Sully: O Herói do Rio Hudson | Crítica | Sully, 2016, EUA

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Sully: O Herói do Rio Hudson é mais uma produção ufanista de Clint Eastwood e com alguns pontos positivos.

Sully: O Herói do Rio Hudson (2016)

Elenco: Tom Hanks, Aaron Eckhart, Laura Linney | Roteiro: Todd Komarnicki | Baseado em: Highest Duty: My Search for What Really Matters (de Chesley Sullenberger e Jeffrey Zaslow) | Direção: Clint Eastwood (Sniper Americano)

7/10 - "tem um Tigre no cinema"Clint Eastwood dirige mais um filme de Clint Eastwood. A redundância não é exagerada pois Sully: O Herói do Rio Hudson é feito por um estadunidense para os estadunidenses – o que em si não é um problema. A questão é que o diretor não se decide se quer fazer um filme narrativo ou um documentário. Se não fosse essa aura que envolve o filme e outras escolhas de montagem que não permitem que a história vá para frente, a produção se sairia melhor. Por outro lado, é uma homenagem às pessoas que manejam pequenos ou grandes atos no seu dia-a-dia e às diferenças que elas fazem nas vidas das pessoas à sua volta.

É verdade que a ideia de Eastwood é emocionar uma audiência ainda ferida pelos eventos de 11 de setembro. Sem meias palavras, a história é para homenagear Sully (Hanks) e outros personagens não nominados que fazem seu trabalho todos os dias: a polícia de Nova York, o corpo de bombeiros, a guarda costeira. Enfim, é um filme bem ufanista, o que vai afastar de qualquer pessoa que veem os EUA como uma nação imperialista e intrometida, sentimento oposto a qualquer cidadão de lá quando for ao cinema. Mas é importante analisar mais os signos que Sully e os outros representam.

Chama-lo de herói o transforma num símbolo, algo que qualquer sociedade, em tempos como o que vivemos, busca. E não é de hoje e nem é exclusivo daquele país – vide pessoas no Brasil usando camisetas de Sergio Moro –, ainda que seja uma visão maniqueísta. Então é compreensível a atenção dada ao piloto que quase sufoca por tantas câmeras, apertos de mãos e abraços de desconhecidos – e o protagonista absorve a pressão vivendo na sua mente tudo o que poderia ter dado errado, num estresse tão grande que seus devaneios pulam de seu sono para virar um sonho lúcido. E tecnicamente falando, é importante assistir numa sala IMAX por causa das imagens e principalmente da mixagem de som.

Na tentativa de humanizar a trama e mostrar mais pontos de vista do pouso forçado no Rio Hudson, Eastwood cansa um tanto, apesar da duração do filme. Vemos o acidente mais de uma vez, por vários pontos de vista, mas eles não acrescentam muito narrativamente falando. Não temos informações relevantes a cada queda do Airbus A320. E ao picotar as histórias de vários participantes, não temos tempo de criar um laço afetivo com eles. Seria bem melhor escolher um para desenvolver e evitar idas e vindas à narrativa, pois quando chegamos ao momento do julgamento da NTSB, já tínhamos visto o fato pelo menos três vezes. Inclusive há um momento bem desonesto no roteiro, onde Sully delira com uma apresentadora de TV dizendo existir uma “nova descoberta”, algo que não se concretiza.

Infelizmente não é o único problema da história, pois Komarnicki e Eastwood não conseguem fechar a narrativa. Existe um pequeno arco com Lorraine (Linney), esposa de Sully, que não é concluído, assim como o final em si. Não existe uma conclusão e por mais que o diretor tenha tido a intenção de focar apenas na visão do piloto – o que não é verdade, considerando os múltiplos pontos de vista – a tela vai para o preto com a clara sensação de que Eastwood não sabia como terminar a história. Faltou tato para complementar a história, que poderia até ser ficcional já que Eastwood escolheu fazer uma história romanceada e não um documentário.

Mesmo assim, o terceiro ato, onde ouviremos pela primeira vez a caixa preta do Airbus pilotado por Sully, carrega tensão. Seja sabendo ou não o resultado, Eastwood foca em caras apreensivas, sendo a que mais carrega o sentimento é a do piloto – aliás, um ponto positivo é atuação de Hanks – e por mostrar o tempo das simulações praticamente em tempo real, quase os 208 segundos do caso original, o diretor nos deixa curioso com os resultados. Isso porque momentos antes Sully estava muito confiante no seu pedido de acontecerem simulações e ficamos com um fio de esperança tensionado a ponto de uma faca de manteiga poder cortá-lo.

A escolha de Tom Hanks também é interessante, simbolicamente falando. Ou melhor, o modo que o ator é apresentado. Se buscarmos na nossa memória, é bem difícil um astro hollywoodiano aparecer grisalho – há exceções, como Tom Cruise em Colateral (Collateral, 2004, Michael Mann) – e por não estarmos acostumados com Hanks assim, o peso dos cabelos brancos do verdadeiro Sully é bem maior, deixando o ator mais próximo de nós. E isso resume um tanto a intenção de Eastwood em fazer uma identificação entre produção e audiência, esse o maior trunfo do filme. Ao entendermos que Sully, a tripulação do voo AWE1549 e as forças citadas poderia ser qualquer um é que está a maior mensagem do filme.

Sully: O Herói do Rio Hudson é uma ode de Eastwood às pessoas que vão muito além do seu trabalho. Há algumas decisões preguiçosas do diretor, como a cada flashback ouvirmos os sons de turbinas – pelo menos no primeiro deles, passado na juventude de Sully, a fotografia ganha tons amarelos e cálidos – para marcar que estamos viajando no tempo. É uma produção nacionalista no seu cerne e mesmo que passe a ideia de homenagear heróis conhecidos e desconhecidos, não deixa de lado a mensagem de como ele acredita na grandiosidade de seu país, o que é também um tipo de posição política.

Sully: O Herói do Rio Hudson | Trailer

Sully: O Herói do Rio Hudson | Pôster

Sully: O Herói do Rio Hudson | Cartaz

Sully: O Herói do Rio Hudson | Imagens

Sully: O Herói do Rio Hudson | Imagens

Sully: O Herói do Rio Hudson | Galeria

Sully: O Herói do Rio Hudson | Galeria

Sully: O Herói do Rio Hudson | Galeria

Sully: O Herói do Rio Hudson | Galeria

Sully: O Herói do Rio Hudson | Galeria

Sully: O Herói do Rio Hudson | Galeria

Sully: O Herói do Rio Hudson | Sinopse

“Em 15 de janeiro de 2009, o mundo testemunhou o ‘Milagre no Hudson’, quando o Capitão ‘Sully’ planou com seu avião danificado até cair nas águas geladas do Rio Hudson, salvando as vidas dos 155 passageiros a bordo. Contudo, apesar de Sully ser saudado pelo público e pela mídia por seu feito sem precedentes na história da aviação, inicia-se uma investigação que ameaça sua reputação e sua carreira”.

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About TIAGO

TIAGO LIRA | Criador do site, UX Designer por profissão, cinéfilo por paixão. Seus filmes preferidos são "2001: Uma Odisseia no Espaço", "Era uma Vez no Oeste", "Blade Runner", "O Império Contra-Ataca" e "Solaris".