poderiam durar para sempre – representada pela fotografia de Emmanuel Lubezki, que usa cores cálidas nesses momentos, e os poucos cortes do diretor – senão fosse a presença do intruso Cook.

Assim também é o fascínio de Rhonda (Portman) pela vida que Cook lhe dá. Graças à dinâmica da montagem, percebemos como é a subida da montanha russa para ela que num momento é uma garçonete que por acaso atende o produtor musical, mas logo em seguida embarca numa Ferrari e interage com gente grande como o Red Hot Chilli Peppers e o cantor Iggy Pop. Isso não aconteceu em poucos minutos, nem mesmo horas, mas a adrenalina dessa mudança foi tão grande para Rhonda que assim parece para o espectador, e isso acontece graças à qualidade de Malick na direção.

Durante a construção de personagens, Malick consegue dar corpo aos quatro mesmo fora da estrutura clássica. Não é preciso diálogos para sabermos que no começo BV está deslumbrado com a vida que Cook lhe ofereceria – ele poderia escolher entre mulheres que o dito amigo lhe ofereceu; ainda na sequência o compositor rouba, por assim dizer, as roupas do produtor. A câmera extremamente posicionada em ângulos mais baixos mostram a insegurança de Faye, principalmente quando ela está sozinha. A personalidade dela só tem uma falha no desenvolvimento por parte de Malick quando Faye se envolve com uma mulher. Sem ter dado dicas que a personagem poderia ser bissexual, o envolvimento dela com Zoey (Marlohe) parece mais um fetiche masculino do que coisa séria.

Momentos de alegria, descontração, curtição e tragédia passam pela tela como uma se estivéssemos ouvindo um disco conceitual, onde a vida de Faye é o tema. E o caminho quase circular que Malick toma para contar a história dela com BV, junto das interferências de Rhonda e Cook, são como voltar para aquele álbum que você gosta tanto e quer repetir a experiência mais uma vez. Pode não ser uma coletânea dos melhores sucessos ou o melhor disco de uma banda, mas aquela gravação que você se apaixonou por algum motivo e que tem altos e baixos como é a vida.

É justo dizer que De Canção em Canção é uma experiência muito pessoal e subjetiva de Malick que foi filmada para ser compartilhada com um público. Os cativos irão se conectar de imediato com a experiência do diretor e seus detratores farão o oposto. Ainda que no final das contas o diretor tenha passado uma leveza e uma simplicidade que é tomada por alguns dos seus personagens, ainda que seja uma vida mais pesada. Não é exagero dizer que essa é uma metáfora para o próprio estilo que Malick usa mais uma vez. E o que pode indicar que daqui pra frente ele faça seus filmes de maneira mais simples, o que seria pesado pelo menos de um certo ponto de vista.

De Canção em Canção | Trailer

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Cancão em Cancão | Cartaz nacional

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De Canção em Canção | Sinopse

A história de dois triângulos amorosos com plano de fundo o cenário musical numa cidade do Texas. Amor, paixão, traição e música convivem como os próprios personagens.

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About TIAGO

TIAGO LIRA | Criador do site, UX Designer por profissão, cinéfilo por paixão. Seus filmes preferidos são "2001: Uma Odisseia no Espaço", "Era uma Vez no Oeste", "Blade Runner", "O Império Contra-Ataca" e "Solaris".