Caça aos Gangsteres | Crítica | Gangster Squad, 2013, EUA
Caça aos Gangsteres traz um ótimo elenco e tem momentos divertidos, mas é lotado de personagens caricatos.
Com Josh Brolin, Ryan Gosling, Sean Penn, Nick Nolte, Emma Stone, Anthony Mackie, Giovanni Ribisi, Michael Peña e Robert Patrick. Roteirizado por Will Beall. Baseado no livro de Paul Lieberman. Dirigido por Ruben Fleischer (Zumbilândia).
Ao sair da sessão de “Caça aos Gangsteres” o sentimento é dúbio. Por uma lado, temos um filme bem produzido, com um elenco gigante de qualidade, e com momentos espirituosos e engraçados. Por outro lado, temos personagens caricatos, quase beirando o cartunesco, e uma história mediana. Com o elenco que tem e com o diretor de um filme ótimo (Zumbilândia, de 2009), poderia ser um grande filme, mas se perdeu por exagerar e tentar ao dar um ar aos para personagens que não tinha razão de serem assim.
Baseado levemente em fatos reais, a história começa com a praga da narração em off feita pelo Sargento John O’Mara (Brolin) e como ele reencontrou a cidade de Los Angeles depois que voltou da II Guerra Mundial. Uma cidade que estava tomada pelo gângster Mickey Cohen (Penn), um criminoso cruel que subiu na máfia por sua fama na época que era boxeador. Com poder e com gente comprada em todas as esferas, desde a força policial até juízes, ele se torna praticamente intocável. Para tentar que a cidade saia desse mar de corrupção, o chefe de polícia Bill Parker (Nolte) pede à O’Mara, que parece ser o único no distrito que se incomoda com o poder de Cohen, junte uma equipe clandestina para acabara com o poder do gângster judeu dentro da cidade.
Por se passar em Hollywood, existe uma homenagem cinematográfica. Cohen, antes de matar um desafeto de outra cidade cita uma frase clássica de “Drácula”, de 1931, com Bela Lugosi (“Children of the night. What music they make.”). Por isso o diretor transforma os personagens visualmente, fazendo que O’Mara conte com um queixo quadrado e Cohen tenha um nariz pontudo e lábios sempre pressionados numa carranca, como se tivessem saído das páginas de Dick Tracy, só que num mundo mais sério e com menos cor. Mas o filme é mais cru, e então é justo questionarmos esses personagens serem caricatos assim. Por exemplo, a introdução mostra partes da carreira do gângster como boxeador, que começa com filmagens de uma câmera 8mm para outras com um número mais alto de frames por segundo, para que o efeito de câmera lenta seja mais detalhado. E nisso vemos com detalhes a periculosidade de Cohen. Afinal, qual é o caminho que Fleischer quer tomar? Parece que nem ele sabe.
E do lado dos herois, o diretor faz de tudo para não ofender ninguém ao criar um grupo misto. Além de O’Hara, um americo-irlandês, o Esquadrão Anti-Gângsteres é composto por Max Kennard (Patrick), um xerife clássico (com um bigode, mais uma vez, caricato) e seu parceiro latino Navidad Ramirez (Peña, com um nome engraçaralho); Coleman Harris (Mackie), um policial negro, e Conway Keeler (Ribisi), o cérebro da equipe que, adivinhem, está sempre de óculos. A adição mais interessante ao grupo, ainda que tardia, é o Sargento Jerry Wooters (Gosling), com seu jeito malandro de falar e dotado de uma lábia espetacular é o mais centrado e, consequentemente, o mais crível do grupo. Para ser politicamente correto, só faltou ter uma mulher no grupo. Mas já que é impossível para a época, Connie (Enos) — a esposa de O’Mara — faz esse papel ao ajudar o marido escolher cada um dos membros do esquadrão por não serem os certinhos que ele queria, o que os transforma em personagens menos maniqueístas, pelo menos. E filme do gênero precisa de uma femme fatale, que aqui é a formosa Maggie (Stone), a professora de etiqueta de Cohen.
” Caça aos Gângsteres” não é um filme ruim. Mas ele também não é bom. Existem momentos legais de comédia protagonizados pelo esquadrão. Você vai rir com os planos que não dão certo, mostrando que eles também são falhos e pouco heroicos, ou com os momentos espirituosos de Wooters, sendo o melhor quando ele comenta que faz tempo que não é “sofisticado”. O filme passa por uma transformação para o mais dramático quando um engraxate que Wooters gosta como se fosse um filho, que provavelmente é, morre num tiroteio entre rivais. A cena é piegas, e Fleischer usa do slow motion para dar mais dramaticidade à cena, desnecessariamente. Já a cena seguinte, em que o diretor fixa a câmera na cabeça do sargento enquanto ele vai atrás de Cohen para matá-lo já usa o efeito de uma maneira bem mais interessante.
O que causa a nota mediana do filme é sua instabilidade. Enquanto tem cenas memoráveis como a da luta final, em que diretor muda a película para deixar a ação mais crua, o roteiro peca com furos homéricos. Por exemplo, quando Keeler ouve de Cohen que o esquadrão está prestes à encontrar o “Eldorado Trust”, o gângster está na sala, sendo que a escuta foi colocada no quarto. E se em alguma cena deletada mostrou-se que havia mais escutas, por que eles não souberam quando o bandido descobriu que ele estava sendo grampeado? Essas coisas fazem mal ao filme. Ao mesmo tempo, não creio que ele mereça a saraivada de metralhadora que está levando. Ou quase.
Uma curiosidade: o diretor Ruben Fleischer refilmou uma cena de um tiroteio que que acontecia dentro de um cinema, e a alterou para acontecer em uma rua de Chinatown em respeito às vítimas do tiroteio em Aurora. Você pode vê-lo falando do assunto nesse link.
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