Quando as Luzes se Apagam | Crítica | Lights Out (2016) EUA
Apesar de alguns clichês do gênero, Quando as Luzes se Apagam consegue ampliar com competência o que já era bom do curta original.
Elenco: Teresa Palmer, Gabriel Bateman, Billy Burke, Maria Bello | Roteiro: Eric Heisserer | Direção: David F. Sandberg
O maior desafio de David F. Sandberg era transportar para longa metragem o excelente – e eficiente – curta de 2013. Quando as Luzes se Apagam estende a ideia original e do medo primário que muitos de nós tivemos pelo menos em alguma parte da vida. Mesmo que o diretor, em conjunto com o roteirista Eric Heisserer, abuse de alguns clichês do gênero do terror, ele é eficiente na maior parte da história. Como outros cineastas tem percebido o horror do tipo monstro da semana, levado a matar sem propósito – apena o susto pelo susto – precisa ser deixado para trás.
Compreendendo as limitações do original, esse é um filme bem direto e até curto para os padrões cinematográficos de Hollywood. Trabalhando com menos de 90 minutos, Sandberg mostra competência em manter a tensão do espectador e assustar os mais sensíveis, ainda que telegrafe alguns desses sustos. O prólogo é um bom exemplo disso por misturar a escuridão e manequins, e o jogo de luz e sombra funciona, criando um cenário quase claustrofóbico, ainda que o espaço seja bem aberto. Só faltou o cuidado do uso da música, isso sim um clichê, que funciona melhor no curta exatamente por não ter trilha sonora.
Sandberg, no entanto, mostra habilidade na construção de outros elementos. Ele posiciona a câmera nos pés de Martin (Bateman) enquanto vai até o quarto da mãe, apequenando ainda mais o jovem. Já ali, ele desestabiliza a câmera e separa o ambiente entre luz, penumbra e trevas. Notem como Sophie (Bello) está mais próxima do armário sem luz do que da porta do quarto que ainda traz alguma luz. O jovem vê a mãe sofrer e, convivendo com ela, partilha de seu mal, o que traz uma insegurança onde ele mais deveria se sentir confortável. Ou seja, a própria casa passa a ser estranha para ele.
Rebecca (Palmer), sofrendo com o próprio passado como podemos ver rapidamente pelas marcas em seus braços – causados pelo mesmo mal que aflige agora o irmão, mas é importante lembrar-se da metáfora que o elemento carrega – está longe fisicamente. Ela está sempre de preto, um exagero e estereotipo de alguém que ouve Heavy Metal, o que representa também sua personalidade e a ligação com a escuridão que vem da casa de sua mãe. Ela então se sente segura num lugar não tão grande, menor como um quarto, um universo particular que foi invadido pelo mal de sua mãe, marcando a garota talvez para sempre.
O filme se perde apenas quando se prontifica a explicar muitas coisas do passado de Sophie, numa tentativa de justificar porque está errática, falando sozinha e sem conseguir sair de casa ou até mesmo do próprio quarto. E mesmo assim, não é algo que incomoda tanto, porque existe certa sutilidade nas descobertas de Rebecca sobre o passado de sua mãe. A música também cumpre um papel ruim na narrativa, sendo usada excessivamente para forçar o chamado scary jump – o recurso de jogar algo na sua cara e aumentar a trilha sonora ao mesmo tempo. Em especial porque podemos perceber que Sandberg sabe usar o silêncio, em especial na cena em que Brett (DiPersia) abre uma janela e podemos ver uma figura sombria ao seu lado. Só faltou um pouco mais de tato artístico ao diretor nesses momentos.
E entre ângulos holandeses, fotografia que reflete o interior dos personagens Quando as Luzes Se Apagam tem mais a dizer que seu material original. Enquanto a produção de dois minutos é assustadora e tensa, ela é apenas um filme de terror. Assim como é O Babadook (The Babadook, 2014, Dir Jennifer Kent), a primeira produção de Sandberg nos cinemas não é um filme de monstros. Pelo menos não no sentido de Jason Vorhees e Freddy Krueger. É uma metáfora do grito sufocado de socorro de grandes males da nossa alma, em especial a depressão. Então, a luz não é apenas uma arma, os sustos não são apenas para amedrontar e as mortes e afastamentos daquela família não são apenas tragédias. Corajoso, principalmente na conclusão, é a prova de que filmes que dão sustos apenas por dá-los ficaram para trás. A tendência é termos mais produções assim, e valerá a pena acompanha-las, nem que seja por uma questão comparativa.
Quando as Luzes Apagam | Trailer
Quando as Luzes Apagam | Galeria
Quando as Luzes Apagam | Sinopse
Quando Rebecca saiu de casa, ela pensou que deixaria seus medos de infância para trás. Enquanto crescia, ela nunca teve realmente certeza do que era e não era real quando as luzes se apagavam… Agora é seu irmão mais novo, Martin, que está enfrentando os mesmos eventos inexplicáveis e aterrorizantes que antes testaram a sanidade e ameaçaram a segurança dela. Uma entidade assustadora com uma ligação misteriosa com sua mãe, Sophie, ressurgiu. Mas desta vez, como Rebecca se aproxima da verdade, não há como negar que a vida de todos eles está em perigo… quando as luzes se apagam.
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