Os Penetras | Crítica | Brasil, 2012

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Os Penetras é uma comédia sem risos, com uma história que não consegue encontrar sua própria definição e extremamente previsível.

Com Marcelo Adnet, Eduardo Sterblitch, Andrea Beltrão, Stepan Nercessian, Mariana Ximenes, Luis Gustavo, Luiz Carlos Miele e Susana Vieira. Roteirizado por Marcelo Vindicatto (Feliz Natal) e Andrucha Waddington. Dirigido por Andrucha Waddington (Eu, Tu, Eles)

Os PenetrasOs Penetras é vendido como uma comédia. Se foi assim, devo ter entrado no filme errado. Nada, ou quase nada fará o espectador rir. Seria mais apropriado o termo chamado “dramédia”, mostrando que Vindicatto e Waddington se perderam no meio do caminho ao contar uma história de golpistas e fracassados. Faltou versatilidade desses cineastas advindos do drama (o primeiro com “Feliz Natal” e o outro de “Eu, Tu, Eles”). Existem pontos dignos de admiração na produção, e um deles é a direção. Mas tais pontos são subjugados por um roteiro fraco e extremamente previsível. Era de se esperar mais de atores que são conhecidos por fazer comédia. Ou pelo menos tentam fazê-lo.

O filme conta a história de Marco Polo (Adnet), um trambiqueiro que ganha a vida enganando turistas e outros incautos. Vindicatto e Waddington logo de cara mostram a má-índole do personagem, quando ele tira fotos das nádegas da mulher que estava dormindo com ele. Pedro (Sterblitch) é um homem com uma baixíssima autoestima, personalidade que o diretor mostra bem ao filmar o personagem com câmeras na linha dos calcanhares, como se implorasse, ou de cima para baixo, acentuando esse sentimento. A bagunçada vida de Pedro também ganha outros elementos visuais bem inseridos como a carteira do personagem. O encontro de Marco Polo e Pedro tenta ser engraçado, mas só forçando demais para acreditar na coincidência que coloca os dois juntos. A relação que Pedro cria com Marco é tão exagerada quanto, mesmo no desespero. O estelionatário percebe que arranjou mais um otário para tirar alguns trocados. Tudo que Pedro quer é que Marco convença a ex-namorada a falar com ele de novo. Marco procura a moça num hotel de alta classe do Rio e fica chamando pelo nome até que alguém responda. Uma pessoa com um pouco mais de senso teria perguntado pela descrição física ou mesmo uma foto de celular. Enfim, Laura (Ximenes) responde a Marco, que percebe que pode se dar muito melhor, já que a personagem é linda e tem um caso com Anchieta (Gustavo), um senhor muito mais velho que ela. Ele se apaixona por Laura por ela ser uma igual, tão interesseira quanto.

Por algum motivo estranho, Pedro aceita se hospedar no cubículo onde Marco mora enquanto este tenta “resolver” as coisas com Laura. Nesse segundo ato, o diretor faz um separação bem fraca, mas que ficou um tanto engraçada entre Beto e Marco, enquanto fica de toalha clara na cabeça, e o outro de terno preto. Digo fraca porque é muito básica, mas é engraçada quando pensamos em questão do figurino. Pena que os poucos momentos que poderiam ser engraçados não seguram a fragilidade do roteiro. De novo, o filme faz muitas concessões para ir para frente. A figura mais clara disso acontecendo é quando Marco vai para um festa atrás de Laura e pede para que Pedro fique no apartamento. Convenientemente, uma das roupas que Marco pensou em usar era igual à dos garçons da festa, o que faz Pedro se infiltrar sem ser percebido. E Marco e seu amigo de golpes Nelson (Nercessian) entram de um jeito parecido, o que nos faz levantar a questão de porque festas chiques em geral não tem listas de convidados.

Os Penetras tem poucos bons momentos, incluindo a fotografia de Ricardo Della Rosa e na boa participação surpresa de Andrea Beltrão. Mas o filme leva uma hora para ter alguma graça para logo depois voltar ao mesmo marasmo de antes. A sensação é que por Vindicatto e Waddington não conseguem se encaixar no gênero de comédia, apesar de ser essa a clara intenção com a escolha da dupla principal. Vejam a cena logo no começo, onde Pedro tenta desesperadamente fazer com que Laura o deixe entrar no quarto, implorando e com presentes, mas ela lhe entrega um bilhete escrito “fim” por debaixo da porta. É muito poético que ele não consiga devolver o papel, porque o fim não tem volta. Mas essa atitude não condiz com o que sabemos depois do personagem. É uma atitude exagerada para alguém que estava sendo perseguida por um perturbado. Adnet atua bem e Sterblich me surpreendeu (fugindo do seu personagem clássico o “Freddie Mercury Prateado”), mas Ximenes ainda atua no limite do tolerável. Por mais que outros momentos fossem aceitáveis para a primeira incursão dos responsáveis no gênero, é imperdoável a história falhar em fazer a audiência rir, que deveria o principal.

Os Penetras | Trailer

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About TIAGO

TIAGO LIRA | Criador do site, UX Designer por profissão, cinéfilo por paixão. Seus filmes preferidos são "2001: Uma Odisseia no Espaço", "Era uma Vez no Oeste", "Blade Runner", "O Império Contra-Ataca" e "Solaris".