Capitão Fantástico | Crítica | Captain Fantastic, 2016, EUA

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Por trás de uma cortina indie Capitão Fantástico é um filme sobre dor, alegrias e o encontro de equilíbrio

Capitão Fantástico (2016)

Elenco: Viggo Mortensen, Frank Langella, Kathryn Hahn, Steve Zahn, George MacKay | Roteiro e Direção: Matt Ross

10/10 - "tem um Tigre no cinema"Talvez o ar indie ou hipster das imagens de divulgação ou o trailer de Capitão Fantástico te afastem da produção. Porém, não se assuste com isso. Em primeiro lugar porque a produção foge dessas amarras de definição ao entregar uma história que vai além do belo visualmente, mas que conversa com nosso âmago. Não é apenas um filme sobre das belezas da natureza ou uma crítica às sociedades alternativas; é algo mais complexo sobre isso. Assim como outras produções já fizeram, é uma história sobre aprendizado e como o amor dos pais servem ou não para seus filhos e que existem casulos mesmo estando num lugar tão amplo e aberto quanto uma floresta.

Mais que uma sociedade alternativa – a princípio podendo ser visto pejorativamente como hippie – Ben (Mortensen) cria seus filhos como Iluministas, buscando o conhecimento como a nossa sociedade consumista enfrenta horas numa fila para comprar um novo smartphone. E isso não se aplica apenas ao conhecimento formal já que a família é cercada por livros, indo ao aposto de uma sociedade com pouco hábito de ler. A preparação da família Cash – interessante a escolha do nome, que traduzimos por “grana”, então negando uma natureza imposta – também envolve caça, a música e a discussão. Reis filósofos, como o próprio Ben diz, refletindo o discurso Iluminista e de Platão.

Ainda que viver como Ben e seus filhos pareça um mundo ideal – viver da própria produção e, numa escala maior, da própria caça, tendo controle do que come é muito tentador – o pai parece não perceber que com isso ele cai num mal que essa sociedade também vive: a criação de bolhas. O primeiro encontro que vemos do filho mais velho, Bodevan (MacKay) com o mundo externo, que poderíamos chamar de real, acontece uma trava. Ele não sabe exatamente como lidar com algumas garotas e se protege expressando seus sentimentos mais radicais de esquerda para desafiar o pai num confronto que representa, de maneiras diferentes a que estamos acostumados, a passagem para a vida adulta.

E há elementos clássicos para nos sentirmos mais confortáveis com a história, como a jornada de Ben e seus filhos que desafiam uma autoridade superior, no caso o avô das crianças e sogro de Ben, Jack (Langella). O interessante é a habilidade de Ross em transformar esses símbolos tão conhecidos de maneira diferente, trazendo então originalidade à trama, inclusive nos pequenos detalhes como a versão da tradicional canção escocesa Scotland the Brave, que na versão do filme ganha guitarras que acompanham o compasso das gaitas de fole. Assim como é uma novidade para a audiência escutar instrumentos diferentes numa música conhecidíssima, mesmo que seja só de passagem, são situações novas para todos.

O drama não seria tão sentido sem o humor para criar contraste. Então, além de ser uma história sobre perdas, também é um filme sobre encontros. E esses encontros animam a narrativa, trazendo sorrisos sinceros à plateia. Essa mistura de dor, alegria e estranheza são bem resumidas na argumentação de Ben com uma das filhas sobre Lolita (de Vladimir Nabokov, 1955) que pede que ela expresse melhor sobre o que sentiu ao ler a polêmica obra do russo, chegando à conclusão, que permeia todo o filme, que não há resposta fácil e que a vida não é feita de extremos, mas muitas vezes de sentimentos conflitantes. O que causa uma interação hilária com a filha mais nova, que é uma metralhadora de questionamentos do mais que sincero pai.

O choque da família que já amamos acompanhar continua a flutuar nessa maré que é o choque dos mundos. As crianças se espantam com a obesidade que acomete a população americana, como muitas se perdem na religião e uso indiscriminado da automedicação. Mas também há um choque dentro desse núcleo que Ben buscou a perfeição representada, a princípio, por Rellian (Hamilton) que chega a ferir o pai simbolicamente em dois momentos e que já era a voz dissonante dos Cash quando os sete fazem música junto à uma fogueira, mostrando desde o começo a personalidade desafiadora do jovem.

E esses confrontos que são engraçados – as discussões entre Ben e sua irmã e a diferença das criações de seus filhos e seus sobrinhos – vem do jeito obtuso de Ben ser. Ele é um pai amoroso, um viúvo que sofre pela perda da esposa e um ferrenho defensor das últimas vontades dela. E ele faz isso de maneira tão dura que precisou de um choque para entender que a sua busca era também por um equilíbrio que ele encontraria além da floresta. Nos seus desafios ele esquece, ou não percebe, que seu jeito poderia ferir e até mesmo limitar seus filhos, o que faz voltar ao seu mantra junto da esposa: o que vale são as ações e não as palavras.

A felicidade é relativa para cada pessoa, é verdade, mas não saberemos o que ela é de verdade se não nos desafiarmos. Nos treinamentos quase militares dos filhos, alguns beirando o abuso infantil, Ben preparou uma tropa de elite: inteligente e preparada para qualquer desafio físico – ou assim ele pensava. Então a contenda daquela grande família de sete membros era sair daquela bolha e procurar o equilíbrio e ir além daquelas florestas, representado pela mudança do visual de Bodevan com cabelo raspado, como um calouro aprovado, mas não para uma faculdade, que ele poderia fazer também, mas para uma nova vida.

É importante apontar também a força da atuação de Viggo Mortensen nesse passeio das personalidades de Ben, algo tão poderoso que merece ser valorizado. Assim como os aspectos técnicos da fotografia – notem principalmente o clima frio do começo e como Stéphane Fontaine termina a narrativa de modo cálido, apesar da tristeza da situação – e a versões diferentes de músicas conhecidas por nós, reforçando o usar elementos clássicos para fazer algo original, Capitão Fantástico funciona como alegoria, aventura, drama e comédia e Ross não permite que nenhum momento que um se sobreponha ao outro. Ele nos leva por caminhos diferentes numa representação do que é a vida, um carrossel de emoções que não podem ser confinados em apenas e tão somente por rótulos.

Capitão Fantástico | Trailer

Capitão Fantástico | Pôster

Capitão Fantástico | Cartaz

Capitão Fantástico | Imagens

Capitão Fantástico | Galeria

Créditos: Divulgação

Capitão Fantástico | Galeria

Créditos: Divulgação

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Créditos: Divulgação

Capitão Fantástico | Galeria

Créditos: Divulgação

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Créditos: Divulgação

Capitão Fantástico | Sinopse

Em meio à floresta do Noroeste Pacífico, isolado da sociedade, um devoto pai (Viggo Mortensen) dedica sua vida a transformar seus seis jovens filhos em adultos extraordinários. Mas, quando uma tragédia atinge a família, eles são forçados a deixar seu paraíso e iniciar uma jornada pelo mundo exterior – um mundo que desafia a ideia do que realmente é ser pai e traz à tona tudo o que ele os ensinou.”

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About TIAGO

TIAGO LIRA | Criador do site, UX Designer por profissão, cinéfilo por paixão. Seus filmes preferidos são "2001: Uma Odisseia no Espaço", "Era uma Vez no Oeste", "Blade Runner", "O Império Contra-Ataca" e "Solaris".