Sobrenatural: Capítulo 2 | Crítica | Insidious: Chapter 2, 2013, EUA-Canadá
Sobrenatural: Capítulo 2 é um pequeno sopro com bons sustos num cenário onde o gênero é desrespeitado já há algum tempo.
Com Patrick Wilson, Rose Byrne, Ty Simpkins, Lin Shaye, Barbara Hershey, Steve Coulter, Leigh Whannell e Angus Sampson. Argumento de James Wan, Leigh Whannell. Roteirizado por Leigh Whannell. Dirigido por James Wan (Invocação do Mal).
Disse em ocasiões anteriores – inclusive num podcast sobre o assunto – que o terror tem sido mal tratado no cinema. Isso ainda é verdade, mas James Wan acertou duas vezes esse ano. “Sobrenatural: Capítulo 2” tem uma história melhor que seu antecessor, com sustos dignos e com momentos de tensão. O diretor tem bastante qualidade para evitar a velha técnica de jogar as coisas na cara do espectador, ou apelar para a trilha sonora exagerada. Não é um novo clássico. Mas nesse mar de decepção deve encontrar um lugar no coração dos fãs do gênero.
A história situa-se imediatamente após os eventos de “Sobrenatural” (Insidious, 2011). Josh (Wilson) e Renai (Byrne) estão tentando deixar para trás a experiência do coma de Dalton (Simpkins), e a busca por ele no mundo sombrio em que estava. Mas novos eventos dão a certeza de que o fardo não acabou. E quando Renai vê que o marido pode não ter voltado da experiência que teve como a mesma pessoa, toda a família Lambert pode estar em perigo.
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Wan cuida bem da história que criou junto do roteirista Leigh Whannell, amarrando o final completamente aberto do primeiro filme. Interessante que qualquer coisa poderia sair de lá, e eles escolherem uma opção simples ao mexer com os sentimentos de Renai. Os espectadores, numa posição confortável, sabem que Josh foi dominado pela entidade da fantasma da mulher de preto, e que a morte da parapsiquíca Elise (Shaye), junto da foto tirada por ela, são evidências suficientes para que Renai continue desconfiada. Mas a esposa quer acreditar com todas as forças que está tudo bem.
A trama não se preocupa em esconder o jogo. É aceitável entregar muito cedo o segredo de Josh, pois a sutileza já foi embora no filme original. Quando Renai ouve uma música tocada ao piano, sem que ninguém estivesse na sala de música, o marido diz que eles deveriam ignorar o que está acontecendo, mas que realmente não estavam sozinhos. É um jogo de contradições, numa sutileza do roteiro que apresenta como o novo Josh distorce a verdade.
Existe uma diferença crucial para que os fantasmas dessa produção sejam mais convincentes do que o primeiro filme. Em primeiro lugar, nada do demônio da cara vermelha – que, convenhamos, dava um ar muito galhofa à produção – e a investida em maquiagem mais pesadas e marcantes. Os espíritos tem um ar mais teatral, parecendo retirados de uma foto desbotada. Os sustos são bem sinceros, e com a assinatura de Wan, que os apresentá por meio de raccords, ou melhor seria dizer um anti-raccord, já que eles acompanham normalmente a direção oposta que apareceram antes, ou se opondo ao movimento de câmera. E há outros momentos sutis, como quando Renai se desloca para a direita da tela e uma vemos uma aparição ser apresentada não como fumaça, mas como uma cortina que segue o movimento da personagem. Além disso, eles convencem na conversa. Quando Specs (Whannell) e Tucker (Sampson) ouvem de um fantasma “vão embora, senão ela me faz matar vocês” o recado está suficientemente dado, e os dois saem de lá. É uma alívio cômico, mas não menos eficaz.
Há o cuidado em criar cenários apavorantes, como o dos corpos cobertos que a dupla descobre junto de Lorraine (Hershey) e Carl (Coulter), um amigo de Elise. Mostrando segurança e competência na direção, não vemos o que há debaixo dos lençóis, ou como eles ficaram naquela posição. É um bom amálgama de terror puro e sugestão. E Wan consegue provar que entende como a plateia funciona. Por exemplo, a cena da luta com a dupla de alívio cômico tem algo de comédia sim e acaba em riso. Mas em oposição, Josh praticamente esmaga a cabeça de um personagem contra o chão, com violência, para quebrar esse riso.
O diretor aproveita para misturar conceitos ao tema clássico de fantasmas, como a viagem no tempo – não propriamente na sua visão usual – e o passeio por outras dimensões. E mostra-se cuidadoso em outros aspectos técnicos, ao fotografar com uma paleta mais amarelada em 1986 e mudar o aspect ratio no registro que tomam no começo. A maquiagem de Josh também é um ponto interessante, sutil na transformação.
“Sobrenatural: Capítulo 2” traz um bom clima de tensão e supera a história original. Existem problemas conceituais, sendo o mais gritante é entender como um Josh enfraquecido, ao ponto de perder dentes como se perdem fios de cabelo, aguenta tanta porrada e até uma arma de eletrochoque. É um filme divertido, que não mudará a sua vida, mas te fará encarar de um jeito diferente aquele barulho que parece vir de dentro do seu armário – aliás, elemento preferido do diretor.
Veja abaixo o trailer de Sobrenatural: Capítulo 2
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