Velozes e Furiosos: Hobbs & Shaw | Crítica | Fast & Furious Presents: Hobbs & Shaw, 2019
Velozes e Furiosos: Hobbs & Shaw é uma tentativa de fazer diferente numa franquia já saturada, conseguindo fazer isso apenas parcialmente.
Se a franquia perdeu a graça já há algum tempo, Velozes e Furiosos: Hobbs & Shaw é uma tentativa de dar um frescor a ela. Mas não é bem isso que acontece, apesar do elenco enxuto funcionar melhor que sua produção-mãe. Preocupado mais com coreografias e lutas, as corridas de carro ficam em segundo plano – não que elas não estejam lá – há uma preocupação do diretor em fazer um filme mais calcado no humor, tirando sarro da chuva de testosterona que são os outros filmes. Ainda é uma coleção de cenas de ação feitas para esticar um roteiro bem previsível, com agentes que não tem muito cérebro, e algumas homenagens a outros filmes de sucesso enquanto esse não pode ir ao espaço.
Enquanto o time original não pode ir audaciosamente onde ninguém esteve – e acreditem em mim, isso vai acontecer – os produtores exploram um nicho que ainda está em alta: o de super-heróis. Sim, apesar de existirem no mesmo universo e já terem trabalhado juntos, o que Luke Hobbs (Johnson) e Deckard Shaw (Statham) fazem é um crossover, além de ser um spin-off, contra um super-vilão autointitulado de Superman negro, mas que acerta o Homem-de-Ferro. Brixton Lore (Elba) tem, aliás, o mais básico plano de todos os arqui-inimigos, o de destruir o mundo. O que foge do padrão, falando de VF, é o destaque com Hattie (Kirby), a irmã de Shaw.
Leitch, até plasticamente, faz sua produção ter cara de quadrinhos quando, em um dos prólogos, mostra a rotina dos protagonistas numa tela dividida. A parte anterior é ligeiramente mais interessante, colocando Hattie e Brixton em oposição, por meio da montagem, intercalando cenas, mostrando em que pé estão e estarão. Os núcleos, que irão se encontrar eventualmente, caminham para um James Bond anabolizado, uma piada que de tão óbvia é apontada por Luke, mencionando que Hattie sabe como se virar sozinha e, portanto, não seria como uma Bond Girl dos anos 1950.
Justiça seja feita, pois Hattie não é a donzela em perigo, apesar de estar em segundo plano na aventura dos grandões. De novo, ter um elenco diminuto tanto no tamanho quanto no ego – quem já leu notícias dos bastidores dos filmes anteriores sabe do que estou falando – dá mais espaço para essa participação feminina. Ao mesmo tempo em que a personagem sofre da síndrome da Smurfete e sem passar no teste de Bechedel – pois ela nem interage com as outras mulheres que encontra no filme. O roteiro acredita que é suficiente entregar a mulher forte, o que já virou clichê tem algum tempo.
E se você procurar pela duração do filme, pode ter se assustado um pouco. E aí entra outro clichê, pois muitos minutos desses mais de 120 minutos, são diálogos entre Hobbs e Shaw com várias frases-efeito, do mesmo estilo que seu amigo e você vão fazer numa mesa de bar. No começo é engraçado, mas lá pela metade do filme, quando você olha para o relógio e percebe que falta mais de uma hora de projeção, sabe que não vai aguentar muito mais daquilo. Apesar de, eventualmente, a troca de ofensas fazer sentido para uma parte da trama, Morgan e Pierce não são exatamente Tarantinescos ao criarem diálogos.
Por outro lado, há um ligeiro abraço ao nonsense quando um personagem diz para Hattie que o que ela acabará de fazer era impossível – e ela não responde, confirmando o absurdo. Isso não é uma carta branca para aceitarmos os deslocamentos que atravessam o mundo, saindo da Inglaterra, passando pela Rússia e terminando numa ilha da Polinésia em tempo recorde, diametralmente oposto à pista de avião mais longa do mundo que vimos em Velozes e Furiosos 6 (Fast and Furious 6, 2013, Justin Lin), uma situação que se arrumaria com uma janela maior ao problema que Hattie se encontra. Mas como tudo precisa ser no senso de urgência, o roteiro não permite isso.
Existe também uma graça nas referências que o filme faz. É impossível não ver a relação de Brixton e Shaw com a de Anakin e Obi-Wan, inclusive com uma tentativa de conversão por parte do vilão que se comunica com um chefe misterioso como Vader falava com o Imperador. Até uma menção literal à Estrela da Morte é feita por Hattie para que não restem dúvidas. E as intermináveis menções ao universo de JRR Tolkien reforçam que Hobbs e Shaw disputam o maior número de mortes como Legolas e Gimli faziam na Guerra do Anel. E não há nada de errado nisso, afinal, todos podemos roubar enquanto artistas.
No fim das contas, mesmo com as tentativas de mudar as coisas engessadas, talvez desde o terceiro filme da franquia, com uma ligeira mudança no sétimo, o spin-off é como uma volta ao começo dos anos 2000, com direito à hackers e manipulação genética, como se estivéssemos no começo da internet. Pelo menos a história demora para dizer a palavra “família”, preferindo deixar só no ar. Mas é assim com toda a franquia e nem Hobbs e Shaw escapam – e, por essas incríveis coincidências que a ficção consegue trazer, ambos têm problemas com seus irmãos. É aquela ladainha para dizer que, no fim das contas, eles não são tão diferentes.
Claro que há uma passada de pano monstruosa para Shaw que deixou de ser um vilão – afinal, ele matou Han na cena extra de Velozes 6 – para apenas ser um rapaz traído e incompreendido que até matou o próprio irmão (aqui me falta um detalhe, porque a franquia já virou uma grande massa uniforme na minha mente). É um retcon bem safado e é difícil aceitar que Hobs comece a chamar o britânico de irmão. Então são as pequenas coisas que vão se juntando e piorando a experiência de assistir a um filme, mesmo aceitando a impossibilidade de certos feitos.
Pode ser que você ache demais exigir algo além de vavrum-pow-ratttatata-boom em Velozes e Furiosos: Hobbs & Shaw, mas é como falamos de filmes de heróis: já passou da hora de um filme simplesmente ser divertido. Falta cuidado com detalhes do roteiro, com personagens e até com motivações deles, ainda que as alfa-posições de Hobbs e Shaw causem algum riso, principalmente quando interpolados por Hattie. Só que não suficiente para deixar as coisas interessantes o suficiente para acompanharmos uma nova narrativa, ainda que com menor megalomania que seu irmão mais velho, numa aposta difícil de prever o fechamento. Pelo menos enquanto não descobrirmos como a franquia original seguirá.
Elenco
Dwayne Johnson
Jason Statham
Idris Elba
Vanessa Kirby
Helen Mirren
Direção
David Leitch (Deadpool 2)
Roteiro
Chris Morgan
Drew Pearce
Argumento
Chris Morgan
Fotografia
Jonathan Sela
Trilha Sonora
Tyler Bates
Montagem
Christian Wagner
Elisabet Rónaldsdóttir
País
Estados Unidos
Distribuição
Universal Pictures
Duração
136 minutos
Data de estreia
01/ago/2019
3D
Cena Extra
Luke Hobbs e David Shaw se vem obrigados a trabalhar juntos para impedir os planos de um super-vilão que quer destruir o mundo para que sobrem apenas aqueles que merecem. Ao mesmo tempo, os dois devem enfrentar seus fantasmas familiares.
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