Bad Boys Para Sempre | Crítica | Bad Boys for Life, 2020
Com piadas que funcionam na maioria das vezes, Bad Boys Para Sempre tem vícios do passado e que mostram pouco vontade de ir para frente.
Sempre fico contente quando franquias tomam um tempo para mostrar seu próximo capítulo, isso mostra ao menos uma tentativa de perspectiva e reflexão. Bad Boys Para Sempre usa desse trunfo apenas parcialmente, preferindo emular muitas vezes as franquias que ajudou a criar depois dos anos 1990 com carros, tiros e explosões. Com um humor refinado, arrisco dizer que a maioria das piadas são engraçadas, muita velocidade e várias porradas, toda essa adrenalina serve para esconder a fragilidade do roteiro, que espera ser perdoado por tantos momentos divertidos e que trazem uma obra apressada. Com isso, o filme se encontra numa posição de precisar acelerar ainda mais a narrativa porque poderia, se fosse estendida um pouco mais, cair na redundância.
Provavelmente, a parte que melhor mostra a influência de Mike (Smith) e Marcus (Lawrence) é a introdução desse novo Bad Boys, emulando uma cena de Velozes e Furiosos 7 (Fast and Furious 7, 2015, James Wan): ao invés da prudência e levar o amigo vivo para ver a chegada do neto, Mike prefere ser esse aficionado por carros e velocidade. Na prática, é um elemento bem comum nesse tipo de filme para chamar a atenção da plateia antes dos títulos de abertura. Essa correria vai ser comum em praticamente todo o filme, até mesmo quando precisamos de um pouco de calma para apreciar os momentos.
Há um grande ponto positivo e que faz toda a diferença: as piadas. Quase todos os momentos de humor são engraçados – claro, com algumas exceções. Isso se torna o ponto forte do filme e por causa disso que ele será mais lembrado, além mesmo das cenas de ação, o que poderia ser o carro-chefe do filme, pois, diferentemente desse elemento, o riso não serve para esconder a fragilidade do roteiro como as perseguições e voos de helicóptero fazem. Por mais que você consiga identificar os momentos que as piadas vão acontecer, dificilmente sabe como. Por exemplo, você sabe que os dois não vão encontrar um informante vivo – a graça está na resolução.
No entanto, esse é um filme que parou no tempo. Seja por querer emular os anos 1990 ou por pura falta de senso com a atualidade, o roteiro chega a ser preconceituoso pelo menos duas vezes. A primeira, numa parte séria, é na fuga de Isabel (Castillo) da prisão. Vamos deixar de lado a velocidade da vilã em assassinar uma guarda, trocar de roupa com ela e enfiar o corpo numa máquina de lavar no melhor estilo Hannibal Lecter. Mas quando a levam para a ambulância, pensando que era, na verdade, a guarda, acabam dizendo que todo mexicano é igual – o nosso querido canibal, pelo menos, usou uma máscara humana.
Esse preconceito acontece também na parte cômica do filme, quando Marcus se abre para o parceiro, admitindo que ele e a esposa não tem mais transado. Marcus diz que sente falta disso, apesar de ainda amar Theresa (Randle). Isso também é um preconceito – uma atitude sexista do roteiro, para ser mais claro. De novo sendo retrógrado, a história mostra o homem sempre como viril e a mulher como a frígida, como se a falta de atração sexual fosse exclusivamente dela, mas nunca do homem que, mesmo aos 50, não admite que pode ser parte do problema também. Pelo menos para esses dois protagonistas viris.
Em determinado ponto, Adill, Billal e seus roteiristas percebem que poderiam parar de fazer essa do machão impenetrável, só para variar. Os homens então entram naquele outro clichê, o da mulher forte com Rita (Núñez), que é, em determinado momento, colocada num patamar acima de Mike, mas que nunca aceita essa posição e nem pede desculpas quando as coisas dão errado quando ele desobedece a uma ordem direta da tenente. A tentativa é criar uma ponte para uma continuação, mas fica difícil quando a história não permite que seus protagonistas evoluam.
Cheio de obviedades e com um Will Smith repetindo a figura de alguém encarando uma versão melhor de si – como acabou de acontecer em Projeto Gemini (Gemini Project, 2019, Ang Lee) – Bad Boys Para Sempre tem personagens semi-divinos (Mike é atingido a queima-roupa com balas especiais e, ainda assim, sobrevive) e uma trama acelerada por perceber que fazer um filme mais longo do que já é problemático, serve como uma distração efêmera. Uma prova que nem sempre tempo faz bem, mas que algumas coisas têm que ser abandonadas.
Elenco
Will Smith
Martin Lawrence
Vanessa Hudgens
Alexander Ludwig
Charles Melton
Paola Núñez
Kate del Castillo
Nicky Jam
Joe Pantoliano
Direção
Adil & Bilall
Roteiro
Peter Craig
Joe Carnahan
Argumento
Chris Bremner
Peter Craig
Joe Carnahan
Fotografia
Robrecht Heyvaert
Trilha Sonora
Lorne Balfe
Montagem
Dan Lebental
Peter McNulty
País
EUA
Distribuição
Sony Pictures
Duração
124 minutos
Data de estreia
30/jan/2020
Cena Extra
Mike e Marcus ainda estão na ativa, e agora o passado bate à porta. Enquanto Mike busca vingança, Marcus se divide em ser um Bad Boy por uma última vez para ajudar o parceiro a descobrir quem o tentou matar, ou apenas estar mais presente na família que acabou de crescer.
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