A Morte do Demônio | Crítica | Evil Dead, 2013, EUA
O remake de A Morte do Demônio, mesmo mudando a história, é extremamente previsível e tem uma direção bem acadêmica.
Com Jane Levy, Shiloh Fernandez, Lou Taylor Pucci, Jessica Lucas e Elizabeth Blackmore. Roterizado por Fede Alvarez e Rodo Sayagues, baseado no original de Sam Raimi. Dirigido por Fede Alvarez.
Existe uma previsibilidade irritante em todos os quadros do remake “A Morte do Demônio”. Fede “piada pronta” Alvarez sabe fazer cinema. As melhores parte do filme estão no seu jeito acadêmico de fazer as coisas e no trabalho que não usou efeitos especiais de computador. É notório que o diretor compreende a linguagem cinematográfica e sabe aplicá-la. Mas é só isso. O filme tem uma bela capa, mas o resultado é uma história que não diverte, oca e decepcionante.
Os primeiros cinco minutos do filme são completamente desnecessários, um engodo para explicar a maldição. É insegurança demais dos roteiristas em querer explicar tudo de uma vez, uma avidez inexplicável por informação. A história principal conta como David (Fernandez) faz uma viagem até a cabana da família na tentativa de ajudar a irmã Mia (Levy) a se livrar das drogas, contando com a presença dos amigos Eric (Pucci), Olivia (Lucas) e da namorada de David, Natalie (Blackmore). Isolados para que Mia não tenha uma recaída como na vez anterior que tentou se limpar, os amigos decidem que não deixarão que ela saia de lá até que os efeitos da abstinência passem. Mas Eric e David acham no porão os rastros do ritual realizado na introdução do filme junto do Naturom Demonto, ou o Livro do Mortos – que por alguma razão foi deixado para trás, ao invés de ser pelo menos enterrado – e quando David lê algumas passagens do livro que foram anotadas, o grande mal é libertado.
O começo da trama é filmada num plano plongé, aquele que é chamado também de olho de Deus, que tem uma certa relação com o metafísico. A luz que permeia tanto o lado de fora como o de dentro da cabana é sempre encoberta. Existe uma sensação de claustrofobia mesmo nas tomadas externas. A fotografia, para aumentar esse mal estar, tem um aspecto cru e muitas vezes sujo, assim como trabalho visual nos personagens, que parecem estar dias sem tomar um banho sequer, com exceção de David. Tudo isso para dar um ar repugnante à história. É uma pena que todo esse trabalho do design de produção e de figurinos não sustente o fraco roteiro.
A maquiagem é decepcionante. Para um filme de terror, colocar um lente amarelada e uns respingos de xarope não é suficiente. Apesar dos elogios que teci na sincera tentativa do diretor de criar um clima desesperador, a única cena de tensão é a que ocorre quando Mia tenta se desvencilhar dos espinhos apenas para se apertar mais, e é justo dizer que a possessão da protagonista também é perturbante de ser vista.
Mas a suspensão de descrença foi jogada para o alto. Não é problema nenhum você aceitar certos fatos na narrativa – por exemplo, um sacrifício final exaurir todas as suas forças – mas o roteiro de Alvarez e Sayagues abusa do espectador. A enfermeira Olivia diz que na cabana Mia teria o mesmo tratamento que num hospital. Só se for no de Serra Leoa. Também não é possível comprar a ideia de que Eric conseguiu tirar tantas informações do Naturom a partir das traduções que já existiam, que são descritas quase como “porcas”, e de um dicionário. Sim, o diretor, desesperado para justificar a habilidade do hippie em ser o entendedor da história, foca com a câmera a consulta a um dicionário de bolso qualquer que, por acaso, estava com Eric.
Este filme mira um público ávido por violência e sangue, o que não tem nada errado. O problema é a execução. Não basta apenas um milhão de litros de sangue falso caírem do céu para marcar o filme. Vai no máximo parecer uma homenagem fraca à estética que Quentin Tarantino tem em suas produções. Faltou muita lapidação em todos os momentos. Outro ponto irritante é a trilha sonora. É horrível, tem péssimo uso e acha que surpreende com seus coros em crescendo nos momentos mais tensos, um princípio que está datado há pelo menos vinte anos.
Mas a “Morte do Demônio” morre, perdão do trocadilho, no roteiro. Não tem com escapar. Além dos furos de roteiro – principalmente na contagem das possessões e do esquecimento do conceito de “purificação por fogo” tão usada como base – ele é um empréstimo de outros filmes. Então, preparem-se para ver tomadas claramente tiradas de “Poltergeist” (Poltergeist, 1982), “O Exorcista” (The Exorcist, 1973) e Jun-On – O Grito (Ju-On, 2002). E vejam que até agora eu não comparei com os originais de 1981 e 1987, porque seria demasiada covardia.
Existem momentos bons? Claro que sim! O principal é o uso de efeitos práticos. Então todo membro decepado, vômito e outras partes grotescas são feitas sem nada de CGI, o que deixa o filme com um certo ar de veracidade. Pena que não é suficiente para salvar a produção. E se você ler esta crítica antes de ir ao cinema, fica a sugestão de esperar o fim dos créditos. Mas é triste constatar que essa surpresa é a melhor coisa dos 90 minutos de filme.
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