Percy Jackson e o Mar de Monstros | Crítica | Percy Jackson: Sea of Monsters, 2013, EUA
Percy Jackson e o Mar de Monstros é mais uma busca desastrosa por uma nova franquia para jovens adultos que irá substituir a anterior.
Com Logan Lerman, Brandon T. Jackson, Alexandra Daddario, Leven Rambin, Jake Abel, Stanley Tucci, Nathan Fillion. Roteirizado por Marc Guggenheim (Lanterna Verde), baseado na obra de Rick Riordan. Dirigido por Thor Freudenthal (Diário de um Banana).
A busca pela nova franquia dita para jovens adultos continua. Três anos depois da primeira adaptação – de um total de cinco livros – Percy Jackson volta aos cinemas numa continuação nada empolgante. O filme é praticamente um desastre, faltando ritmo, diálogos, e com o grupo de personagens desinteressantes ao extremo. Além de serem péssimos alunos. Isso porque apesar de estarem imersos na cultura da mitologia grega, parecem não conhecer a própria história. O que se vê na tela é uma tentativa desesperada de americanizar Harry Potter, ainda que as histórias do bruxo inglês não sejam exatamente originais.
No acampamento Meio-Sangue – que é visível para qualquer que passe perto, diga-se de passagem – Percy Jackson (Lerman) continua seu treinamento para aprimorar seus dons como filho de Posseidon. O campo então é atacado por Luke (Abel), que envenena a árvore mágica que protege o lugar. Com isso, qualquer um que não seja semi-deus poderá entrar. Com a tragédia iminente, Percy se reúne com seus amigos Gover (Jackson) – um sátiro – Annabeth (Daddario) – filha de Athena – e do seu recém-descoberto meio-irmão Tyson (Smith) – um ciclope – para resgatar o Velocino de Ouro, que tem poderes de cura. Mas Luke também está atrás da mesma relíquia para ressuscitar o Titã Cronos (Knepper) e se vingar dos deuses do Olimpo.
Apesar dos treinamentos, os personagens não deixaram de ser adolescentes mundanos, digamos assim. A corrida de obstáculos no início é celebrada com gritos e apostas pelos outros não participantes. O roteiro coloca em posições opostas Percy e Clarisse La Rue (Rambin) – filha de Ares – nessa arena, e é o único bom momento em que o diretor mostra a personalidade de uma personagem secundária, apesar de bem raso. Ela é egoísta e soberba, diferente do personagem-título. Mesmo sendo responsável por evitar uma guerra entre deuses, ele é colocado em segundo plano. Nessa brincadeira, por exemplo, ele só perdeu porque foi ajudar um colega que tinha caído e não conseguia se soltar das cordas. Não é nenhum tipo de punição ou lição para que Percy aprenda humildade, já que essa é uma característica natural dele. É difícil de aceitar a falta de confiança nele, principalmente vinda de Dionísio (Tucci). Mais difícil é ver como as pessoas do acampamento reagem com a chegada de Tyson. Ele é visto como uma aberração dentro de um mundo povoado por centauros, sátiros e outros seres fantásticos. Um personagem de um olho só no meio da testa deveria ser um passeio no parque. Só Annabeth tem um motivo plausível para detestar o jovem, e ele não é dos melhores.
E o desenvolvimento da história só piora quando notamos a tentativa pífia de fazer que Percy seja um Harry Potter americano. De novo, o personagem de JK Rowling não é original nos seus arquétipos. Mas pela proximidade das produções, é irritante ver a falta de empenho para se afastar da história do bruxo. Então temos também um garoto da profecia, um grande lorde do mal que querem que ressuscite, e até mesmo um carro que consegue se deslocar grandes distâncias e quebrar as leis da física (se você pensou no Nôitibus Andante, acertou). A coisa fica caricata quando Luke convida Percy a se unir a ele em sua missão. Naquele momento, parecia que a continuação da frase seria “e então dominaremos a galáxia”.
Existem outras incongruências no filme que são difíceis de acreditar. Lembrem quando Tyson consegue invocar um hipocampo – um ser meio cavalo, meio peixe – para ajudá-los a resgatar Gover. Eles ainda estavam no meio do oceano e o animal poderia ser um belo ajudante na fuga do barco de Luke. Mas, por algum motivo idiota, eles liberam o animal sem saber o que espera os três dentro da embarcação. Ou, se voltarmos ao campo meio-sangue, porque não chamar alguns adultos experientes para guardar a entrada que está perdendo sua magia? No primeiro filme, é estabelecido que grandes figuras que estão em cargos importantes no mundo saíram de lá. Tudo dando errado, experiência a mais não faria nenhum mal.
Por outro lado, o filme tecnicamente é muito bom. Começando pelo 3D, usado muito bem pelo diretor, com grande profundidade de campo nos planos abertos – a cena da destruição do touro mecânico é um ótimo exemplo –, apesar de no fim do terceiro arco ele se esquecer disso usando o rack focus. Mas é por pouco tempo e não estraga a experiência. A animação do oráculo de Delfos no estilo vitral é ótima, e um show à parte da produção, que ganham vida, com movimentos e várias cores. O efeito de desconstrução de Cronos também é ótimo, com seus passos deixando rastros aos poucos, e as partículas dessas sobras funcionam bem demais no 3D.
No entanto, a produção peca demais em outros aspectos. A história não é corajosa o bastante para o drama, já que todo mundo que morre, ressuscita. E não dá pra esquecer que no quesito história da mitologia grega, todos os responsáveis pelo filme mereciam uma nota baixíssima. Se a mitologia é verdadeira naquele universo, Polifemo deveria ser cego, e não míope. Luke e seus companheiros também faltaram na aula de introdução à história dos deuses gregos, porque a primeira coisa que Cronos faz quando desperta é comer alguns semi-deuses, o que ele fazia sempre, e o que causou a guerra contra seus filhos Ades, Poseidon e Zeus. Sem falar que transformar o mais poderosos dos titãs num diabo com chifres – uma visão de um ser demoníaco para os cristãos – é muito lugar comum. Sem falar na luta final, que é decepcionante. O único ser de respeito é Caríbdis, um ser monstruosamente grande.
“Percy Jackson e o Mar de Monstros” não é um bom filme, e segue bem de perto o seu antecessor. As pequenas inserções de comédia ajudam, mas não é possível compreender a atitude de personagens. É ridículo ver Percy abraçar Tyler – que ele pensava estar morto – enquanto o ritual para reviver Cronos já tinha começado. Por maior que fosse o alívio, não custava nada esticar o braço meio centímetro para acabar com a confusão. O ápice da mediocridade desse filme é nos momentos finais. [SPOILER] É cretina a cena que Thalia, de quem cresceu a árvore mágica ressuscita por causa do Velocino. É aceitável ela envelhecer junto com a árvore, saindo dela adolescente. Mas fazer a roupa com que ela morreu encaixar perfeitamente na sua versão mais velha para disfarçar a nudez é ridículo. [/SPOILER]
Depois de duas horas de filme, é notório o problema. Estamos lidando com uma obra malfeita. A cópia, da cópia, da cópia. Da cópia. A falta de elementos novos e de coragem para aprofundar o drama já dá vontade de não acompanhar mais a saga dos olimpianos.
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