Bumblebee | Crítica | Bumblebee, 2018
Diferente de seus predecessores, Bumblebee consegue misturar ação e doçura, trocando a bagunça por beleza.
Uma das máximas do universo Transformers de Michael Bay era a bagunça generalizada: muitas explosões, muita coisa acontecendo ao mesmo e muita ação que tentava esconder cada falha ou buraco no roteiro. Mas veio Travis Kinght e transforma o que era bagunça em beleza em Bumblebee, a melhor encarnação dos personagens da Hasbro na tela grande, passando mesmo a adaptação de 2007. Apesar de não ser uma reinvenção do tema e nem um reboot, a aventura deixa de lado a abordagem megalomaníaca de Bay para uma intimista, sem esquecer de que se trata de um filme de aventura. E ao focar num público mais jovem enquanto homenageia a franquia original, Knight consegue capturar um espectro mais amplo de espectadores.
Apesar de se tratar de um prequela dos eventos ocorridos em Transformers (2007, Michael Bay), Knight se vale do conhecimento da plateia de todos os outros cinco filmes do seres de Cybertron para agilizar a história de como Bumblebee (O’Brien) chegou à Terra seguindo as ordens de Optimus Prime (Cullen) para assegurar um refúgio para ele e os outros autobots. Então, há um prólogo no planeta natal dos seres cibernéticos, mas serve só para mostrar o ponto de vista de um soldado que, no cumprimento de sua missão, se mostra muito humano, encontrando-se num terreno tão comum quanto outros que passaram por grandes traumas e tem de lidar com isso.
Sem descanso, Bumblebee é perseguido e deixado para morrer por um perseguidor e não consegue explicar ao Agente Burns (Cena) que não lhe quer fazer mal. E depois de tantas batalhas, esse ser, apesar de ser mecânico, mostra que um espírito quebrado. Quando Charlie (Steinfied) consegue fazê-lo sair de sua concha, ele não é mais aquele soldado tão digno da confiança de Optimus. Se ele fosse simplesmente uma coisa, poderíamos dizer que ele foi resetado, e por isso age como uma criança. Para a nossa realidade, o que o autobot experimenta é o que chamamos de estresse pós-traumático. Depois de capturar a audiência pelo dinamismo do início, é a doçura da relação de Bumblebee com Charlie que faz isso durante essa parte mais intimista.
Por ser uma aventura mais básica, Knight acaba usando alguns artifícios em nome da fluidez da trama que extrapolam o bom senso e obriga a usarmos a suspensão de descrença num nível bem elevado. Por exemplo, se no começo do primeiro filme os decepticons se comunicam, à princípio, na língua de Cybertron, Travis usa o inglês como língua universal. E não é que os Transformers falem uma língua que, por questões de comunicabilidade, chegam aos nossos ouvidos na língua do filme: quando Charlie consegue ativar a mensagem de Prime para seu soldado, ela consegue entender sem um intérprete. E é muita conveniência, mesmo para um filme quase infantil.
Digo quase porque há um tanto de violência na história, mas sem ser gráfico, como era de se esperar. Então, é menos problemático ver um dos autobots dividido ao meio por Shatter (Basset) e Dropkick (Theroux) ou como os decepticons lidam com humanos ao transformá-los num tipo de gosma ao invés de explodi-los em pedaços. E com a regressão de Bumblebee a um estágio mais infantil e com o luto que Charlie ainda passa pela morte recente do pai, Travis e Hodson fazem um conto de amadurecimento, e de como cada uma reage às perdas de maneira diferente. Felizmente, o diretor sabe como equilibrar as passagens do filme sem que elas sejam muito de alguma coisa.
Isso possibilita aproveitarmos junto de Charlie, Bumblebee e o vizinho enxerido Memo (Lendendborg Jr) esses momentos divertidos como os jovens que são. Charlie se sente incompleta pela morte do pai, mas completou dezoito anos no filme. Memo está tomando coragem para convidar a vizinha para sair. Bumblebee precisa deixar sua nova juventude porque uma guerra se avizinha. Então, a jornada de Bumblebee é de amadurecimento, começando como criança, depois adolescente e finalmente o adulto que deve novamente se tornar um soldado – e isso respinga, sem intenção, nos vizinhos pegos no fogo cruzado. E essa diversão sobra até para o carrancudo Burns que, cauteloso, aponta para o óbvio de que Shatter e Dropkick se auto intitulam com um termo que vem de “deception” (enganar).
