Aliados | Crítica | Allied, 2016, EUA
Aliados consegue prender a atenção pela empatia criada com os protagonistas, apesar de tropeçar ao desenvolver personagens e o andamento da história.
Elenco: Brad Pitt, Marion Cotillard, Jared Harris, Simon McBurney, Lizzy Caplan | Roteiro: Steven Knight | Direção: Robert Zemeckis (A Travessia) | Duração: 124 minutos
Há em Aliados ótimos momentos, principalmente para quem gosta de filmes de época. No entanto a produção falha em desenvolver personagens e o segundo ato. Mas graças ao esforço de Knight e a Zemeckis conseguimos criar uma empatia sincera com a dupla de protagonistas, algo potencializado pela atuação esplêndida de ambos. Mas esse querer fica relegado a outros momentos do roteiro que lapidam com menor atenção os outros elementos do filme, o que é uma pena quando consideramos o carinho que criamos pela dupla.
Knight nos prega peças durante a grande dúvida que paira sobre Max (Pitt), o que, como filme do gênero policial, é uma jogada inteligente. Mesmo sabendo de antemão a suspeita de que Marianne (Cotillard) é uma espiã – algo que poderia ser colocado sem problemas em uma sinopse – o que importa é decifrar as peças do quebra-cabeça e decidir se o cenário faz sentido. Então a situação que Max se encontra no prólogo serve de metáfora nessa situação. Caindo de paraquedas no deserto você tem que confiar no que dizem. No caso, que haverá um carro te esperando; mas as dúvidas não irão embora até o momento em que você encontra-lo.
Entender Max é bem mais fácil e roteirista e diretor conseguem expressar isso com curtas ações do personagem. Ao invés de dizerem, por Marianne ou por narração off, que o canadense é uma pessoa calma e centrada – até mesmo fria – o diretor apresenta o personagem de maneira sóbria, sem muita conversa e quando precisa agir numa situação de perigo se move quase silenciosamente e de maneira precisa. E simbolicamente, notemos na cena do almoço que ele tem com Marianne – antes de entrarem em ação em Casablanca – como Max se mantém sem suar, apesar do calor do Marrocos. Não é a única característica do personagem, mas é a que Zemeckis quis mais marcar.
Já Marianne, tratada pelo figurino elegante, muitas vezes vestida em seda, como uma femme fatalle, é mais difícil de ser destrinchada. Passando o filme em nossas mentes o que nos perguntamos é se as ações da francesa são naturais ou não – o espelho posicionado dando a Max um vislumbre de sua nudez foi acidental? Ela realmente teve problemas em destravar uma arma? – e isso é intrigante. Quando há a virada da vida pacata para a realidade da guerra é que começamos a nos fazer essas perguntas, pois nesse momento nos já nos afeiçoamos com aquele casal que no meio da tragédia da guerra se tornaram uma família.
Depois de um começo muito interessante é no segundo ato que o filme perde muito o ritmo. É compreensível que Zemeckis quis reforçar a imagem do casal, mas há momentos desnecessários para a trama – por exemplo, qual é o sentido de Max ir até a irmã e contar que Marianne estava sendo investigada por traição? É uma ação que não rende em nada para a história. Mesmo no primeiro ato há exageros, como Max, disfarçado, fazer uma exibição de como embaralhar cartas – o que vai ao contrário de sua personalidade centrada já estabelecida anteriormente. O que acontece praticamente durante o segundo ato todo até praticamente o fim tem pouco interesse, um falta de lapidar a história no geral para ser mais dinâmica.
Visualmente é uma produção muito rica. E isso não se resume somente aos efeitos especiais que desde O Voo (The Flight, 2012) o diretor tem usado muito bem em favor da narrativa ao recriar cenários e situações típicas de uma guerra de escala mundial. Mas também existem detalhes no cenário da casa de Max e Marianne com a arma e o uniforme pendurado, presentes, mas querendo que sejam esquecidos; a aquarela de Marianne não finalizada, como se estivesse esperando pelo fim da guerra; os dois e sutis slow motions que marcam o momento que Max se apaixona por Marianne e mais à frente quando ele recebe a pior das missões.
Quando os personagens entram em termos, o que demora, resta torcer para que tudo dê certo. E nesse ponto tanto diretor quanto roteirista acertam. De certo modo a trama representa uma face da guerra que nem sempre é abordado na ficção. Seja a primeira ou a segunda Guerra Mundial, quem sofre é quem fica. Claro que isso não é exclusivo a cenários de conflitos bélicos e mundiais, mas o fechamento da história, onde apesar de óbvio não poderia existir outro, resume o sentimento de pacifistas e daqueles que mais sofreram por causa de perdas. No fim das contas, ainda que o romance tome tempo na narrativa, ele serve para dar uma esperança aos protagonistas que nos apegamos.
Como comentamos em Feliz Natal (Joyeux Noel, 2014, Christian Carion) que as autoridades acima de nós pedem que esqueçamos nossa humanidade nesses períodos tão horríveis. O inimigo é o inimigo e ponto final. Com Aliados Zemeckis reforça o discurso do que nos faz ser humanos, mesmo que o percurso que percorremos com Max e Marianne seja um tanto arrastado por queremos soluções. O importante fica nessa desconstrução que nos pedem. Ainda que nem todos nós um dia esteve na linha de frente, vivemos esse discurso de ódio: imigrantes, muçulmanos, população LGBTQ. Sempre alguém quer criar inimigos em nome de alguma coisa que não sabemos bem definir. A falta de empatia parece ter sido o estopim para essa produção, e pensar por essa expectativa é importante, ainda que o filme em si tenha problemas.
Aliados | Trailer
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Aliados | Galeria
Créditos: Divulgação
Aliados | Sinopse
Quando Max Vatan (Pitt), um oficial da inteligência canadense conhece a combatente da Resistência Francesa Marianne Beausejour (Cotillard) durante uma missão em Casablanca durante a Segunda Guerra Mundial eles estão apenas cumprindo ordens. Mas os dois se apaixonam e se mudam para Londres ainda durante a guerra. Mas Marianne é acusada de alta traição e Max tem apenas 72 horas para provar a inocência da esposa.
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