As Palavras | Crítica | The Words, 2012, EUA
As Palavras é comparado como a versão dos livros para A Origem (Inception), lidando com histórias dentro de histórias.
Com Bradley Cooper, Olivia Wilde, Zoe Saldana, Jeremy Irons, Ben Barnes, Dennis Quaid e Nora Arnezeder. Roteirizado e dirigido por Brian Klugman e Lee Sternthal.
Você provavelmente vai ouvir por aí que “As Palavras” é “A Origem” (Inception, 2010) dos livros. É verdade que a trama lida com histórias dentro de outras histórias, mas diferente da ficção científica de Nolan, umas não interferem nas outras. E nem teria motivo para isso. O filme passa por três momentos distintos, sendo as mais interessantes as duas que são contadas por meio do escritor “real”. A sub-trama se torna muito mais interessante que o resto em volta, e é de se questionar o motivo dos roteiristas/diretores contarem a história por meio de um intermediador. Ao criar protagonista que não existe, por assim dizer, Klugman e Sternthal criam um conto sobre o apego às palavras que nos fascinam e nos aprisionam, mas que se perde ao introduzir na tela personagens que só servem para representar o espectador, e não são afetados pelas decisões do protagonista.
Clayton Hammond (Quaid) é o autor de “As Palavras”, um livro que conta a história de um escritor com um enorme bloqueio criativo que encontra o rascunho de um livro, e o publica como se fosse seu. Clayton faz a leitura das páginas, que tem como personagens Rory Jansen (Cooper) e sua esposa Dora (Zaldana). Ao fazer isso, Clayton serve como narrador off da vida dos personagens de seu livro, numa clara tentativa dos diretores de justificarem esse recurso preguiçoso, que tantos outros filmes usam. Ninguém precisa ouvir que “Rory estava perplexo enquanto lia” enquanto isso é perfeitamente claro na tela. No universo apresentado pela leitura, Rory tenta a carreira de escritor, mas que falha ao criar uma história que seja boa o sufuciente para que algum editor a publique. Sem saída, ele arranja um emprego comum numa editora para pagar as contas e poder viver em Nova York. Quando se casam, o casal viaja para passar a lua-de-mel em Paris (o que levanta vários questionamentos de como eles conseguiram o dinheiro com salários tão modestos, situação que é bem claro quando os dois discutem num beco algumas cenas depois). Na viagem, Dora compra para Rory uma pasta usada numa loja de antiguidades, e dentro da pasta, ele acha uma história envolvente de um personagem chamado Jack. Ele fica obcecado com a leitura, e resolve digitar palavra por palavra do que leu no seu computador, tamanho fascínio com o escrito. Encorajado pela esposa e com medo de admitir que aquelas não eram palavras suas, Rory apresenta a história para um editor que, meses depois, o torna um escritor premiado e famoso.
O filme se arrasta em meio a tantos pontos de vista: passa pela realidade, entra na ficção do livro, e na inspiração do escritor original por meio de um flashback de sua própria experiência. Não é complicado, mas são tantas idas e vindas que cansam. Sentindo isso, o diretor dá uma pausa na leitura de Clayton para apresentar Daniella (Wilde), uma escritora iniciante que está na trama para ser o que nós somos: espectadores do filme (não obstante, ela é de fato uma espectadora no filme). Esse descanso apresenta uma análise de Danielle sobre Clayton, que é sem sentido, e não contribui em nada para o andamento da história. Quando volta à leitura, você torce para que não demore muito pra acabar. Em seu 3º ato é que a história ganha um pouco mais de corpo, com a presença do escritor original da história do livro dentro livro, um velho senhor (Irons) que confronta Rory e conta a sua própria história (mais um imersão): uma tragédia familiar que envolve também um fascínio pela literatura e até o ponto em que personagens amam mais as palavras do que pessoas. Mas é pouco, e 4º ato e final é um marasmo.
Dotado de alguns momentos interessantes, como a fotografia de Antonio Calvache, que consegue separar bem as várias “realidades” do filme (na de Clayton, a paleta de cores é mais cinza e urbana; na de Rory é mais quente e cálida; e na do flashback do senhor que passa em 1944 é amarelada, quase como se fosse o papel envelhecido do conto original) e discussões sobre a libertação ou não dada pela verdade e a convivência com as escolhas que tomamos. Mas o roteiro não se sustenta. “As Palavras” seria um filme muito melhor se fosse simplesmente centrado na história que é lida. Infelizmente, é um filme que passa praticamente metade do tempo usando os personagens de Quaid e Wilde para nos dizer que, se não fossem eles, você não entenderia nada da história.
[lomadeewpro category=” keywords=’Bradley Cooper, Olivia Wilde, Zoe Saldana, Jeremy Irons, Dennis Quaid’]