Peter Pan | Crítica | Pan, 2015, EUA-Reino Unido

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A versão de 2015 de Peter Pan é uma aventura bem infantil, nada empolgante e cheia de clichês.

Pan, 2015

Com Levi Miller, Hugh Jackman, Garrett Hedlund, Rooney Mara, Amanda Seyfried, Adeel Akhtar, Cara Delevingne. Roteirizado por Jason Fuchs, baseado na obra de J. M. Barrie. Dirigido por Joe Wright (Orgulho e Preconceito).

4/10 - "tem um Tigre no cinema"Nós sabemos. Hollywood insiste cada vez em menos na originalidade, e Peter Pan é um exemplo máster disso. Joe Wright, num papel que aparenta ser apenas o de um diretor contratado de um grande estúdio, traz uma obra direcionada para crianças que até irá entretê-las. Afinal, tem um garoto que voa e piratas. Mas é tão cheia de clichês, com tanta inconsistência nos seus personagens que mesmo os pais que acompanharão as crianças não se sintam entediados no filme, confirmarão estamos cansados. Cansados de ver uma aventura onde sabemos que os personagens vão se sair bem não importa o problema, de estereótipos e profecias de um escolhido. Isso sim é extremamente irritante.

Pensando para quem o filme foi pensado, as crianças provavelmente irão se divertir nas quase duas horas de filme, já que um dos poucos pontos positivos dessa produção é que o ritmo é dinâmico. Os mais jovens não se sentiram entediados e os mais velhos que forem acompanhar não estarão tão exaustos. Os divertidos momentos do voo dos navios piratas desafiando a Força Área Britânica (RAF) nessa fantasia mesclada com a realidade são marcantes, assim como as brincadeiras com a gravidade, aumentadas pela sensação do 3D. Ainda assim, é difícil não se lembrar de outro herói mágico e órfão desse mesmo estúdio que é resgatado de maneira muito parecida, inclusive lidando com os problemas do mundo real.

Aliás, o filme é uma mistura de tantas outras produções, essas também com seus clichês mas adaptadas de maneira muito mais eficaz. Wright emula cenas de Oliver Twist – a fila da refeição é tão descaradamente copiada da versão de 1968 que o diretor deveria publicamente assumir isso – enquanto o roteirista Jason Fuchs empresta elementos tão batidos que vem desde Moises e Jesus Cristo, passando por Neo (Matrix, 1999), Anakin/Luke Skywalker (Star Wars) e Harry Potter, só para citar alguns. A história da Profecia e do Escolhido agora paira sobre um Peter (Miller) e se reflete em todo um bando, ou tripulação, com a mesma sensação dos piores filmes de terror da atualidade onde a audiência exclama mentalmente já ter visto isso.

Para simplificar um pouco a explicação poderia dizer que o que temos aqui é um Star Wars: Uma Nova Esperança (1977) piorado: Gancho (Hedlund) como Han Solo, Smee (Akhtar) como Chewbacca, Tigrinha (Mara) como Leia ao ponto dela e Peter serem quase irmãos, pois ela em determinado ponto da história diz ter sido treinada por Mary (Seyfried) que é mãe de Peter. Não estou dizendo que Star Wars criou tudo isso, mas os paralelos são tantos que fica difícil não se lembrar do estereotipado vilão sempre vestindo preto que é o Capitão Barba Negra (Jackman), a representação espiritual ou o poder que Peter manifesta durante a sua jornada que lembra a Força. Ou, se quiser algo mais recente, o aprendizado do Expecto Patrono.

Basicamente, essa produção quer ser a nova franquia mágica para crianças, abrindo portas para continuações que você percebe que estão lá. Por exemplo, que outro motivo a atriz Cara Delevingne deixaria escanear seu rosto para ter o papel das sereias – além do cachê multimilionário por dez segundos de filme – a não ser a promessa de que numa futura continuação ela teria importância? Outra indicação dessa vontade é que a história fica aberta demais sem ao menos tocar num ponto que poderia indicar a ruptura entre os futuros inimigos mortais Peter Pan e Capitão Gancho. Melhor deixar para o próximo filme, o estúdio pensa.

As conveniências do roteiro também são de amargar. Barba Negra é um personagem sem remorso, como podemos ver em suas execuções, que chega a jogar crianças para a morte. Porém, quando ele descobre que Peter pode voar, e sabe da profecia sobre um garoto com essas características e que viria para derrubá-lo, ele deixa todo o bom senso de lado e deixa o jovem viver. Essa é uma preguiça de roteiro tão cretina que me pergunto como alguém não o pegou para reescrever pelo menos essa parte. Sendo a profecia verdadeira ou não, seria sensato para um personagem tão cruel quanto o pirata não arriscar. É covardia demais continuar na infinidade de clichês, como o herói de última hora e o confiar em si só perto do fim.

Peter Pan | Pôster brasileiro

O que impede que o filme se enterre em seus grandes problemas são as questões técnicas. Wright e Fuchs brincam com as músicas Smells Like Teen Spirit (Nirvana) e Blitzkrieg Bop (Ramones) na parte da Terra do Nunca dominada pelos piratas, assim como há diferenças entre a fotografia e figurinos deles e da tribo da Tigrinha, mais iluminada e cheira de cores. E para amenizar a violência dos comandados de Barba Negra, as mortes dos indígenas ocorre ou fora do campo ou poeticamente com os nativos virando um pó colorido. O 3D, em geral, é bem utilizado com viagens dando sensação de profundidade e em duas belíssimas animações contando o passado de Peter e da Terra do Nunca. Opções que se saem melhor o que os flashbacks que estamos acostumados.

Ainda que guarde momentos de diversão para as crianças Peter Pan é mais do mesmo, e junto com algumas produções como Pixels reforçam o que há de errado com a indústria hollywoodiana. Mantém-se num lugar seguro, existe zero de ousadia e se segura nos efeitos especiais. E vendo essa repetição, uma vez logo depois da outra, é extremamente cansativo. Para quem preferir não arriscar, existem outras adaptações da obra de J.M. Barrie bem mais interessantes. No fim das contas esse filme pode ser pelo menos como estudo de caso do caminho que indústria americana está percorrendo e se realmente queremos que seja assim.

Sinopse oficial

Abordando uma nova visão sobre a origem dos personagens clássicos criados por J.M. Barrie, o filme conta a história de um órfão que se transporta para a mágica Terra do Nunca. Lá, ele encontra diversão e perigos para, finalmente, descobrir o seu destino – se tornar o herói que será conhecido para sempre como Peter Pan.”

Veja o trailer de Peter Pan

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About TIAGO

TIAGO LIRA | Criador do site, UX Designer por profissão, cinéfilo por paixão. Seus filmes preferidos são "2001: Uma Odisseia no Espaço", "Era uma Vez no Oeste", "Blade Runner", "O Império Contra-Ataca" e "Solaris".