As Duas Irenes | Crítica | Brasil, 2017
As Duas Irenes é um diferente tipo de aventura juvenil, um que não trata seus retratados com desdém.
Elenco: Priscila Bittencourt, Isabela Torres, Marco Ricca, Susana Ribeiro, Inês Peixoto, Teuda Bara, Maju Souza, Ana Reston | Roteiro e direção: Fabio Meira | Duração: 88 minutos
Um conto de aventura e de amadurecimento como As Duas Irenes poderia, à princípio, fazer parte de uma sessão vespertina na televisão. Porém o mais interessante da produção é como ela subverte o clima dos ditos filmes para toda a família, apesar desses elementos. A produção é sim dotada de uma doçura, mas também traz um clima melancólico que não chega a ser sobrepor na trama, mas que está sempre presente na história das duas protagonistas e também nos coadjuvantes. É também uma história de amizade, dúvidas e confrontos que mimetiza o universo jovem como poucas obras tem a competência de fazer.
É bem justo dizer que Meira traz para o cinema um filme para jovens sem tratá-los como pessoas com pouca carga, que não entenderiam o que ele tem a dizer. O que a primeira Irene (Bittencourt) faz ao descobrir sua meia-irmã, também chamada Irene (Torres) é entrar numa aventura, desvendar os mistérios da outra família do pai. Ao não usar o nome verdadeiro para isso, ela entra de cabeça como uma pequena detetive que quer entender melhor aquela jovem que tem mais liberdade dada pelo pai que elas têm em comum – tradicional na casa mais abastada, sendo servido pela esposa, e mais permissivo com a outra.
E para fazer um retrato bem realista desse universo jovem, o diretor foca muito na relação das duas protagonistas. Ao invés de julgar o pai, a primeira Irene se fascina por encontrar na meia-irmã alguém mais interessante que as irmãs inteiras, digamos assim. Por partilharem o mesmo nome, a primeira acredita que se completa com a homônima, uma leitura que vem tanto da doçura como as duas se entendem quanto de signos na trama, como as vezes que Meira mostra folhagens verdes mais claras e mais escuras de uma mesma árvore. A cor mais clara representa a personalidade mais contida da Irene 1, enquanto a mais viva da Irene 2 – algo reforçado pelo figurino das duas.
Apesar da vida da primeira Irene parecer mais fácil, isso nota-se pelo tamanho da casa da família, seus espaços mais abertos e com uma aparência mais bem cuidada, a jovem deseja pelo menos uma parte da vida da irmã distante. De novo voltamos à questão das cores, emblematicamente usadas quando as duas Irenes se encontram no cinema. Num confronto onde os tons pasteis da Irene 1, mais apagados e que se mesclam com o fundo da parede do cinema, brigam com os mais vivos e alegres da Irene 2. O fascinante é que esse confronto fica só no campo das ideias – e vemos o primeiro sorriso das duas dentro da sala de cinema, num universo separado da realidade lá fora.
Uma realidade pesada demais para alguém tão nova quanto as Irenes, uma perturbação tão grande quanto o ronco de Tonico (Ricca) que atravessa as paredes da casa durante a noite. E a vontade de jogar a verdade na mesa vem também da vida pacata daquele lugar, uma vontade, principalmente da primeira Irene de agitar as coisas e chamar a atenção. Não por se sentir menos amada, mas por questões tradicionais familiares que vão desde a proibição de pintar as unhas indo até a censura por uma roupa mais ousada na visão da mãe da Irene 1.
O que traz outra mensagem importante do filme: essa sensação de não pertencimento, vindo da Irene 1 das discussões com a mãe e da 2 com a ausência do pai, é a grande fase de crescimento que todo adolescente passa. Uma fase de questionamentos e até de revolta. Mas esse conflito fica para o mundo dos adultos. As duas irmãs, não tão crianças, mas ainda não adultas, estão vivendo os seus momentos de curiosidades – como a de ver um rapaz tirando a roupa para pular num lago – e descobertas próprias da idade, como a sugerida cena de beijo – e aqui o diretor é um tanto provocativo, servindo para sacudir o espectador na sua cadeira.
Ao contar sua história não apenas por diálogos, mas também pelo figurino e pela linguagem corporal de suas protagonistas, As Duas Irenes tem drama, risos, mas principalmente uma doçura que permeia o crescimento das protagonistas que tem a vida revirada por um segredo. Assim como qualquer criança, as personagens entram em conflitos, mas encontram semelhanças, uma amizade forte que pode até mesmo contornar grandes questões que são do universo dos adultos, mesmo que isso afete demais a vida delas. Além de ser uma produção de qualidade excelente, principalmente pela força das protagonistas, é uma história que conversa demais com o público jovem, algo que tem sido bem raro no cinema.
As Duas Irenes | Trailer
As Duas Irenes | Pôster
As Duas Irenes | Galeria
[foogallery id="15484"] As Duas Irenes | Sinopse
Irene descobre que seu pai tem outra família e outra filha da idade dela também chamada Irene. A primeira investiga a vida da segunda para descobrir uma garota que leva um vida totalmente diferente da sua.
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