Soberano 2 – A Heroica Conquista do Mundial de 2005 | Crítica | 2012, Brasil
Soberano 2 não é exagerado quando diz no seu subtítulo “a heróica conquista”. Esse é um filme que homenageia um dos melhores elencos que o tricolor paulista já teve.
Com Rogério Ceni, Lugano, Aloíso, Amoroso, Mineiro, Raí, Marco Aurélio Cunha, Milton Cruz e Juvenal Juvêncio. Dirigido por Maurício Arruda e Carlos Nader.
O subtítulo “a heroica conquista…” não é exagerado. E na memória do torcedor sãopaulino recente, esses foram dois jogos muito especiais. Depois de mais de 10 anos, voltávamos à Tóquio para honrar a camisa e aquele timaço de 1992 e 1993. Esse documentário é voltado exclusivamente para agradar o torcedor do São Paulo Futebol Clube, e ainda usa o espaço para provocar um time rival. Ainda assim, o filme é tecnicamente bem dirigido e editado, com alguns deslizes durante sua projeção. Com declarações de Lugano, Aloíso, Rogério Ceni, Amoroso, Mineiro, Raí, Marco Aurélio Cunha, Milton Cruz e do dispensável Juvenal Juvêncio, “Soberano 2” se torna parte do documental esportivo do futebol nacional. Para quem é tricolor paulista, obrigatório.
O filme segue uma linha cronológica, com exceção do começo, com Rogério Ceni relembrando os (vários) pontos fortes do Liverpool, time que iriam enfrentar. É como se fosse um teaser do que estava por vir. Os diretores Arruda e Nader fazem um bom trabalho de aproximação ao intercalar depoimentos dos jogadores com os dos torcedores de sãopaulinos que participaram de algum jeito da conquista: indo ao Japão, torcendo no pátio de uma escola de samba ou, vejam vocês, num presídio militar. É uma pena que os diretores exageram um pouco na hora de mostrar todos os momentos. Um exemplo é a cena retirada de um celular, mostrando a festa dos torcedores logo depois do embarque do time rumo ao Japão. Apesar de ser um momento importante, a qualidade da filmagem é péssima, fazendo que a imagem ser apenas grandes pixels blocados na tela. Por mais que fosse a única filmagem do momento, deveria ser feita de outro jeito. Por exemplo, como acontece mais na frente, com o uso de fotos e sons.
Os diretores fazem bem em não fugir de assuntos polêmicos da época. Por exemplo, falam do caso da venda de Amoroso ao futebol japonês poucos dias antes do jogo contra o Al-Ittihad, ou a falha do jogador EdCarlos que originou o segundo gol do time saudita. As músicas de Nando Reis e Luiz Macedo fazem um bom serviço ao filme. Percebam como a trilha faz um crescendo antes do gol de Amoroso contra o time adversário, rápida, como um trovão. E, como qualquer bom documentário, é importante nos mostrarem coisas que os publico comum não sabia. Entre elas, foi divertido saber que o grande Lugano teve uma discussão com um jogador do Al-Ittihad, e que os outros jogadores sãopaulinos ficaram preocupados com a reação que o uruguaio podia ter. E a frase de Amoroso, que dividia a posição de batedor de faltas com o mito Rogério Ceni, quando este pediu para que o atacante o deixasse bater a falta. “Pelo amor de Deus, capitão. Pode bater”, originando o terceiro gol do time e, consequentemente, a vaga na final contra o Liverpool. E contamos com a presença de Raí, que mostra ter elevado o espírito do time.
