Transformers: O Último Cavaleiro | Crítica | Transformers: The Last Knight, EUA, 2017
Assim como todas as sequências do primeiro filme, Transformers: O Último Cavaleiro reescreve, de novo, a história dos robôs gigantes na Terra.
Elenco: Mark Wahlberg, Stanley Tucci, Isabela Moner, Josh Duhamel, Tyrese Gibson, John Turturro, Laura Haddock, Anthony Hopkins, Santiago Cabrera, Liam Garrigan, Jerrod Carmichael, Mitch Pileggi, Omar Sy, Erik Aadahl | Roteiro: Art Marcum, Matt Holloway, Ken Nolan | Argumento: Akiva Goldsman, Art Marcum, Matt Holloway, Ken Nolan | Direção: Michael Bay (13 Horas) | Duração: 149 minutos | 3D: Irrelevante
Se Michael Bay prefere fazer um filme igual ao outro, também é aceitável começar essa crítica como foi a anterior. Transformers: O Último Cavaleiro é mais um Michael Bay cheio de explosões, roteiros confusos e uma qualidade técnica impecável. E agora com a presença de um dragão robô de três cabeças. Mesmo que seja um contrassenso pedir coerência numa produção maluca onde robôs gigantes conseguem se diminuir em carros, já estava bem claro que a franquia precisava de um descanso desde a produção lançada em 2014. Provavelmente Bay achou que precisava contar tudo de uma vez por causa desse hiato de três anos, transformando seu filme num passeio de montanha russa sem fim.
Percebendo que não tem muita de onde tirar histórias para contar à sua frente, todo filme de Transformers desde o segundo filme é um retcon. Podem contar: seres mais antigos na lua, nas guerras mundiais e agora nos contos arthurianos – o que coloca a presença dos seres de Cybertron na Terra no século V ou VI AEC. É como se Bay encontrasse inspiração em von Däniken, tirando a importância dos humanos e dando as alienígenas. Sem a interferência dos Autobots (ou seja lá como eles se chamavam na época) não teríamos saído da Idade das Trevas e Hitler não teria sido derrotado pelas forças aliadas. É divertido ver Transformers medievais? Com certeza. Isso é aproveitado no filme? Muito pouco.
A continuidade de Transformers está tão bagunçada, com tantos detalhes que viram uma coisa só na sua cabeça (experimente fazer uma maratona dos quatro filmes antes desse para entender o que digo) que nem mesmo os roteiristas sabem o que está acontecendo. Determinado momento um grupo de militares encontra um Autobot mais velho que Optimus Prime (Cullen), mas qual é a surpresa se já haviam sido encontrados os Dinobots que estavam aqui há 200 milhões de anos? Falando em falta de inteligência, é muito pouco astuto, sabendo que estão sendo caçados, que Megatron (Welker) – que suponho seja o Galvatron do filme anterior, mas o design dos personagens não me permite chegar a essa conclusão – e Barricade (Harnell) se comuniquem em inglês e não na língua de Cybertron.
Antes que julgue que isso é um preciosismo e algo que acontece em todos os filmes de ação, leve em conta que se não fosse o fantástico que é ver robôs gigantes lutando no meio da rua, esse é um filme dos mais genéricos do gênero. Seja pelas forças militares e paramilitares que não conseguem entrar em acordo ou pelas conveniências de objetos que esquecem que existem. Numa luta onde Cade (Wahlbergh) tenta ajudar o já citado velho Transformer, Bumblebee (Aadhal) é marcado com um localizador para encontrar o seu esconderijo e dos outros autobots. Mas, por algum motivo, o governo espera por meio de uma negociação envolvendo advogados (!) para libertar alguns dos companheiros de Megatron, descobrir o paradeiro de Cade e seus protegidos. Por quê, se o localizador nunca parou de funcionar, é um mistério.
O que funciona é o destaque às personagens Izabela (Moner) e Viviane (Haddock), fazendo a jovem corajosa e frágil ao mesmo tempo enquanto a outra é uma estudiosa, sem ceder à tentação de transformar a inglesa, que fisicamente é parecidíssima com Megan Fox, em eye candy (apesar disso de acharem que é só colocar óculos na pessoa e achar que automaticamente ela se torna nerd). Não é reparo suficiente para a mitologia dos Transformers no cinema, mas as duas são de longe as personagens femininas mais interessantes que a franquia já teve.
