Annabelle | Crítica | Annabelle, 2014, EUA
A prequela de Invocação do Mal, contando a história da boneca Annabelle é bom tecnicamente, mas peca com um roteiro fraquíssimo. Leia a crítica!
Com Annabelle Wallis, Ward Horton, Alfre Woodard. Roteirizado por Gary Dauberman. Dirigido por John R. Leonetti (Mortal Kombat: A Aniquilação)
O terror no cinema passa por uma frase tenebrosa, um trocadilho necessário. As franquias apostam em sustos comuns e histórias pouco envolventes, mas Annabelle tinha potencial por vir de um dos filmes mais interessantes do gênero dos últimos anos. Infelizmente, a prequela calca os mesmo erros de sempre, apenas raspando a superfície que foi seu antecessor.
Em 1968, a boneca Annabelle foi levada pelos Warren, como vimos em (The Conjuring, 2013, Dir James Wan). Um ano antes, conhecemos a história pregressa da boneca, de como atormentou o casal John (Horton) e Mia Gordon (Wallis) e da perseguição demoníaca que eles a pequena filha do casal passaram.
Seria injusto dizer que o filme é de todo mau. Nos primeiros minutos, a relação do casal é bem construída; há um paralelo com um momento para situar historicamente o filme – os crimes da família Mason –; e o diretor sabe como posicionar a câmera, principalmente no começo do segundo arco, quando começa a usar travellings verticais – para cima e para baixo – representando, num nível inconsciente, a presença do sobrenatural. Porém, é importante saber que a história é totalmente ficcional (se você acreditar que a outra aconteceu mesmo): os Warren não tem registro de como Annabelle foi parar nas mãos das então donas. E isso é interessante, pois uma história original aumentaria as possibilidades, tendo apenas a amarra que Annabelle estaria inteira para o próximo filme. Ou nem mesmo isso, era só ter um pouco mais de ousadia.
Continuando a elogiar a parte técnica, o filme tem uma ótima montagem. Percebe-se isso no primeiro grande susto – o único, bem da verdade –, quando um fantasma passa de um cômodo para o outro, e na cena de um travelling circular para representar a passagem de tempo e que Mia fica muito sozinha com a filha. E há planos longos para aumentar a tensão, sendo o destaque para a cena do porão: um plano-sequência que parece durar uma eternidade. É interessante também como Leonetti contrasta a câmera com aproximação suave do começo e lentamente a torna mais instável. E há um incômodo constante na presença de Annabelle, e o diretor mostra isso pelo aspecto sujo e com os olhos escuros e penetrantes que a boneca vai adquirindo ao longo do filme, e reforça a situação quando inclina a câmera para potencializar a sensação.
Portanto, Leonetti mostra que seus anos como fotógrafo também foram suficientes para fazer bom cinema. Mas nem mesmo o melhor dos diretores salvaria o roteiro fraco desse filme. A narrativa se arrasta e tem personagens que simplesmente somem. E eles nem precisavam estar lá. A cena que Mia se encontra com duas crianças serve só para a personagem achar que os desenhos macabros foram deixados pelos vizinhos. Mas a clara menção ao que Annabelle fazia com suas mensagens assustadoras no primeiro filme já era o suficiente. O roteiro de Gary Dauberman tenta aplicar um tom de psicólogo em uma história que já sabemos muito de antemão que é terror. Menos é mais: mostrar que Mia teria um perseguidor criança nunca visto seria psicologicamente mais perturbador.
Com pouco a mostrar, Annabelle também tem pouco para se escrever. Não chega a ser a questão dos sustos, seria muito superficial analisar a história só nisso. O problema é que a narrativa perde sentido em momentos-chave, com a aparição do falso padre com os olhos de Annabelle, ou a insistência em personificar o demônio, que parece mais arteiro do que atrás de uma alma. Mesmo dentro da mitologia, aquele ser não faz sentido: um momento parece querer matar Mia, no outro quer a alma dela – que deveria ser entregue de grado. Esperemos então uma próxima leva, porque James Wan não vai ajudar o gênero pra sempre.
Veja o trailer de Annabelle
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