Resident Evil 6: O Capítulo Final | Crítica | Resident Evil: The Final Chapter, 2017, EUA

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Graças aos deuses do cinema, Resident Evil 6: O Capítulo Final é o fim definitivo de uma saga que não soube ousar e nem se reinventar durante seus quinze anos de existência.

Resident Evil 6: O Capítulo Final (2017)

Elenco: Milla Jovovich, Ali Larter, William Levy, Shawn Roberts, Fraser James, Ruby Rose, Iain Glen | Roteiro: Paul W. S. Anderson | Baseado em: Resident Evil (Capcom) | Direção: Paul W. S. Anderson | Duração: 107 minutos | 3D: Irrelevante

Resident Evil 6: O Capítulo Final é uma enganação. E se o público ávido por explosões, cenas de ação que não servem à narrativa e um roteiro tão cheio de furos como os zumbis em cena, terão um prato cheio. Foram cinco anos de espera e nesse meio tempo Paul W. S. Anderson não aprendeu a dirigir sem tremer a câmera, nem como deixar de lado os sustos de pulo e menos ainda como escrever uma história – aliás, o que ele faz é recontar a própria história. Existe uma máxima de não criar expectativas para nada, mas sair irritado depois de pouco mais de 90 minutos de projeção não está nos planos de ninguém.

O engodo começo logo no prólogo, com uma breve recapitulação de elementos novos que aconteceram antes de Resident Evil: O Hóspede Maldito (Resident Evil, 2002) – e podem se preparar porque Anderson, na sua inabilidade de construir um roteiro, vai atirar elementos novos a cada ato do filme. Depois do final apocalíptico em Resident Evil 5: Retribuição (Resident Evil: Retribution, 2012) é normal esperar um elo de ligação – que não existe. Ou melhor, existe apenas nas memórias de Alice (Jojovich) e do próprio diretor que em nenhum momento as compartilha conosco. Tudo que sabemos é que Albert Wesker (Roberts) traiu Alice e companhia. Como? Por que? Jamais saberemos – o que apenas confirma o péssimo roteirista que Anderson é.

É triste constatar que Anderson investe em cenas de ação apenas para que elas existam como cena de ação, mas que nada de servem à narrativa do filme. O orçamento, que de acordo com o diretor aumentou de um filme para o outro, foi para o cachê e para as cenas práticas de perseguições – aliás, o grande momento do filme –, mas faltou aquele tino de fazer uma história que tenha coerência. Um exemplo claro é a cena em que Alice tenta roubar uma moto. Em primeiro lugar, uma personagem tão calejada quanto àquela não ver uma armadilha óbvia dessas merecia ser pega. E se ela quis ser pega de propósito, o que seria aceitável, também não funciona porque ela, ao matar todos seus oponentes, não teria como tirar informações deles, se fosse o caso. E considerando que o que acontece quando a protagonista usa a moto, percebemos como foi inútil a cena.

Assim como outros filmes de ação que pregam para o entretenimento raso, esse está pelo menos vinte anos atrasado. Se não fosse a questão de ter uma mulher protagonista, ele poderia muito bem ter transitado ali entre o final dos anos 1980 e começo da década seguinte. Até nos chamados scary jumps o diretor, considerando que esse já o sexto filme nesse universo, não consegue escapar. E se entrarmos na questão do universo Resident Evil nos cinemas, percebemos que Anderson está pouco se importando com os personagens. Fica claro que ele não sabia o que fazer com os poderes readquiridos de Alice – que por algum motivo não eram verdadeiros – e nem com personagens secundários, mas queridos. Porque, afinal de contas, Alice não pergunta para Claire (Larter) se ele tem alguma pista dos amigos sumidos (Chris, Jill, Leon…)? Simplesmente porque Anderson não sabe desenvolver personagens. Então, melhor, na visão dele, deixa-los no limbo.

Porém, há um elemento interessante na trama, mesmo que jogado – pois não havia nenhuma indicação disso nos filmes anteriores. Anderson mostra que não estava desligado do que acontece no mundo na tentativa de fazer um roteiro e coloca na trama o temido fundamentalismo religioso, ainda que seja no mais improvável dos personagens. O Dr Isaacs (Glenn) é um cientista que usa a Bíblia como argumento para suas ações e por mais que isso seja difícil de acreditar, num cenário de fim de mundo não parece impossível. Improvável, apenas. Vale pelo uso torto da religião para justificar atos hediondos, algo que o roteiro de Anderson arranha na superfície.

