Cartas Para um Ladrão de Livros | Crítica | Brasil
- TIAGO
- 2 de março de 2018
- 7/10, cinema brasileiro, Críticas, Documentário, Filmes
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Cartas Para um Ladrão de Livros apresenta um controverso personagem que pode ser taxado como criminoso, mas, na sua simplicidade, mostra como tratamos nossa história.
O jornalismo investigativo no Brasil está em franca decadência. Com exceção de alguns veículos independentes, o que vale é estar no lugar da notícia para dar o furo. Então, o cinema parece um lugar propício para esse tipo de matéria, por exemplo com Cartas Para um Ladrão de Livros que faz o retrato de um personagem peculiar das páginas policiais brasileiras. Um trabalho que levou por volta de cinco anos para ser concluído é o exemplo do que falta para aproximações mais interessantes, fugindo do escopo sensacionalista ou imediatista que assolam as páginas dos jornais e as transmissões radiofônicas.
Podemos começar com o próprio título, onde os diretores quiseram se aproximar de Laéssio – “Para Um” e não “De Um”, denotando o ponto de vista. O que não evita que o rapaz que entrou e saiu quatro vezes do sistema prisional pelos mesmos crimes se vanglorie e se entenda como uma estrela. Ele mostra com orgulho os papeis de sua soltura com quem cruza, como se dissesse “veja, eu sou diferente, importante”, contando sua história para visitantes de uma feira de antiguidades na cidade de São Paulo, sem perceber que estava no mesmo nível que a maioria de nós está – pior, até – tendo que enfrentar o transporte público lotado e pedir carona por estar sem dinheiro.
Tentando entender como uma paixão (no caso, por Carmem Miranda) se transformou em crime, Barros e Cavechini prensam Laéssio por declarações, pois percebem esse egocentrismo do antigo ajudante de padaria, uma figura que passa carisma ao se justificar e não mostrando arrependimento de seus crimes: seja por dizer que nunca matou ninguém ou por ter roubado aquilo que estava condenado a mofar na espera dos arquivos das bibliotecas brasileiras, Laéssio cria uma própria narrativa, um universo próprio que conspirava em seu favor – como no caso do primeiro roubo, uma revista da idolatrada cantora que “estava lá me esperando”.
Para não serem acusados de maniqueístas, os diretores procuram também ouvir o lado da justiça. Na figura do delegado da Polícia Federal responsável pelo caso, a história do ladrão de obras raras ganha mais corpo. Nessa visão, assim como o próprio Laéssio, o próprio delegado cria um universo próprio. Por causa dos roubos, as bibliotecas se encontraram numa posição que precisaram implementar, ou melhorar, sistemas de segurança. “Cadeia resolve”, diz o delegado. Mas não para Laéssio, que retornou outras vezes para o sistema. Depois, o agente se contradiz ao admitir que os cabeças do esquema nunca foram pegos – “Não sei porque não foram alcançados”, momento que podemos bater a mão na testa.
Nessa parte que faltou mais parte investigativa mesmo. Os diretores mencionam, no próprio filme, que não foram mais a fundo com receio de serem processados caso nomes viessem à tona. Mas não é exatamente para isso que serve o jornalismo investigativo, para pisar em alguns calos? Um dos diretores menciona também que o resto do trabalho, algo que levou praticamente cinco anos, é muito bom para ficar de fora e que poderia se tornar uma matéria ou até um livro. Isso levanta uma questão, se a produção do filme seria algum tipo de promoção para essa possível publicação, onde seríamos obrigados a acompanhar para saber o desfecho dessa história.
Além de ficar muito feliz de se ver na tela grande, Cartas Para um Ladrão de Livros mostra que Laéssio, dentro da sua simplicidade e não de maneira premeditada, escancarou como tratamos a nossa história – esquecida, deixando que seja empilhada num canto mofado por muitas vezes. Cavechini e Barros ganham pontos também por não fazerem um documentário maçante, usando apenas as chamadas “cabeças falantes”, introduzindo algumas animações para dar mais ritmo à história que estão contando. O resultado é uma interessante obra cinematográfica para mostrar que a nossa página de crimes também tem figuras interessantes e que escapam das gigantes que chamam atenção simplesmente por serem grandes.
Elenco
Laéssio Rodrigues de Oliveira
Direção
Carlos Juliano Barros
Caio Cavechini
O documentário acompanha Laéssio Rodrigues, o mais famoso ladrão de obras raras do Brasil. Durante cinco anos, os diretores tentaram entender as motivações dessa figura que já esteve na cadeia quatro vezes, uma pessoa simples que pode mudar como vemos a nossa história.
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