Arranha-Céu: Coragem Sem Limite | Crítica | Skyscraper, 2018
Arranha-Céu: Coragem Sem Limite se propõe como homenagem ao subgênero dos filmes-desastre, mas só serve para bajular o ator principal.
A coisa mais interessante em assistir um filme como Arranha-Céu: Coragem Sem Limite é perceber que anestesia não é algo exclusivo da medicina. A quantidade de explosões, cortes rápidos e frases de efeitos estão ali para mascarar a parte que não queremos perceber, assim como a morfina nos impede de sentir dor. Claramente com a intenção de homenagear um subgênero, a aventura de Thurber é mais como uma colcha de retalhos ao acrescentar pouco aos clássicos filmes policiais/desastre. A única novidade é perceber que depois de enfrentar bandidos, seres do inferno, animais gigantescos e falhas geológicas, só faltava na carreira de Dwayne Johnson enfrentar um prédio.
O que não quer dizer que exista uma tentativa de fazer alguma coisa diferente. Contrário a seus outros papeis, o personagem Will (Johnson) tem uma fraqueza – provavelmente, é o papel mais vulnerável que o ator já interpretou. Por causa do peso de ter achado que errou numa missão de resgate uma década atrás, a confiança do agora especialista em segurança é renovada por causa da possibilidade de fechar um grande contrato com o arranha-céu de Zhao (Han), um empresário que é retirado daquela esfera clássica da cretinice. E aqui o ator aparece mais envelhecido por causa dos brancos na barba, parecendo assim mais responsável e também mais experiente que os personagens que encarnou anteriormente.
Outro ponto positivo é não deixar Sarah (Campbell) no papel secundário de esposa e mãe. Apesar de ter minhas dúvidas se o filme passaria no teste de Bechdel, ela encontra momentos tanto doces, como a primeira visão que Will tem dela, quanto de ação, sem que a história esqueça que ela é oficial da marinha – o problema é que o ritmo do filme é tão acelerado que não lembramos disso por algum tempo. Da mesma maneira, a história de Thurber não se esquece que Will é um personagem de cérebro e tem que se adaptar, da mesma maneira que faz ao depender de uma perna mecânica: na primeira luta, ele improvisa sua defesa com uma grelha e um pouco depois decide não quebrar uma porta antes de testar a fechadura.
É uma pena que esses esforços vão água abaixo, diferente do fogo que sobe no Pérola. Depois desses detalhes, é difícil tirar mais proveito desse Duro de Matar (Die Hard, 1986, John McTiernan) em anabolizantes. Por dirigir um filme de ação, Thurber acredita que precisa ser o mais explícito possível para dar ao público aquela sensação de anestesia comentada, expondo demais os eventos e deixando pouco para ser apreciado – é uma experiência mais de receber do que entender. Ainda que isso seja próprio de filmes de ação, os grandes clássicos do mesmo estilo sempre deixam uma ponta para que a plateia tente definir motivações ou caráter de personagens.
Como ao entregar ainda nos primeiros quinze minutos de filme qual será a participação do colega de Will, quando apenas um sorrisinho cínico poderia ligar a antena até do mais desatento, a produção trai o espectador. Se pegarmos aquele personagem que no começo, apesar de ser uma montanha de músculos, tem algo de fragilidade, nada parece ficar no caminho de Will: seja a distância de cinco metros entre um guindaste e uma janela ou operar esse mesmo guindaste, o personagem sai da esfera humana e se torna praticamente um super-herói, com direito a fazer vezes de um Superman quando segura uma ponte com a força dos próprios braços.
Então, mesmo com a motivação de ter a família em perigo, Will se torna perfeito apesar de sua deficiência. É como se John McLane se fundisse com o Dr Allan Grant (personagem de Sam Neill em Jurassic Park), mas sem suas falhas. Despido dessa humanidade que estava presente no primeiro ato do filme, fica cada vez mais difícil acreditar que Will encontre um desafio que não esteja a sua altura, pois toda a decisão que toma dá um resultado no mínimo satisfatório, seja no campo que exija força física ou de massa cinzenta. Isso poderia ser resolvido com algum tipo de sidekick (já que aqui o personagem é praticamente um herói de quadrinhos), podendo fazer assim referência a Inferno na Torre (The Towering Inferno, 1974, John Guillermin), o filme que mais lembramos quando assistimos ao de Thurber.
Costumo abordar filmes que tem os próprios protagonistas também na função de produtor com cautela, caso de Arranha-Céu: Coragem Sem Limite. Além das conveniências como o prédio mais seguro do mundo não ter sensor de movimento nas paredes como qualquer banco de alto-padrão, Will não ter o telefone de Zhao para avisar que algo deu muito errado e a solução muito fraca para resolver a eminente tragédia, ter Dwayne Johnson produzindo próprio filme é esperar que ele seja tão protagonista que esqueça de trazer seu personagem para mais perto do público. Brincando de muitas coisas, mas nunca sendo nenhuma delas – inclusão com um personagem deficiente sem falhas, de tecnologia resolvida de maneira rasa –Johnson não se arrisca dando saltos maiores que os que deu fisicamente no filme. E isso vai deixa-lo parecer sempre mais do mesmo.
Elenco
Dwayne Johnson
Neve Campbell
Chin Han
Roland Møller
Noah Taylor
Byron Mann
Pablo Schreiber
Hannah Quinlivan
Direção
Rawson Marshall Thurber (Família do Bagulho)
Roteiro
Rawson Marshall Thurber
Fotografia
Robert Elswit
Trilha Sonora
Steve Jablonsky
Montagem
Michael Sale
Julian Clarke
País
Estados Unidos
Distribuição
Universal Pictures
Duração
102 minutos
Dez anos depois de se aposentar do FBI por causa de uma missão malsucedida, Will Sawyer é hoje um consultor de segurança. Contratado para avaliar os sistemas do maior arranha-céu do mundo, ele se encontra numa situação onde criminosos sabotam o prédio. Agora, ele precisa vencer os próprios obstáculos para salvar a sua família que está hospedada ali.
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