Cães de Guerra | Crítica | War Dogs, 2016, EUA
Cães de Guerra faz graça com um assunto muito sério. E exatamente por isso que é tão divertido.
Elenco: Jonah Hill, Miles Teller, Ana de Armas, Bradley Cooper | Roteiro: Stephen Chin, Todd Phillips, Jason Smilovic | Baseado em: Arms and the Dudes (Guy Lawson) | Direção: Todd Phillips (Se Beber, Não Case! – Parte III)
É um momento propenso para se falar de armas nos EUA e quando você conta uma história dessas por meio de humor, parece ser mais fácil encarar os fatos. Cães de Guerra é assim. Extremamente divertido, um tanto insano, mas lida com um assunto seríssimo. Dinheiro, poder, armas, sexo, drogas, rock n roll: está tudo misturado e bem equilibrado na narrativa baseada num artigo jornalístico. Essa capacidade de transformar algo tão pesado em comédia é tarefa para poucos. Seria mais fácil a mensagem direta e, provavelmente, uma abordagem dramática também funcionaria. Mas essa é uma história tão improvável que a escolha de conta-la entre risadas marca melhor.
Ainda nos primeiros vinte minutos, depois de um flashforward que mostra David Packouz (Teller) sob a mira de uma arma, vemos Efraim Diveroli (Hill) no seu pequeno escritório onde há um enorme pôster de Tony Montana na parede. Já é o suficiente para entendermos a índole do personagem. Apesar de parecer bonachão, com uma risada fanha e cômica, Efraim é um escroto, o pior do tal american way of life, vivendo pelo dinheiro, achando brechas no jeito de fazer as coisas e conseguindo arrastar David, com suas questões suburbanas, para um mundo problemático, para dizer o mínimo. Pois uma das discussões do filme é sobre algo ser legal, mas não quer dizer correto.
Efraim é um personagem com uma lábia inacreditável, que consegue pegar David no ponto fraco com falácias e retórica – ao dizer coisas como ser pró-dinheiro não é ser pró-guerra – e isso é possível pela fantástica atuação de Jonah Hill. Efraim é um jogador, gosta de apostar e de brincar com um cenário tão questionável como a segunda guerra no Iraque durante a administração George W Bush. Há uma cena que reflete muito bem essa posição de Efraim, e agora de David também, quando os dois começam a se drogar e brincam com óculos de visão noturna. Estamos recebendo essa informação por meio da comédia, mas constatar que eles estão brincando com a guerra é a grande sacada dessa imagem que resume boa parte do filme.
Vale notar que as coisas vão escalando aos poucos, indo do moralmente questionável ao ilegal, mas sem percebermos exatamente quando o tom de cinza se tornou sombrio. Uma dica é a fotografia de Lawrence Sher – que já havia trabalhado com Phillips anteriormente na Trilogia Se Beber, Não Case – onde os tons vão saindo do dourado e ensolarado de Miami, escurecendo em Vegas e chegando no frio e invernal azul acinzentado na Albânia. Apesar de não podermos marcar exatamente como as coisas passam de um espectro para o outro, fica bem claro quando as coisas começam a ser ilegais e onde o diretor emplaca a maior tensão da narrativa.
No lado político, Phillips faz críticas à administração Bush/Cheney – outra cena que passa rapidamente é quando Efraim e David fecham um multimilionário negócio com o governo dos EUA e vemos ao fundo uma foto do então presidente e vice, comparando as duas duplas – e ao próprio negócio de armas quando, logo no começo, ele joga números que precisam ser pesquisados – que é uma das funções do cinema, nos fazer questionar – que o governo estadunidense gasta US$17.500 por soldado armado no Afeganistão e só de ar-condicionado soma-se o valor de US$4,5 bilhões. Você pode concordar ou não com a abordagem do chefe em comando naquela época, mas Phillips tomou para si e mostrar tudo de errado como as compras são feitas.
Com influências de Scarface (Scarface, Dir Brian de Palma, 1983) e O Senhor da Guerra (Lord of War, Dir Andrew Niccol, 2005) Cães de Guerra funciona tanto como crítica social como um filme de comédia. Eficientemente, o diretor nos faz querer conhecer melhor os personagens e, nos importarmos com ele – credo, até mesmo acreditarmos nas lorotas. Não é fácil fazer esse trânsito entre drama e risos sem parecer forçado ou inverossímil. É difícil até achar pontos negativos no desenvolvimento da trama que ficam nas atuações dos coadjuvantes e no trabalho do já citado Sher – que funciona narrativamente, mas usa cores quase chapadas dando um ar ultrapassado à fotografia – mas que nem chegam perto de estragar a experiência, mostrando que ainda existe versatilidade nas mangas do diretor.
Cães de Guerra | Trailer
Cães de Guerra | Pôster
Cães de Guerra | Imagens
Cães de Guerra | Sinopse
“Cães de Guerra acompanha a história de dois amigos na casa dos 20 anos (Hill e Teller) que moram em Miami durante a Guerra do Iraque e descobrem uma iniciativa pouco conhecida do governo que permite que as pequenas empresas possam participar de licitações de contratos militares nos Estados Unidos. Partindo quase do zero, eles fazem muito dinheiro e passam a viver uma vida de luxo. Mas a dupla passa a ter problemas quando consegue um contrato de US$ 300 milhões para armar o exército afegão – que os coloca em contato com pessoas muito suspeitas, algumas das quais se revelam membros do próprio governo norte-americano”.
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