Wolverine – Imortal | Crítica | The Wolverine, 2013, EUA
Wolverine – Imortal é infinitamente melhor que seu antecessor, mesmo com erros de percalço.
Com Hugh Jackman, Haruhiko Yamanouchi, Tao Okamoto, Rila Fukushima, Hiroyuki Sanada, Will Yun Lee, Svetlana Khodchenkova e Famke Janssen. Roteirizado por Christopher McQuarrie (Jack Reacher – O Último Tiro), Mark Bomback (O Vingador do Futuro) e Scott Frank (Minority Report). Dirigido por James Mangold (Garota, Interrompida).
O bom senso imperou no retorno de um dos mutantes favoritos ao cinema. Ignorando o péssimo “X-Men Origens: Wolverine” (X-Men Origins: Wolverine, 2009), o diretor James Mangold trouxe às telas um personagem com suas características clássicas. Vemos um Wolverine violento, o que se reflete no filme a dose necessária de sangue que o anterior deixou de lado. O roteiro tem pequenos defeitos mas é, na maioria dos momentos coeso, sombrio e com doses comedidas de comédia. A direção segura e a ação faz a produção se destacar entre os filmes mais recentes da Marvel Comics.
Logan (Jackman) se isolou depois dos eventos de X-Men: O Confronto Final (X-Men: The Last Stand, 2006), onde teve que matar sua grande paixão, Jean Grey (Jansssen) que estava possuída pela Fênix. Mas ela ainda o visita em sonhos. Essa culpa consome o mutante, que sabe que seus poderes o fazem imortal. Ele é encontrado por Yukio (Fukushima), que trabalha para o milionário Ichirō Yashida (Yamanouchi), um japonês que Logan salvou a vida durante a Segunda Guerra Mundial. Yashida, à beira da morte, oferece a chance para que seu salvador ganhe a mortalidade, passando seu fator de cura para outra pessoa. Mas quando o velho japonês morre sem convencer Logan de fazer o procedimento, o canadense se encontra no fogo cruzado entre a Yakuza e a neta de Yashida, Mariko (Okamoto). Mas algo acontece com o mutante, que tem sua capacidade de se regenerar altamente diminuída. Agora ele deve descobrir o que acontece enquanto protege a jovem japonesa.
O filme conta com poucos e curtos flashbacks, e isso dá uma ótima dinâmica ao filme. Começa com Logan preso num campo de concentração japonês, para logo depois voltar ao ritmo normal da história. Mostrando-se um diretor muito experiente, Mangold foge da tentação de reprisar cenas do filme de 2006, fazendo a referência apenas em um pesadelo, com as garras de adamantium fincadas na barriga de Jean enquanto ele grita em desespero. Enquanto nos seus pesadelos a ruiva está sempre banhada em luz, a realidade é bem diferente. Mangold e o diretor de fotografia Amir Mokri trazem um ar melancólico ao ambiente, constantemente chuvoso e escuro. Logan se esconde praticamente numa caverna, e vemos que lá ele acumula um pouco de lixo, garrafas de bebidas e restos de charutos. Seu visual nada agradável, com cabelos e barba malfeitas, e um figurino que parece não ser trocado à meses, ele é visto como algum maluco da região do Yukon. Nesses minutos iniciais, o diretor consegue com competência mostrar um personagem amargurado, que prefere se esconder ao ver todos que ele ama morrerem. Essa procura pela paz infelizmente vem acompanhada pela figura de Jean Grey e da culpa. É uma ótima construção de personalidade.
Ainda no Canadá, vemos que esse filme é mais condizente com alguém que atravessa gente com garras de metal. E no Japão, o diretor não esconde o sangue das lutas. No funeral do avô de Mariko, Logan já está com seu fator de cura comprometido, e quando é alvejado por vários tiros, vemos bastante sangue. Na sua fúria, ele ataca os mafiosos e o diretor não esconde as manchas vermelhas nas garras de Wolverine. Um outro personagem que aparece nesse momento é Harada (Lee), que com suas flechas ajuda o mutante a proteger Mariko. Flechas essas que também espalham quantidades razoáveis de sangue pela tela. Longe de ser exagerada – apesar de que seja possível alguém ficar chocado com a cena onde Logan se regenera das consequências de uma explosão nuclear – essa é uma violência necessária ao personagem, por mais que possa se discordar do uso dela.
Na sua normalidade, Wolverine é uma fera. Contando com seu fato de cura e seus ossos reforçados, ele não se importa de se jogar contra o inimigo. A mudança dessa característica é representada pelo diretor com uma interessante mudança de foco no personagem, onde a lente fica embaçada e mais fechada no rosto do personagem, enquanto o design de som abafa os sons e a música ao redor, e é um jeito interessante de mostrar a primeira experiência do personagem com uma dor dessas durante seus tantos anos de vida.
A direção e o dinamismo de Mangold agrada demais nessa produção. Além de não usar flashblacks como muletas, ele faz o mesmo com a falta de flashfowards. Explicando, a personagem Yukio é uma mutante que tem a habilidade de ver pedaços do futuro. Determinado momento, ela diz que viu a morte de Logan e a explica para o mutante. Um diretor mais inseguro mostraria a cena enquanto o diálogo serviria como voice-over. Mas ele prefere que a história siga seu ritmo natural, salvando assim tempo de projeção e do espectador.
Existem outros erros, sim. Mangold não faz questão nenhuma de esconder que a Víbora (Khodchenkova) é a responsável pela situação atual de Logan, ou que Harada está na história para proteger Mariko logo de cara. E quando a figura do Samurai de Prata aparece, também não é nenhuma surpresa, já que Yukio fala em alto e bom som que o mestre gosta de manter um olho na tradição e outro no futuro. Também é de estranhar a mistura que o diretor faz à um personagem japonês, que em determinado momento está falando na língua materna para alguns e no momento seguinte, com seu assessor, usa o inglês. Também há uma cena onde Logan já sabia onde Mariko estava, e mesmo assim perguntou para o pai dela sobre isso. Pode ser um dos lapsos de memórias já comuns do personagem.
Outra qualidade do filme é ser espirituoso nas piadas. Diferentes das insistência de Tony Stark em Homem de Ferro 3 (Iron Man 3, 2013), as situações de graça que acontecem nesse filme são mais espaçadas e naturais. E Mangold acha um espaço para alfinetar o Superman, quando diz que o ministro japonês não consegue parecer ameaçador usando uma sunga vermelha.
“Wolverine – Imortal” é um filme eficiente até o fim do penúltimo arco, e ali se perde um pouco. Quando Logan chega até o lugar onde Mariko está presa ele se depara com uma centena de ninjas, e foi frustrante ver que a luta não seguiu essas proporções, o que seria bem mais divertido. O que se salva no confronto final é ver o personagem sofrendo, e compartilhamos dessa dor. E sim, o Samurai de Prata é decepcionante. Apesar de alguns deslizes, é um filme digno do personagem e com diversão garantida.
Dica 1: Assita em 2D. A conversão para o 3D ficou apenas na promessa, para variar.
Dica 2: Não preciso dizer que, como em qualquer filme da Marvel, tem um cena extra durante os créditos, não?
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