Ted | Crítica | Ted, 2012, EUA
Ted vai além da zona de conforto que a TV, mesmo a fechada, impõe, com piadas mais inapropriadas, palavrões e o já conhecido humor politicamente incorreto de Seth McFarlane.
Com Mark Wahlberg, Mila Kunis, Seth MacFarlane, Joel McHale e Giovanni Ribisi. Roteirizado por Seth MacFarlane, Alec Sulkin e Wellesley Wild. Dirigido por Alec Sulkin e Wellesley Wild.
Já há muito tempo eu sou um fã de Uma Família da Pesada (Family Guy), série que retrata com um humor ácido, politicamente incorreto e violento o estilo de vida dos EUA, e que já foi acusado de plagiar os Simpsons. E pelos limites do cinema serem infinitamente maiores do que na TV, o diretor McFarlane vai além da zona de conforto que tinha, mas não extrapola. O filme conta com mais palavrões que um episódio da família Griffin, uso de drogas e até pequenas cenas de nudez, inclusive aparecendo uma nádega de um astro de Hollywood! Com homenagens, e dotado de um bom humor que não foge do politicamente incorreto, Ted é um filme divertidíssimo. Ainda que se perca um pouco com seus exageros, a história de amizade entre um adulto que não quer amadurecer e seu melhor amigo valem a visita.
Quando conhecemos o pequeno John, ele é um garoto sem amigos. Nem mesmo as crianças que levam surra gostam dele. A narração pesada de Patrick Stewart remete à época do natal e aos anos 1980. Apesar de no começo parecer desnecessária por tantos elementos visuais em volta (brinquedos da época, um Nintendo 8-Bits, um pôster de “Indiana Jones” na parede do quarto de John), o diretor consegue subverter tudo isso e dá um ótimo sentido à existência do elemento de narração ao colocar Stewart falando sobre o que é ser verdadeiro poder. O filme nos leva além do estilo clássico de brinquedos ganhando vida, e como todo o mundo é afetado por descobrirmos sim que existe mágica. Ted não está vivo só na imaginação de John, e sim para o mundo (aliás, o comportamento dos pais de John quando eles descobrem que Ted está vivo está entre as várias cenas impagáveis do filme). E McFarlane sabe bem como representar o espírito humano, respondendo como as pessoas tratam coisas novas e importantes e diferentes: “logo, ninguém mais liga”.
John (Walberg) cresce junto com Ted (McFarlane) e o diretor consegue envelhecer o ursinho, apesar dele ser de pelúcia. Além da voz, o Ted mais velho perde a gravata borboleta azul, o brilho dos pêlos, e até um pouco da pelagem (como se ele estivesse perdendo o cabelo). Apesar de envelhecerem, os inseparáveis amigos não amadurecem. Ted tem a desculpa de ser um brinquedo, mas John é um personagem irresponsável ao ponto de ficar chapado de drogas minutos antes de ter que ir trabalhar. É de se espantar que Lori (Kunis) se apaixone por ele. Ela é segura o suficiente para admitir que é apaixonada por John, não reclama do tipo de trabalho que o namorado tem, mas só quer que ele amadureça um pouco. Nem mesmo as piadas que John consegue encaixar em vários momentos do filme, que seriam mais sérios, tira o brilho dos olhos de Lori. Mas para que as coisas melhores, fica óbvio que Ted tem que se mudar. Aliás, Lori é um poço de paciência. É preciso muita coisa pra que ela exploda com a situação. E Ted não ajuda, ao ponto de convidar prostitutas para o apartamento onde os três moram. Ted encara com um pouco de ciúmes o término da longa convivência com o amigo. De cara, ele não faz questão de sair de casa, e vai para uma entrevista de emprego só para agradar o John, o que rende outra sequência de risadas. Apesar do novo problema, Ted não encara Lori como algum tipo de inimiga, ou que ele deve ser o salvador da pátria e trazer o amigo de volta do lado dele. Ele é um personagem tridimensional e muito humano. Sacana e machista sim, mas é a graça do personagem que quer a felicidade do amigo, e entende que Lori faz parte disso. E inconsequência de John, influenciada por Ted, cria situações insustentáveis para a relação amorosa, apesar de serem hilárias. As piadas com a história dos dois, com participações do ator Sam Jones de “Flash Gordon” (Flash Gordon, 1980), e os devaneios que a reunião provocam são pontos fortes e altos do filme, que inclusive servem para a evolução do personagem.
“Ted” tem um ótimo recheio com suas referências ao universo pop, do cinema e apresenta um ser incrivelmente carismático, que é o personagem-título. Sua cenas de comédia não desapontam, sendo a minha preferida a briga entre John e Ted. E McFarlane também se sai muito bem como diretor estreante de um live action, inclusive com muita competência nas decisões mais técnicas, como fotografia e cenário (notem como a casa de um perturbado garoto tem um ar diferente, e que as paredes são quase medievais, com seus desenhos e o quadro de um cavaleiro templário), passando até pelo figurino. Além de que o motion capture para dar vida a Ted é espetacular, e faz o personagem ser ainda mais crível. O filme também conta com participações especiais de atores que trabalham em “Uma Família da Pesada”, e é divertido identificar as vozes. E McFarlane consegue transformar Ted num personagem tão adorável que nem nos importamos muito de vê-lo se drogando ou falando palavrões, e esse é o grande trunfo do filme, que é uma das melhores comédias do ano.
“Ted” concorre ao Oscar 2013 na categoria Melhor Canção Original (“Everybody Needs a Best Friend”, de Walter Murphy e Seth MacFarlane).
Ted | Trailer
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