Umas das maiores reclamações dos fãs franquia dos games é que os filmes não representavam bem o clima do jogo, por mais que Anderson afirmasse que eles ocorrem em paralelo ou em universos diferentes. Para acalmar a ira dos aficionados, Anderson traz mais alguns monstros que pudemos enfrentar na pele de Chris, Jill, Leon e os outros, o que pode trazer um sorriso discreto. Porém, ao mesmo tempo, Anderson esquece que ele não está fazendo um game, e enquanto algumas partes funcionam como homenagem outras é apenas preguiça de escrever. Porque só isso explica a conveniência de Alice encontrar um mapa – que nunca é visto sendo entregue a ela – e ter armas e explosivos esperando pelos personagens numa sacola limpa e bonita. E o pior é que a ação foi tão frenética nos minutos anteriores que nessa catarse é capaz de poucos notarem.

O filme poderia apostar em mais momentos macabros considerando o fim do mundo estar tão próximo – o máximo que acontece é Alice vendo cabeças decepadas de suas clones num aquário – mas Anderson prefere brincar de Aliens, Star Wars e Robocop, colocar um temporizador do fim do mundo sem explicar exatamente como o fim dele acarretaria o fim da humanidade e reações esdrúxulas dos personagens. O que é a cena em que Alice exalta que “as turbinas estão girando ao contrário”, sendo que Wesker já disse isso, A Rainha Vermelha já tinha dito isso e podíamos ver claramente o que estava acontecendo. Várias mortes acontecem nesse ínterim e nós não conseguimos criar empatia com ninguém. De novo, a falha de Anderson em desenvolver personagens.

Ao perceber que não tinha muito que filmar, Anderson acrescenta cada vez mais elementos à trama, estica momentos de transição entre um ambiente da colmeia e outro, faz personagens retrocederem fisicamente para dar mais duração ao filme, usa câmeras lentas em momentos críticos e quando as coisas precisam terminar e usa de inacreditáveis conveniências, como um personagem aparecer, literalmente, do nada para dar aquele típico susto final na mocinha – isso considerando que há um relógio contando o tempo e o diálogo que acontece ali claramente levou o dobro do tempo dele para zerar – outro elemento emprestado dos games para aumentar o senso de urgência, o que não acontece nesse filme.

Resident Evil 6: O Capítulo Final sofre do mal da maioria das adaptações cinematográficas de jogos: não sabe como usar tantos elementos de um universo rico e se perde ao criar a própria história. Anderson não respeita nem o que vimos nos games e nem mesmo o que criou nessa saga iniciada em 2002. Ao invés de abraçar o absurdo, começa a usar elementos de ficção científica que nunca foram apresentados antes, exagera nas conveniências e é covarde no seu desfecho. O que sobre de positivo é saber que Paul W. S. Anderson nunca mais vai lançar um filme da franquia – seria bom ter um documento assinado, mas vamos nos contentar com o subtítulo do filme. Deve ser o suficiente.

Resident Evil 6: O Capítulo Final | Trailer

Resident Evil 6: O Capítulo Final | Pôster

Resident Evil 6: O Capítulo Final | Cartaz Brasil

Resident Evil 6: O Capítulo Final | Galeria

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Créditos: Sony Pictures (Divulgação)

Resident Evil 6: O Capítulo Final | Sinopse

Resident Evil 6: O Capítulo final, baseado na franquia de mesmo nome da Capcom, traz de volta Alice (Jojovich) em sua constante luta contra os zumbis e outros monstros criados pelo Vírus-T da empresa Umbrella. Nessa aventura, Alice – a última esperança da humanidade – enfrentará o próprio passado ao voltar para Racoon City e à Colméia, onde tudo começou, para impedir o fim da nossa raça.

 

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About TIAGO

TIAGO LIRA | Criador do site, UX Designer por profissão, cinéfilo por paixão. Seus filmes preferidos são "2001: Uma Odisseia no Espaço", "Era uma Vez no Oeste", "Blade Runner", "O Império Contra-Ataca" e "Solaris".