300: A Ascensão do Império | Crítica | 300: Rise of an Empire
300: A Ascensão do Império é uma caricatura mal feita do primeiro filme.
Com Sullivan Stapleton, Eva Green, Lena Headey, Hans Matheson, Yigal Naor, Gerard Butler e Rodrigo Santoro. Roteirizado por Zack Snyder e Kurt Johnstad. Dirigido por Noam Murro.
Imagino a conversa que o diretor Noam Murro e seus dois montadores tiveram:
“Pronto, fechamos com 90 minutos.”
“Não dá. Preciso de 100 no mínimo. Usem mais slow-motion.”
“Mas já está cheio dele.”
“Não importa, usem em todo resto. Nas cavalgadas, nas pás dos remos em cada corte. Quero slow-motion em TUDO.”
Isso que é a continuação de 300 (300, 2007): uma caricatura do eficiente filme de Zack Snyder, onde Murro apostou que a assinatura mais básica do diretor – abandonada em O Homem de Aço (Man of Steel, 2013) – seria suficiente para criar um bom filme de ação. O que temos é o oposto. Uma produção sonolenta e sem inspiração.
Paralelamente à Marcha dos 300 do Rei espartano Leônidas (Buttler) para impedir o avanço do Deus-Rei Xerxes (Santoro), Temístocles (Stapleton) – herói da Batalha da Maratona – tenta fazer o mesmo contra a esquadra marinha persa liderada por Artemísia (Green). Assim como os espartanos, os atenienses estão em menor número e esperam que o resto da nação se una contra o inimigo comum no sonho de Temístocles de uma Grécia unida.
Esta crítica não é uma aula de história, assim como não é o filme. Mas apenas para citar alguns aspectos: Dário I (Naor) não morreu como mostrado, e Artemísia não comandou a marinha persa na Batalha de Salamina. Ela é descrita pelo poetas gregos sendo a única mulher com poder de comando quando Xerxes era rei. O papel dela é centralizado, numa atitude interessante dos roteiristas, como antagonista da presença da Rainha Gorgo (Headey). Mas num filme que resolve explicar magicamente porquê Xerxes tem aquela altura desproporcional, anda e fala do jeito afetado que irritou os iranianos no filme de 2007, imprecisões históricas são meros detalhes.
Por que essa necessidade? É apenas outro artifício para aumentar a duração do filme. Pode haver quem discorde, mas a sensação é essa. Junte a eterna narração off de Gorgo, os dois flashbacks, e uma fotografia escura que fica ainda mais por causa dos óculos 3D, e temos um manual de como fazer a audiência pegar no sono em menos de trinta minutos.
É interessante ver como a personalidade de Artemísia rouba a cena. Mas na premissa de mostrar uma mulher forte como antagonista, o roteiro falha miseravelmente em colocar Temístocles como um herói crível. Suas falas de incentivo não chegam aos pés do que vimos sair da boca de Leônidas – claro, tudo graças a Frank Miller na HQ que inspirou o filme – e ele sequer tem carisma. A parte da história em que ele mais poderia se mostrar é na luta, por assim dizer, entre ele e comandante persa que oferece uma união de forças por estar perdendo muitas embarcações.
Aqui é necessário acrescentar que essa estrutura é a mesma que Xerxes tenta impor a Leônidas na história anterior. A diferença é que aqui existe sexo. E apesar de ser interessante ver a situação no estilo quem vai dominar quem, ou quem vai ceder, é preciso lembrar que a mesma Eva Green fez a mesma coisa em Sombras da Noite (Dark Shadows, 2012). Se fosse outra atriz, esse fato passaria despercebido.
Durante a projeção é perceptível que Murro tentou dar originalidade ao filme. Mas isso acontece muito mal e é cheio de lugar-comum. Existe uma diferença básica na vestimenta de Temístocles e os atenienses, que vestem azul ao invés de vermelho, e na já citada fotografia cinzenta em oposição ao dourado dos espartanos. Além disso, a produção emula outros aspectos de Snyder. É bom lembrar que o aspecto artificial do primeiro filme aconteceu para redução de custos, e criou uma estética. Nesse filme, a sensação é muito mais parecida como jogar video-game. Não existe um ponto de descanso ou de reflexão. E se o slow-motion do primeiro filme já era considerado exagerado, aqui é aplicado arbitrariamente seja em momentos de ação ou numa simples cavalgada.
300: A Ascensão do Império vem sem muito a dizer. As repetições constantes de falas e cenas que aconteceram trinta minutos antes tiram qualquer ritmo que a história poderia ter. E o exagero da estética para compensar isso torna a experiência mais irritante. Poucos momentos são marcantes, como os detalhes das marcas das mãos e das costas dos barqueiros persas – relembrando que eles são escravos – e ao mostrar a superioridade dos persas, quando é preciso dois navios atenienses para quebrar apenas um dos de Xerxes são os poucos que valem a pena. No close final, onde as fotografias douradas e cinza se unem ao mesmo tempo que Temístocles e Gorgo, você pode ouvir o executivos do estúdio gritando ao fundo “continuação! continuação”! Se essa história serviu para alguma coisa foi para alertar Frank Miller do que NÃO fazer na sua já programada sequência em quadrinhos de 300.
Veja abaixo o trailer de 300: A Ascensão do Império