15h17: Trem Para Paris | Crítica | The 15:17 to Paris, 2018
15h17: Trem Para Paris não pode ser rechaçado por seu conservadorismo, mas sim por ser uma aula de como não fazer cinema.
Poucas vezes podemos dizer que vemos uma aula no cinema, é algo que acontece com 15h17: Trem Para Paris. É uma aula de como não fazer uma homenagem, não ser diretor, não fazer montagem e de como não escalar um elenco. Em resumo, é uma aula de como não fazer um filme. É muito triste perceber que um diretor que já entregou obras tão grandiosas se perdeu na ideologia que acredita e por isso acha que entregar qualquer tipo de obra é satisfatório o suficiente. E a falta de qualidade da produção não tem nada a ver com o viés político do diretor e da história.
Parece justo para um nacionalista, não apenas Eastwood, querer prestar homenagem à personagens que impediram que um evento com o retratado tomasse proporções maiores que seu desfecho. O que é difícil de entender, impossível até, é a decisão do diretor em escalar os verdadeiros Alek Skarlatos, Anthony Sadler e Spencer Stone para representar a própria vida. As primeiras cenas que os três se dirigem para a câmera deixa bem claro o que deveria ser óbvio para qualquer um: os três não sabem atuar. Simples assim. Não é uma questão de serem maus atores, mas sim deles não serem. Na cabeça de Eastwood, esse precisava ser um filme do tipo cinema verité, e nada mais verdadeiro que a realidade entrar na ficção. O que se não comprava na prática.
E logo percebe-se que Eastwood não tinha um roteiro para desenvolver, então infla a história com o passado daquele trio ainda na escola, com momentos que não servem de nada para a construção da personalidade deles hoje. Talvez os jovens Alek (Gheisar) e Spencer (Jennings) tivessem TDAH, eram jovens que desafiam as autoridades e regras da escola por algum motivo que nunca fica claro. Apesar de focar muito na juventude dos amigos, não é criada tensão, desafios ou qualquer fagulha de personalidade que se sustente depois. A única exceção é uma frase de Anthony (Williams) que denota uma realidade: “gente negra não sai por aí pra caçar”.
Além das três narrativas, ainda temos que aguentar o diretor colocando pedaços da ação mais atual. E com trinta minutos de filme, Eastwood nos entrega algo que beira o insuportável. Para quem conhece os detalhes dos eventos do trem para Paris em agosto de 2015, sabe que houve um desfecho rápido, e o diretor sabia que tinha algo de vinte minutos para mostrar as conclusões. Então nos 70 minutos anteriores o que nós temos é um grande teste de paciência. Vai parecer repetitivo, mas é bom apontar isso: Eastwood não tinha uma história para contar, então ele mostra várias cenas do treinamento de Spencer para se fortalecer e da viagem que os três fizeram entre a Itália e Amsterdã. Com muito detalhes.
Ninguém está preparado para a interminável viagem dos amigos passando pelos pontos turísticos, tirando selfies, indo para as baladas, se embriagando, comprando sorvete e conversando com gente aleatória que desaparece do filme. Cada uma dessas cenas é uma tortura de uma história que poderia ser interessante se contada num documentário ou uma matéria curta de meia hora. Mas não, Eastwood sabe que precisa contar todos os passos dos três porque para que essa produção tenha a alcunha de “filme”, ele precisava tapar buracos e preenche-los com grandes porções de nada, fechando assim os 90 minutos. O que transforma essa produção mais em álbum da viagem do que outra coisa.
Além da falta de qualidade tanto técnica quanto narrativa, Eastwood pega todos os movimentos em voga hoje, como o Time’s Up, e faz do seu filme um ícone retrógrado. No típico argumento das coisas estarem chatas hoje em dia, o diretor entrega uma masturbação para quem tem pensamentos parecidos dele. É como se ele dissesse que seu filme é “contra tudo o que tem por aí”, entregando o mote “God, Family and Guns”, closes de bundas femininas e o personagem negro sem desenvolvimento que serve de alívio cômico – o pobre Anthony é o único que não tem a família apresentada, com exceção de uma cena nos momentos finais do filme.
Reclamar do conservadorismo de Eastwood é a mesma coisa que reclamar da postura à esquerda de Oliver Stone, por exemplo, pois sabemos quem eles são antes de entrar na sala de cinema. Mas não é isso que faz 15h17: Trem Para Paris um erro cinematográfico. Esse viés ideológico pode afastar quem não for partidário das ideias do diretor, mas isso não dá carta branca a ele de entregar algo tão raso que precisa ser esticado com cenas inúteis para que sua produção ganhasse as salas de cinema. O que o filme tenta entregar, além de prestar seus respeitos, é que mesmo quem é desacreditado podem fazer alguma diferença para bem – e que Deus está do lado dos justos, o que faz esse filme ser um tipo de Deus Não Está Morto (God’s Not Dead, Harold Cronk), mas com um orçamento maior. O resultado é o pior filme da carreira do diretor e um dos piores dos últimos dez anos.
Elenco
Anthony Sadler
Alek Skarlatos
Spencer Stone
Judy Greer
Jenna Fischer
Direção
Clint Eastwood (Sully: O Herói do Rio Hudson)
Roteiro
Dorothy Blyskal
Baseado em
The 15:17 to Paris: The True Story of a Terrorist, a Train, and Three American Soldiers (Jeffrey E. Stern, Spencer Stone, Anthony Sadler, Alek Skarlatos)
Trilha Sonora
Christian Jacob
Fotografia
Tom Stern
Montagem
Blu Murray
País
Estados Unidos
Duração
94 minutos
Clint Eastwood presta uma homenagem aos três personagens que impediram uma tragédia num trem que fazia o trecho entre Amsterdã e Paris, em agosto de 2015.
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