E vemos o outro lado da história. Os diretores chamaram um torcedor do Liverpool para o filme, e mostram o problema que o São Paulo enfrentaria: o time inglês vinha de uma campanha fantástica, que contava com 11 jogos sem perder e sem tomar gols. Era o time a ser batido. Antes do confronto o diretor quebra o clima tenso, mesmo se tratando de um documentário, com outras declarações como Marco Aurélio Cunha, médico e diretor, que deu uma “enganada” no Rogério, dizendo que a situação do joelho do nosso goleiro não era assim tão ruim. Já no jogo, o diretor usou um momento interessante antes dos times entrarem campo, onde Gerrard, capitão do Liverpool, está na frente e “maior” que Ceni. A cena foi captada da transmissão original, mas foi bem sacada para mostrar a situação do momento. E pela importância, a parte do jogo final leva praticamente metade da projeção, mostrando narrações de vários profissionais ao redor do mundo. E eu não lembrava que esse jogo fora tão sofrido. O Liverpool estava passeando no campo, até termos uma ajuda tem um torcedor corinthiano que invadiu o campo, querendo se imortalizar, digamos assim, em cima do São Paulo. Mas foram sábias as palavras de Cunha: “Aconteceu o normal. Ele foi preso, e a gente foi Campeão Mundial”. E as risadas invadiram a sala do cinema. Rever os lances do jogo na tela grande do cinema é algo indescritível. É uma pena que não tínhamos transmissão em HD em 2005.
A montagem de Gustavo Aranda faz bem ao alternar cenas da reação do torcedor e os momentos importantes do jogo, mas ele precisava achar uma solução diferente para os lances, que vieram diretamente dos sinais de transmissão originais da TV. Ou seja, prepare-se para ver a cenas com replays e propagandas da época. Mas tenho que destacar que ele e os diretores se saíram bem ao passar para tela a sensação que o jogador Mineiro teve ao fazer o gol: a vibração da torcida, a frase do volante “naquela hora, o mundo apagou” (e a tela fica escura) e mostrar um momento em que parte da torcida no Brasil, que assistia no pátio da escola de samba, e que a tela também apagou, ficando só com o som… foi uma bela mimetização do momento. Acompanhando o restante da produção, a sensação que fica é mista. Enquanto foi bem mostrada a pressão do Liverpool, que teve vários ataques contra o nosso gol, sem nenhum lance de perigo do SPFC por vários minutos, e momentos de raça do Lugano, com seis ou sete lances seguidos, e a reação apaixonada da torcida, a montagem mostra lances completos, inclusive os “menos” interessantes. Isso prejudica um pouco a projeção num universo fílmico, onde tais lancem poderiam ser cortados, pelo bem o do filme em si. Além disso, Mineiro não foi creditado na primeira vez que aparece na tela, mostrando um pequeno deslize na edição (mas como assisti ao filme alguns dias antes da estreia, na cabine de imprensa, não posso afirmar que vi o corte final). E usar depoimentos do bandeirinha que anulou três gols do Liverpool, corretamente, foi uma grata surpresa pra quem gosta de bastidores.
“Soberano 2” é um filme emocionante para qualquer torcedor do São Paulo Futebol Clube. Ver na tela toda a alegria e emoção dos personagens dessa conquista, com direito a um lacrimejante Rogério Ceni, fazem esse filme ser de suma importância para a memória de um fã. Para quem gosta de documentários esportivos, vale pelo momento histórico do nosso futebol: o primeiro time do país a ganhar três campeonatos mundiais. Tecnicamente falando, também é um bom filme, mas com algumas falhas. Além das que comentei durante a crítica, acrescento que não faria nenhum mal colocar legendas eletrônicas nas declarações em portuñol de Lugano, já que algumas vezes eu não entendia o que o zagueiro falava. A opção de entrevistar o atual presidente Juvenal Juvêncio, que é uma figura no jeito de falar e que tenta soar engraçado, boa gente, bonachão, é totalmente dispensável. Seria muito melhor entrevistar Paulo Autori, técnico da conquista. Mas os responsáveis disseram que os compromissos dele na Arábia Saudita não permitiram.
É uma pena que o filme vem num momento complicado para o time. O título “Soberano” trouxe um pouco de soberba, e já não somos dignos do adjetivo há algum tempo. Mas pela importância histórica, é um filme digno de ser visto e revisto para guardarmos na memória. E para nos lembrarmos de que, apesar da ocasião atual, ainda somos fortes e grandes, como diz nosso hino.