Cinderela | Crítica | Cinderella, 2015, Reino Unido-EUA
Crítica de Cinderela (2015), que revisita o clássico de mesmo nome, é um filme visualmente belíssimo, mas que pouco traz de novo para o espectador.
Com Lily James, Cate Blanchett, Richard Madden, Stellan Skarsgård, Holliday Grainger, Derek Jacobi, Ben Chaplin, Sophie McShera, Hayley Atwell e Helena Bonham Carter. Roteirizado por Chris Weitz, baseado na obra de Charles Perrault e dos Irmãos Grimm. Dirigido por Kenneth Branagh (Operação Sombra: Jack Ryan).
Você sairá vislumbrando da sessão de Cinderela. Além disso, é um filme sincero, correto e extremamente bem feito, desde o figurino, passando pela fotografia e efeitos especiais e práticos. Mas não vai muito além disso. A inspiração do clássico desenho de 1950 está em vários elementos do filme, não sendo propriamente um remake, e vai à contramão de dar um ar sombrio, como algumas produções tem feito. É a mesma história, têm os mesmo conflitos, o mesmo tudo, com apenas uma ligeira diferença no trato da protagonista e o príncipe. Por isso, será lembrado mais pelo design de produção do que pela história em si.
Sinopse oficial
“Um filme live-action inspirado no clássico conto de fadas, Cinderela dá vida às eternas imagens da obra de arte de animação de 1950 da Disney com seus personagens reais em um espetáculo deslumbrante para uma geração inteiramente nova.”
É justo, então, falar das qualidades do filme. Para qualquer estilista ou designer de produção é uma das melhores aulas. Em primeiro lugar, nada de 3D – considerando que é um filme da Disney, isso é um diferencial. É preciso dar destaque também à fotografia de Haris Zambarloukos – que já trabalhou em outros três filmes de Branagh -, pintando a tela de cinema como um quadro com cores fortes e vibrantes, dando o contraste necessário nos aposentos em que Bela tem seus piores momentos: na morte da mãe (Atwell), no sótão que é forçadamente convidada a morar, e na cozinha da casa de família.
Impossível não gostar do trabalho de figurino de Sandy Powell, que dá uma atenção especial a cada aspecto e época que a história se passa. Digna de indicação a Oscar – e provavelmente será – ela acompanha a fotografia, e usa cores vibrantes na maioria dos personagens. Vejam Ella (James), por exemplo, que usa constantemente a cor azul, que vai se desbotando com a passagem do tempo, para então ganhar um novo e mais forte tom quando recebe o vestido de festa da Fada Madrinha (Bonham-Carter). Aliás, o vestido da protagonista é um espetáculo à parte, pois ele não tem apenas um jeito diferente de ser no visual. Num cinema de qualidade de som, você irá notar que o vestido tem um design de som próprio, que cintila junto com os cristais que o compõe. Junto com o azul e outros elementos que a lembram de seu passado – como as borboletas, que tem a ver com a memória do então falecido pai (Chaplin) – o vestido de Cinderela se torna um ícone até maior que o da animação de 1950.
Os coadjuvantes também tem seu quinhão, onde vemos o príncipe Kit (Madden) usando verdes, azuis e dourados, em tons fortes, que ressaltam seu berço de ouro. Já Lady Tremaine (Blanchett), a madrasta parece o oposto, principalmente no uso do preto e o dourado, aumentando a sensação de arrogância. E suas filhas Drizella (McShera) e Anastasia (Grainger) são o ponto fora da curva, propositalmente. Elas usam cores praticamente chapadas, com poucos meios tons, reforçando as personalidades exageradas dessas antagonistas da história. Entre outros exemplos, passamos pelos personagens através de suas cores, algo bem lúdico e que fica impregnado no nosso subconsciente enquanto assistimos ao filme.
Já a história e o desenvolvimento dela fazem a produção desabar. Em primeiro lugar, a montagem de Martin Walsh prejudica muito o ritmo. O filme de quase duas horas parece se esticar infinitamente até o baile em que a agora Cinderela – a explicação do apelido dada pelas irmãs postiças reforça a crueldade delas, mas que só faz sentido em inglês – deseja participar. E quando finalmente acontece alguma coisa interessante de verdade, estamos perto do terceiro ato, e a narrativa se apressa para terminar. Levando em conta que existem poucos elementos a mais do que no clássico de 1950, e que tem apenas 75 minutos, Chris Weitz não foi feliz em preencher essas lacunas. O elemento que muda para um ponto interessante, e moderniza a história ligeiramente, é a cena em que Ella foge de casa e encontra Kit pela primeira vez. Antes do famoso baile, ela se apaixona por um aprendiz – uma piada muito inteligente – e ele por uma camponesa, ao invés de ser por uma suposta princesa.
Agora, podemos nos perguntar qual é a importância de uma Cinderela hoje. Nosso mundo mudou tanto que um conto de fadas parece ultrapassado. E é mesmo. Isso não quer dizer que não é uma história que não vale a pena ser contada. Existe uma boa lição de moral que é o lema de Ella – seja gentil e corajosa – e, para uma criança, o elemento da mágica não se parecerá o que é para os mais experientes: um deus ex machina. Será que vale a pena, para quem é pai, mostrar uma história onde as coisas não se resolvem por esforço próprio, mas sim por magia? Essas são as palavras de um ranzinza, mas, se existe o acaso e acidentes que levam as coisas a darem certo, isso pode ser traduzido, pelo menos para os pequenos, como se a mágica realmente existisse.
Se existe, não há mágica suficiente para fazer com que Cinderela passe desse meio termo, ainda que agrade a criançada. É um filme leve, com algumas piadas espirituosas – as que envolvem os animais se transformando é de trazer sorrisos para qualquer um – e cheio de cores para atrair a atenção delas. Há os erros de percalço, como a narração da Fada Madrinha, emulando a leitura do conto, e certos exageros para fazer a madrasta ser má ao extremo, inclusive por causa de seu gato se chamar Lúcifer. Pouco traz para o espectador, é uma produção belíssima, mas que não traz reflexão ou discussão.
Atenção: Não se atrase, porque as cópias são acompanhadas do curta Frozen: Febre Congelante, onde revisitamos Elsa, Anna, Kristoff e Olaf.
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Veja o trailer de Cinderela.
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