Paixão Obsessiva | Crítica | Unforgettable, 2017, EUA

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Paixão Obsessiva é um conjunto de obviedades que piora ao notarmos que existia um caminho bem mais interessante para a trama.

Paixão Obsessiva (Unforgettable), 2017

Elenco: Katherine Heigl, Rosario Dawson, Geoff Stults, Isabella Rice, Cheryl Ladd | Roteiro: Christina Hodson, David Leslie Johnson | Direção: Denise Di Novi | Duração: 100 minutos

Paixão Obsessiva se confunde na falta de compromisso, preferindo contar uma história com desenvolvimento e fechamento clichês, sendo que havia muito espaço para ousar. Ainda que toque em temas importantes e ainda em voga para dar voz às minorias – no caso, se levantando contra o machismo e o racismo – o desenvolvimento da história em si é tão comum que não exige do espectador nenhum tipo de questionamento da índole das personagens, mas é possível ver de longe outros resultados mais interessantes para trama, já que todos os elementos para isso estão ali, de bandeja para serem usadas pela diretora que faz um bom trabalho na cadeira. Mas não é uma qualidade refletida no roteiro.

Para chamar a atenção para um caso grave que ainda acomete as mulheres, a violência doméstica, Di Novi mostra Julia (Dawson) machucada com cortes e roxos já na primeira cena. A história que se segue, em flashback, é a narração dos fatos. Podemos começar até com a atitude do investigador que joga evidências sobre a mesa do homem que ela aparentemente matou, julgando-a antecipadamente numa atitude machista, sem deixar que ela se recupere do golpe físico e psicológico que levou. E muito poderia ser usado a partir desse simples prólogo, um jogo que a personagem poderia não escapar.

A diretora é fascinada pelo uso de símbolos, o que mostra uma tentativa de Di Novi em extrair o máximo da história que decidiu dirigir, e um bom conhecimento formal dela que é mais acostumada com o papel de produtora: Julia não se preocupa com as malas que caem do carro enquanto ela se muda de cidade, mesmo com presentes (não olha para trás); e na primeira interação dela com Tessa (Heigl), a ex-mulher de seu namorado, elas se opõem no figurino. Tessa veste branco, como uma rainha de gelo, uma mulher tão obcecada pela perfeição que usa maquiagens e plásticas como uma máscara para esconder sua fachada verdadeira.

Além do óbvio fato de Julia ser negra. Essa é outra crítica do roteiro, a do racismo velado. Não é apenas a beleza natural da nova namorada do ex-marido que preocupa Tessa. Como no encontro tenso entre as duas e a mãe de Tessa (Ladd) que acontece num haras, a loira estilo Barbie se sente rebaixada ao receber ordens de uma mulher que ela acredita estar abaixo de sua condição, e é por isso que o figurino insiste tanto nas cores claras de Tessa: não por pureza, mas por ela ser uma falsa aristocrata. Mesmo que as palavras não sejam proferidas, o sentimento de ser trocada por alguém inferior, na sua visão, é o que perturba Tessa.

Infelizmente esses símbolos não sustentam a história, principalmente ao percebemos que algumas conversas resolveriam a trama – e mesmo que não houvesse história por causa disso, mostra a fragilidade do roteiro. Vítima de violência do ex-namorado, Julia exista em contar para David (Stults) sobre esse passado perigoso. Isso faria sentido se ela estivesse fugindo, o que é uma reação muito comum. Mas Julia já havia enfrentado esse perigo e denunciado seu antigo namorado, então não se justifica a hesitação dela, mesmo que a própria personagem o faça. Assim como a suposta conversa que a jovem Lily (Rice) teria tido com um homem. Quando Julia descobre que não foi assim e nem assim ela conta para David fica difícil acreditar nas motivações dela.

É interessante ver que Tessa não é simplesmente uma megera bidimensional e que sua condição é atrelada à criação que teve pelas mãos da mãe dominadora – ela também tão cheia de plásticas e maquiagem que aparenta ter a idade da filha. Ao mesmo tempo, falta profundidade ao não dar um nome para a personagem, que é chamada apenas de “mãe” ou “vovó”. É que enquanto os momentos interessantes ficam na plasticidade do filme, os maus são claros demais e facilmente identificáveis e sem ter o que espremer depois de 90 minutos onde apenas perto do fim começa a ficar interessante – e mesmo assim para acabar do jeito mais comum possível.

Paixão Obsessiva é uma sequência de obviedades, com alguns dramalhões que parecem ter sido tirados de novelas mexicanas – como Tessa se jogando da escada para sensibilizar David. O problema é que existem tantos elementos que poderiam contornar o clichê, facilmente alcançados na sala de montagem, que vemos um potencial desperdiçado, o que é reforçado e até exacerbado pelo caminho comum tomado pela diretora. Vale para acompanharmos o trabalho de Di Novi nesse novo caminho por detrás das câmeras, dessa vez olhando através dela. Pode dar certo, diferente do resultado desse filme.

Paixão Obsessiva | Trailer

Paixão Obsessiva | Pôster

Paixão Obsessiva | Cartaz nacional

Paixão Obsessiva | Galeria

Paixão Obsessiva | Imagens

Paixão Obsessiva | Sinopse

Julia está deixando seu passado para trás – o trabalho, o ex-namorado violento – para se casar com David (Stults) e levar uma vida mais tranquila com ele e a filha do primeiro casamento dele. Mas suas tentatuvas vão de encontro com a ex-mulher de David, Tessa (Heigl), uma mulher que não aceita ser trocada por alguém que considera inferior a ela. E isso levantará uma situação infernal e perigosa.

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About TIAGO

TIAGO LIRA | Criador do site, UX Designer por profissão, cinéfilo por paixão. Seus filmes preferidos são "2001: Uma Odisseia no Espaço", "Era uma Vez no Oeste", "Blade Runner", "O Império Contra-Ataca" e "Solaris".