Trash – A Esperança vem do Lixo | Crítica | Trash, 2014, Reino Unido

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Trash – A Esperança vem do Lixo traz um novo e incrível elenco. Mistura aventura, violência, crítica social e agrada a todas as idades.

Trash, 2014

Com Rickson Tevez, Eduardo Luis, Gabriel Weinstein, Wagner Moura, Selton Mello, Martin Sheen, Stepan Nercessian e Rooney Mara. Roteirizado por Richard Curtis (Cavalo de Guerra), baseado no romance de Andy Mulligan. Dirigido por Stephen Daldry (Tão Forte e Tão Perto)

8/10 - "tem um Tigre no cinema"Trash – A Esperança vem do Lixo é um filme para quebrar alguns paradigmas, pois se trata de uma produção inglesa com alma brasileira. O diretor Stephen Daldry trata com respeito o nosso cenário ao apostar em atores brasileiros, quando seria bem mais fácil usar gente falando sua língua nativa. Para quem é daqui, há uma sensação de familiaridade. Quem vê de fora, de veracidade. Afinal de contas, quantas vezes você achou estranho alguém falar em inglês e ser respondido em russo? Além disso, é um ótimo drama que mistura aventura, violência e o senso de justiça, que pode existir até nos mais feio dos lugares.

Os meninos Rafael (Tevez) e Gardo (Luis) vivem do recolhem em um dos lixões do país. Quando os dois acham uma carteira pertencente a José Ângelo (Moura), eles contam com a ajuda de Rato (Weinstein) para descobrir os segredos de um código que estava dentro dela. Enquanto isso, o detetive Frederico (Mello) começa uma busca pela carteira, o que coloca o policial corrupto no caminho dos três amigos.

Daldry foi bem assessorado pelo cineasta Walter Salles e a produtora O2. Decidido a filmar no Brasil – a obra original trata de um país fictício – o design de produção fez de tudo para dar uma cara brasileira autêntica ao filme. Apesar de um momento ou outro ser lugar-comum, em nenhum momento você acha estar fora do país. A pesquisa de campo é fidedigna com a realidade de muitas pessoas que tem vasculhar restos para sobreviver. Apenas na escolha das músicas que há um ligeiro tropeço, mas isso vindo de alguém que está inundado por essa cultura. Quem a desconhece ou a conhece muito pouco não sentirá esse incômodo.

O ponto mais acertado do filme é não fazê-lo um filme de Wagner Moura, nem de Selton Mello; ou, para os estrangeiros, nem de Rooney Mara ou Martin Sheen. José Ângelo aparece morto com menos de cinco minutos de filme, o que dá espaço para que os três jovens estreantes tenham o destaque digno para viver a própria aventura.

Como se não bastasse a situação triste que Rafael e os outros vivem, Daltry mostra de modo bem singelo e triste a realidade do jovem. Na primeira vez que o vimos catando lixo do caminhão para fazer os trocados do dia, ele pega uma pequena bola de futebol amarela, que contempla por alguns segundos. O garoto, com seus 13 anos, a descarta logo depois, pois entende que, pelo menos para ele, não há tempo para brincar. A descoberta da carteira é que lhe traz alegria: a divisão do valor dela com o amigo Gardo, a possibilidade de ter um almoço mais substancial é comemorada, mas é a chave laranja que lhe chama a atenção, junto com os papeis com números e um calendário com datas circuladas. É uma semente plantada nesse rapaz que também quebra paradigmas: faz parte de uma comunidade liderada pelo Padre Julliard (Sheen) e sua assistente Olivia (Mara) onde aprende inglês. Mesmo com pouco, ele tem vontade de mudar a sua realidade.

E o dois, apesar de partilharem aquela realidade, tem percepções diferentes do mundo. Rafael desconfia logo das perguntas de Frederico por uma história pregressa – e não contada – com a polícia. Gardo é menos cuidadoso, e se vislumbra com a possibilidade de ganhar mais com o objeto encontrado. Por isso, entendemos que ele se entregue tão rapidamente ao detetive, muito observador e calmo nos seus questionamentos, mas que já sabemos ser muito perigoso.

A presença de Rato também serve para mostrar que existe um submundo dentro daquela realidade que já é problemática. O garoto órfão – aliás, como os outros – vive ainda mais isolado, dentro do sistema de esgotos da favela, tendo que lidar com as feridas do corpo adquiridas ao longo dessa exposição. Em certo momento, ele diz para Rafael que uma vez viveu na praia, pescando como trabalho. Parece uma fala de um passado distante, ou até que faz parte da imaginação do garoto, e sentimos mais pena ainda de sua situação.

Lógico que a aventura dos três precisa passar por perigos, que tem a sua óbvia crítica social. Quando Rafael é torturado pela polícia, não é com socos e pontapés. Ao ter a cabeça ensacada e ser colocado na parte de trás de uma viatura, e depois no porta-malas, o diretor não culpa apenas um ou outro policial corrupto, mas sim um sistema inteiro. Nessa sequência, Daldry dá um tom mais pesado e crítico ao filme: um paralelo da dominação dos mais fortes sobre os mais fracos.

Também é importante notar que a presença de Santos (Nercessian) um político corrupto que é o chefe de Frederico está presente nas partes mais tensas da perseguição aos três, mas de modo figurado. Quando os três estão sendo perseguidos, é fácil notar um outdoor, um santinho ou adesivo do candidato ao fundo, mostrando o verdadeiro algoz da trama, que não quer sujar as mãos.

Trash - A Esperança vem do Lixo | Pôster brasileiro

Apesar de seus pequenos exageros – todos os três serem ótimos memorizadores, toda a polícia ser corrupta – Trash – A Esperança vem do Lixo lida com outros temas, como a providência e a imprevisibilidade das coisas, e o conto de amizade e coragem brinda o público jovem adulto com uma visão que, finalmente, não é um futuro distópico. Apesar de violento, eles irão se identificar com os personagens, ainda que não façam parte daquela realidade. E isso é bom, pois conhecer um pouco mais do mundo que nos cerca não fará mal nenhum.

Veja o trailer de Trash – A Esperança vem do Lixo

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About TIAGO

TIAGO LIRA | Criador do site, UX Designer por profissão, cinéfilo por paixão. Seus filmes preferidos são "2001: Uma Odisseia no Espaço", "Era uma Vez no Oeste", "Blade Runner", "O Império Contra-Ataca" e "Solaris".