Apesar de ganhar mais elogios, a produção tem seus problemas que vão desde a repetição até as conveniências de roteiro. Inicialmente, o arco de Charlie com Bumblebee é praticamente o mesmo do personagem de Shia LeBouf, e a personalidade da jovem é uma mistura dele com a da de Megan Fox – o nome da personagem, aliás, pode ser usado para os dois gêneros –, sem a hipersexualidade feminina usada como chamariz por Bay em todos os filmes anteriores da franquia, uma mudança bem-vinda. Também não passa desapercebido que os decepticons resolveram fazer uma missão solo e não perseguir com mais agentes uma importante dica que poderia mostrar o paradeiro de Prime. Podemos colocar no balaio das conveniências a questão de como ninguém tentou ligar a chave de Bumblebee antes, o que desencadeou sua nova perseguição.
Existia também um perigo em tanta nostalgia trazida por Knight. Tantas cores e os designs dos autobots e decepticons inspirados na série animada de TV poderiam mascarar os problemas citados nos parágrafos acima. Porém, essa homenagem faz sentido pela abordagem mais inocente da trama, mesmo que a época que se passa a história ainda exista o fantasma da Guerra Fria, dando um ar de seriedade no núcleo militar da história. Então, apesar do saudosismo estar presente, Knight fez uma história que consegue englobar mais gente, apesar de que algumas referências musicais e televisivas sejam captadas por quem está na faixa dos 30 e 40 anos.
Poderíamos também apontar que a decisão de Bumblebee de levar Charlie para onde o campo de batalha final não é a mais acertada das decisões do autobot, pois a exporia ao perigo. De novo, é Travis voltando à inocência e ela é colocada naquele cenário por dois motivos. O primeiro é para ser nossos olhos, dar a escala humana para algo interplanetário. Segundo, para fazer a função que os hobbits e os ewoks fizeram, algo compartilhando pelo próprio Bumblebee, que é mais baixo que seus companheiros e perseguidores. Então, ao participarem da ação, esses dois personagens reforçam que numa guerra, até mesmo os menores participantes podem fazer a diferença.
Há uma frase sobre estética na arquitetura, cunhads por Ludwig Mies van der Rohe (1886 – 1969), que diz que menos é mais, e Knight trouxe isso para Bumblebee. Pelo menos no tocante a um mundo onde robôs gigantes se estapeiam. Um dos grandes problemas da franquia original é que as batalhas eram tão grandiosas que nos perdíamos na ação, sem conseguir identificar quem é quem naquele amontoado de metal e as câmeras de Bay que não sabem o sentido de ponto fixo. Essa é uma trama mais intimista, uma aproximação sim inocente, mas também carinhosa com personagens amados por uma geração inteira. Defendi na última aventura que a franquia merecia um descanso, mas com a nova produção, parece que se encontrou um bom caminho para recomeçar.
Elenco
Hailee Steinfeld
John Cena
Jorge Lendeborg Jr.
John Ortiz
Jason Drucker
Pamela Adlon
Dylan O’Brien
Peter Cullen
Angela Bassett
Justin Theroux
Direção
Travis Knight (Kubo e as Cordas Mágicas)
Roteiro
Christina Hodson
Baseado em
Transformers (Hasbro)
Fotografia
Enrique Chediak
Trilha Sonora
Dario Marianelli
Montagem
Paul Rubell
País
Estados Unidos
Distribuição
Paramount Pictures
Duração
114 minutos
Data de estreia
25/dez/2018
3D
Relevante
Com a queda de Cybertron, os autobots precisam buscar refúgio em outro planeta. Optimus Prime escolhe a Terra e envia Bumblebee para preparar o terreno para a chegada de seus companheiros. Mas ainda perseguido e deixado à beira da morte, o autobot precisa redescobrir seu propósito e para isso conta com a ajuda e o carinha de Charile, a humana que o ajudou a sair da concha.
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