Alice Através do Espelho | Crítica | Alice Through the Looking Glass, 2016, EUA
Sem graça e sem alma, Alice Através do Espelho é o pior da indústria cinematográfica: um entretenimento belo e vazio.
Com Johnny Depp, Anne Hathaway, Mia Wasikowska, Rhys Ifans, Helena Bonham Carter, Sacha Baron Cohen, Alan Rickman, Stephen Fry, Michael Sheen e Timothy Spall. Roteirizado por Linda Woolverton, baseado nos personagens de Lewis Carroll. Dirigido por James Bobin (Muppets 2: Procurados e Amados)
Se a primeira adaptação do universo de Lewis Caroll nas mãos de Tim Burton era uma aventura passageira, a continuação é menos que um reflexo do primeiro. Alice Através do Espelho peca por se concentrar demais no vislumbre visual que é – tanto que a sinopse dada no canal oficial do Youtube da Disney destaca mais as partes técnicas – sem ter o cuidado de criar uma história no mínimo cativante. Pelo contrário, é uma narrativa óbvia demais, que mal serve para divertir o espectador ou até mesmo crianças. É o retrato extremo dos blockbusters, feito na esperança de arrancar algum dinheiro da plateia incauta.
Impossível negar a qualidade técnica dos efeitos especiais do filme de James Bobin. Até mesmo o 3D – convertido – funciona bem, mesmo que seja apenas esteticamente, no que o filme se prende. O design de produção dos novos mundos, como o castelo do Tempo (Cohen) ou os guardas da Rainha Vermelha (Carter), baseados nas artes de Giuseppe Arcimboldo, não passam despercebidos. Nos figurinos, é interessante notar que o visual dado ao Chapeleiro Louco (Depp) ficam mais sóbrios na sua loucura, uma sacada bem inteligente para mostrar a tristeza do personagem que vai perdendo as cores e o próprio jeito ao se decepcionar quando Alice (Wasikowska) não acredita nele.
Porém esse visual, todo o universo colorido e fantasioso de Bobin é só uma casca. Narrativamente não serve em nada para a história. É um filme um tanto bipolar, inclusive, ao se perder entre a fantasia e a ficção científica: ao inserir a Cronoesfera na trama – aliás num visual que lembra muito A Máquina do Tempo (The Time Machine, Dir George Pal, 1960) – o País das Maravilhas perde seu elemento mágico, numa necessidade de explicar como a viagem do tempo seria possível por meio de uma engenhoca. De novo, visualmente o passeio de Alice através dos mares do tempo, fazendo um paralelo com sua profissão, é deslumbrante. Porém, a explicação mais mágica funcionaria melhor.
Aliás, o maior defeito da história é tentar explicar as particularidades daquele mundo. Já que a história original havia sido base para o filme de 2010, Linda Woolverton criou uma história praticamente do zero, costurando alguns elementos que ainda não tínhamos visto do conto de 1871. Então, para alongar a narrativa sem sentido, o filme perde um tempo considerável em explicar o tamanho desproporcional da cabeça da Rainha Vermelha, a origem da má relação dela com irmã, a Rainha Branca (Hathaway), e como o Chapeleiro e seus companheiros de mesa ficaram meio malucos. E tudo isso porque a história central não se sustenta.
Temos que dar crédito à personalidade de Alice, uma mulher forte ao ponto de ser capitã de um navio que cruza o oceano num cenário onde era impossível acontecer – reforçando sua opinião sobre a palavra impossível. Também é importante apontar como o roteiro lida com a sociedade misógina quando os antagonistas do mundo real tratam Alice como inábil para a posição de liderança e, como muitos homens já fizeram, taxam a jovem de louca. E é engraçado como a protagonista dá volta neles, inclusive no Tempo, de maneira ao mesmo tempo simples e certeira.
Infelizmente, Alice Através do Espelho é puro visual com pouco conteúdo. Há piadas boas, mas o roteiro é fraco por não nos fazer acreditar nas atitudes de personagens, principalmente nas de Miranda, a Rainha Branca, que não se mostra a mais inteligente das monarcas ao propor um plano que poderia acabar com o seu reino, além não usar do exército que tem ao seu dispor no terceiro ato por nada menos que conveniência, servindo só para arrastar a narrativa. É uma produção tão sem propósito que até mesmo Jhonny Depp deixou de lado a interpretação anterior do Chapeleiro – parece até que tinham trocado o ator em alguns momentos – e é triste perceber isso, confirmado a falta de espírito da produção.
Veja o trailer de Alice Através do Espelho
Sinopse oficial
“O filme traz de volta vários dos principais profissionais da equipe de Alice no País das Maravilhas (Alice In Wonderland), incluindo o compositor premiado Danny Elfman (50 Tons de Cinza, Big Eyes, O Lado Bom da Vida), a figurinista três vezes ganhadora do Oscar® Colleen Atwood (Memórias de uma Gueixa, Chicago), ganhadora do Oscar, do BAFTA e do Satellite, entre outros, por seu trabalho em Alice no País das Maravilhas, e o supervisor de efeitos especiais, cinco vezes vencedor do Oscar Ken Ralston (Forrest Gump – O Contador de Histórias, Star Wars Episódio 6: O Retorno de Jedi), ganhador do prêmio Satellite de melhor efeito visual por Alice no País das Maravilhas (Alice In Wonderland)”.
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