Argo | Crítica | Argo, 2012

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Com Alan Arkin,Ben Affleck[bb], John Goodman[bb], Scoot McNairy, Taylor Schilling, Tate Donovan, Nelson Franklin, Kyle Chandler, Clea DuVall e Bryan Cranston[bb]. Roteirizado por Chris Terrio. Dirigido por Ben Affleck (Atração Perigosa).

“Argo” já começa nos transportando aos anos 1980. Ao invés de usar a marca atual da Warner, o estúdio permitiu que o diretor usasse a versão da época, dando um ar quase retrô ao filme. Ao contar um episódio que ficou por um bom tempo como segredo de estado, Affleck foge da tentação de enaltecer todos os atos de seu país, ao criticar a influência que o governo americano teve no episódio da revolução iraniana em 1979. O filme consegue criar uma ótima atmosfera de drama, e também mistura passagens de comédia ao usar de metalinguagem para criticar também a própria indústria que o sustenta. Juntando isso com um roteiro e personagens bem desenvolvidos, Aflleck e Terrio entregam mais um ótimo filme para melhorar o ano de 2012.

Affleck traz uma brincadeira interessante no filme. Faz uma autocrítica a indústria do cinema, mas também o homenageia, ao mostrar o flashback da história do Irã, desde a época do império persa até a situação do filme, por meio de storyboards, com movimentos de câmeras e ações descritas no papel. Por ser “baseado em fatos reais” o diretor usa do recurso de câmera na mão e mostra momentos da revolta dos iranianos do lado de fora da embaixada americana simulando o efeito de uma câmera 8mm. Isso dá um hiper-realismo, e aumenta a tensão que já é palpável para os diplomatas e civis que estavam no prédio. Num misto de erros, a população consegue invadir a embaixada, que revoltada com o fato dos EUA terem dado abrigo ao deposto Mohammad Reza Pahlevi, faz de todos os presentes reféns para que o governo americano mande de volta o ex-presidente para ser julgado no Irã. Momentos antes, seis diplomatas conseguiram fugir e se esconder na embaixada canadense. A CIA começa a bolar um plano para extraí-los do Irã sem causar um problema diplomático maior ou a morte dos reféns. O especialista no assunto Tony Mendez (Affleck) é trazido por seu surpervisor Jack O’Donnell (Cranston) para ajudar a na situação. Mendez tem seu inferno próprio, com um visual de barba (quase anti-CIA) e despojado (usando um blazer feio e escuro), além de ser dado à bebida. Esses aspectos da personalidade de Mendez são pouco explorados, mas são parte importante do personagem. No briefing, Mendez aponta as várias falhas dos planos de seus chefes, para mais tarde, inspirado por um filme que ele “vê” com o filho, apresenta “o melhor pior plano”: produzir um filme falso com locação no Irã para resgatar os seis diplomatas fugidos.

No ato seguinte, o filme passa a fazer piadas constantes Hollywood, diretores, atores, produtores e a tarefa de ser um cineasta em geral. Mendez contata John Chambers (Goodman) para ajudá-lo na preparação do filme junto com Lester Siegel (Arkin), que fazem o mesmo que Mendez fez com a CIA: o plano precisa parecer convincente, então o filme também tem que ser. Tudo é montado para encenação, desde um poster desenhado por Jack Kirby, storyboards e até a escalação do elenco e a leitura do roteiro. Toda essa mentira, que ganha um tom de verdade por causa da imprensa (“faça a imprensa mentir por você” dizem Chambers e Siegel), é intercalada com interlúdios entre declarações dos iranianos, acusando os diplomatas de serem espiões, e as declarações dos americanos que rebatem, reforçando a falsidade de tudo. Existe um detalhe muito interessante na fotografia de Rodrigo Prieto (de “Compramos um Zoológico[bb][We Bought a Zoo, 2011]) que muda quando o filme dentro do filme é aprovada, ficando mais suja, com falhas e riscos.

"Argo" - Poster brasileiro

“Argo” é um filme extremamente competente. Falhando apenas na falta de profundidade dos problemas de Mendez (além de algumas imprecisões históricas, mas aceitáveis pela carga dramática), tem ótimas atuações de todos os envolvidos, cria momentos com tensão palpáveis, e tem uma história tão maluca que é difícil crer ser verdade. Muito provavelmente por isso é que Affleck, como diretor, inclui durante os créditos fotos e cópias de documentos da ação e uma declaração do então presidente Jimmy Carter. A ação ficou em segredo até 1997, quando o ex-presidente Bill Clinton autorizou que o fato fosse divulgado. A qualidade da produção afirma o diretor como alguém versátil no meio, e me faz querer que ele realmente dirigisse o filme da “Liga da Justiça”.

“Argo” levou o Oscar 2013 nas categorias Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado (Chris Terrio), e Melhor Edição (William Goldenberg).

E concorreu nas categorias Melhor Ator Coadjuvante (Alan Arkin),  Melhor Trilha Sonora (Alexandre Desplat), Melhor Edição de Som (Erik Aadahl e Ethan Van der Ryn) e Melhor mixagem Som (John T. Reitz, Gregg Rudloff, e Jose Antonio Garcia).

“Argo fuckyourself”

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About TIAGO

TIAGO LIRA | Criador do site, UX Designer por profissão, cinéfilo por paixão. Seus filmes preferidos são "2001: Uma Odisseia no Espaço", "Era uma Vez no Oeste", "Blade Runner", "O Império Contra-Ataca" e "Solaris".