Para Sempre Alice | Crítica | Still Alice, 2014, EUA
Filme que rendeu o Oscar 2015 para Moore, Para Sempre Alice é um drama sensível e delicado sobre todos que sofrem com o Mal de Alzheimer. Leia a crítica!
Com Julianne Moore, Alec Baldwin, Kristen Stewart, Kate Bosworth, Hunter Parrish. Roteirizado e dirigido por Richard Glatzer, Wash Westmoreland, baseado no romance de Lisa Genova.
O mais importante em Para Sempre Alice é não sairmos incólumes da situação que a protagonista passa. E isso os diretores Richard Glatzer e Wash Westmoreland conseguem ao tratar o tema do Mal de Alzheimer como delicadeza e sensibilidade. Essa dureza da vida, a tristeza de quem fica do lado de fora e de quem aos poucos vai se perdendo dentro de si é incorporada por todo o elenco. Moore em especial, apesar de ser injusto dizer que ela carrega o filme sozinha – apesar de ser a grande responsável pela carga dramática. Com pontuais problemas, que vem principalmente do uso da trilha sonora, esse filme vem para cativar e emocionar o espectador que está sujeito, como todos nós, a enfrentar um dia a perda daquilo que nos define como pessoas.
Sinopse oficial
“O filme narra como Alice (Julianne Moore) convive com a doença, com a perda das palavras tão caras a ela, da memória, e como a família reage à notícia – o marido dedicado (Alec Baldwin) e seus três filhos adoráveis, Lydia (Kristen Stewart), Anna (Kate Bosworth) e Tom (Hunter Parrish).”
O drama de Alice começa nas palavras, e isso é muito simbólico. Não só aquela que ela perde na palestra – uma tão banal que a espanta – mas também as que os outros lhe dirigem. John, marido de Alice, lhe diz em seu aniversário que ela é mulher mais inteligente que conhece. Num misto de bajulação e sinceridade, essa professora é definida por sua inteligência e eloquência. E que golpe forte da vida é esse uma comunicadora que descobre que logo perderá essa característica que fez as pessoas gostarem dela.
A trama desenvolve outros paralelos que aumentam a melancolia de Alice. Por uma série de fatores, o Alzheimer que ela tem é de um tipo que pode ser transmitido aos seus filhos. Como qualquer mãe amorosa, ela teme por não poder protegê-los, mesmo que isso não seja culpa dela. Ela vê isso como uma falha, tanto que chega a pedir desculpas a uma das filhas quando essa descobre que herdou o gene que, no futuro, pode lhe causar o mesmo mal.
E, aos poucos, Alice vai se perdendo dentro de si mesma. A cena que bem resume isso é quando está na casa de veraneio da família, depois de ser afastada do trabalho de lecionar, e não consegue sequer se lembrar de onde fica o banheiro, causando um desconforto e vexame. A direção de Glatzer e Westmoreland usa de alguns artifícios para reforçar essas situações. Primeiro, os dois isolam – por assim dizer – a protagonista num mundo à parte na primeira grande crise, quando Alice não reconhece o local que está praticando corrida. O espectador ouve o foco na respiração dela, e nota que os sons ambientes somem e as imagens em volta embaçam, nos levando momentaneamente para o mundo em que ela está entrando. Depois, a câmera ganha uma instabilidade quando as crises de Alice começam a piorar. Então, num belíssimo e gradual trabalho de maquiagem, Alice vai apagando, como se o brilho dela começasse a escapar. E só temos a real percepção disso quando ela se vê num recado deixado como capsula do tempo.
Para reforçar a situação de Alice os diretores investem na variação do uso da câmera – às vezes mais estável, outras nem tanto – e conseguem nos colocar em dúvida se ela usa sua doença como desculpa para alguns fatos. Por exemplo, depois de ler o diário da filha Lydia, as duas tem uma discussão. No dia seguinte, a mãe diz que acha que as duas brigaram por algum motivo, mas não se lembra do por que. Esse sentimento dúbio – de não saber se ela está sendo sincera ou não – só foi possível pela força da atriz principal.
Visitando um terreno que alguns conhecem, já que o Alzheimer é relativamente comum, Para Sempre Alice tem poucos pontos fracos, representado em especial pela trilha sonora que, apesar de bonita, tem pequenos exageros no seu uso. Principalmente no piano e cordas estridentes de “Lost Phone” e “Pills”. Não prejudica a história, mas nos força a sentir tristeza ou preocupação. Como compensação, há belos momentos, como o discurso motivacional sobre a própria condição e a montagem da cena no terceiro ato quando Alice descobre o vídeo que gravou para si mesma quando sua situação piorasse muito. Em idas e vindas, os diretores cansam um pouco o espectador para nos sentirmos, pelo menos em parte, como essas pessoas, sabendo que precisam fazer alguma coisa, e tem que voltar vez e mais uma vez de novo para poderem lembrar do que é, o que causa um desgaste físico, para falar o mínimo. E, por fim, é a história da palavra que a protagonista consegue formular com muita dificuldade: amor. Amor de quem fica e sofre e nada mais pode fazer, numa mistura dessa tão bela e triste vida.
Para Sempre Alice ganhou o Oscar 2015 na categoria “Melhor Atriz” pela interpretação de Julianne Moore.
Veja o trailer Para Sempre Alice
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