Mesmo quando a história quer parecer atual há problemas, vendo a apresentação das personagens. Quando conhecemos Izabela a jovem parece mais velha do que alguém com 14 anos (ponto para a produção), mas essa aparente experiência de alguém que manja de como viver no gueto e nas ruas tome uma atitude que coloque algumas crianças em risco. Sendo que se ela ficasse quietinha, aquele pandemônio não teria acontecido (o que reduziria as explosões e o tempo do filme). Quanto à Viviane, é muito preocupante quando Bay quer transformar tudo em momentos épicos, pois quando conhecemos a professora ela está jogando polo, mas mesmo assim o diretor acredita que o momento precisa de uma música imponente e slow-motion. E quando tudo é épico, nada é épico de verdade.
Aliás, a palavra descanso não deve existir no dicionário de Michael Bay e é difícil entender exatamente o que está acontecendo em vários momentos do filme. Nos anteriores isso acontecia nas batalhas, pois era quase impossível distinguir quem batia em quem. Mas desde o filme anterior, Bay tem deixado as cores mais fortes para os Autobots e os tons de metal para os Decepticons. Aqui é o puro andamento da ação. Cade, Bumblebee e os outros Autobots começam a ser caçados em algum lugar no México, e a perseguição termina em outro lugar difícil de definir, com a inexplicável presença de Cogman (Carter) que está esperando Cade exatamente no elevador que ele estava. Como Bay prefere fazer mais ação que fazer sentido, nem há tempo para pensar como o robô-mordomo chegou até ali.
Mas há um momento de lucidez na história, onde Bay admite que tudo aquilo é uma grande piada. Quando Viviane e Cade chegam ao castelo de Sir Edmund Burton (Hopkins), o lorde começa a contar a exagerada história de como os humanos e os Autobots já são aliados há muito tempo – com direito à cartazes de propaganda com Bumblebee, mas ninguém sabia disso (nem mesmo o Setor 7 ou a N.E.S.T.). E aqui o diretor faz piada com o momento ao colocar Cogman tocando um órgão retumbante ao fundo e depois cantando um tipo de ária, o que torna a música diegética, até que é interrompido pelos gritos do seu mestre.
Interessante também como o diretor perde o senso de urgência quando ele é mais necessário, esquecendo mais de uma vez de checar um dicionário para ver o que as palavras significam. Só isso explica a decisão de Viviane ao chegar em sua casa e dizer que precisava trocar de roupa, considerando que o nosso mundo ia literalmente acabar. De novo. Ou quando os Cavaleiros decidem que deveriam julgar as ações de Optimus Prime no momento em que a sua maior inimiga pairava alguns quilômetros acima deles. E só para fechar esse ciclo para mostrar que, aparentemente, ninguém está com pressa ali, Prime some por alguns minutos na história sem um bom motivo para isso, além de reaparecer quando a situação está bem problemática.
É justo dizer que os blockbuters existem mais para divertir do que para serem grandes peças com profundidade, mas divertido é um adjetivo que passa longe de Transformers: O Último Cavaleiro. Existem sim momentos assim como a batalha final ou assistir o personagem de Anthony Hopkins enlouquecendo com a experiência – deve ser a primeira vez que vemos o ator inglês mostrando o dedo do meio. Mas o conjunto todo te joga de um lado para outro com tantas explosões que servem para tirar o foco dos problemas tanto conceituais – como a vilão saber onde a Terra estava e não fazer nada por milênios – ou conceituais – quando um objeto que só poderia se empunhado por uma pessoa é levado por outras.
E eu vi essa tentativa de fazer a Rey e o BB-8 do Universo Transformers, Michael. O senhor não me engana.
Transformers: O Último Cavaleiro | Trailer
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Transformers: O Último Cavaleiro | Sinopse
Optimus Prime deixou o planeta Terra. Tanto Autobots quanto Decepticons são caçados pelos governos do mundo. É quando um evento de grande magnitude traz de volta o líder dos Autobots acompanhado de um grande mal.
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