Os Incríveis 2 | Crítica | Incredibles 2, 2018
Mesmo com os 14 anos de espera, Os Incríveis 2 é uma produção que vem com um discurso relevante, ainda que a produção não seja tão interessante quanto a primeira.
Diferente de outras continuações, Os Incríveis 2 não sofre da sina dos caça-níqueis. Depois de 14 anos, vemos rostos familiares, novas aventuras e um estrutura similar ao filme original. Ainda na esteira da homenagem, a nova produção vai agradar tanto quem procura um entretenimento leve quanto àqueles que buscam algo além do divertido. Ainda que a identidade do vilão seja um tanto óbvia para os adultos, isso não prejudica a aventura que tem um personagem roubando cada cena que aparece. Com novos pontos de vista e um pulo tecnológico visível, Brad Bird voltou para seus personagens numa aura de nostalgia, algo que se reflete na história.
No mais estrito senso da palavra continuação, entrar na nova aventura da Família Incrível é como pegar o a edição número 2 daquela revista em quadrinhos que você gosta tanto. Iniciando exatamente de onde o filme de 2004 acabou, Pedro/Sr Incrível (Nelson), Helena/Mulher-Elástico (Hunter), Violeta (Vowell) e Flecha (Millner) tem de viver com os mesmos problemas de antes. Ainda ilegais, a família percebe que as questões não desapareceram como mágica. E passando para um ponto de visto humano, como mostra a introdução antes dos créditos de abertura, existe na visão dos irmãos Winston (Deavor) e de Evelyn (Keener) a já mencionada questão da nostalgia. Isso é resultado de uma visão bem familiar para qualquer um, globalmente. Explico.
É verdade que Winston vive do passado, e por isso quer trazer os heróis de volta à sua glória – mas isso é resultado de uma descrença na classe política, o que faz jus ao nosso cenário, onde no desespero de vermos mudanças, apelamos para qualquer um que se posicione como outsider. A estrutura, convenhamos, lembra a do primeiro filme: um ricaço benevolente que se propõe a levantar personagens combalidos, o que poderia fazer subir o alerta para o recém-calejado Sr Incrível. Mas esse benfeitor mostra as caras para dar uma leve subvertida nisso. E faz questão de mostrar ao mundo como a Mulher-Elástico pode ser o agente dessa mudança, puxando valores de um tempo melhor, usando um uniforme que lembra ligeiramente o original.
Aí é como se um sonho começasse. Com a casa destruída pelo ataque na conclusão da última história, Pedro, Helena vão de foras-de-lei escondidos num hotel barato, – acompanhados de Lucius/Gelado (Jackson) – para acima das nuvens no prédio da DEVTECH: agora assim como se fosse mágica, o padrão da família se eleva e as preocupações começam a diminuir e agora é a vez da Mulher-Elástica brilhar. E diferente do que o Sr Incrível fez na primeira aventura, é tudo feito as claras, sem as mentiras que levaram aos problemas do primeiro filme. Juntando isso com a tarefa à princípio relutante de Pedro ser dono-de-casa, a produção quebra pelo menos dois paradigmas, ainda que o Sr Incrível teime em acreditar que ele não foi o escolhido.
Nessa inversão de papeis, existe certa relutância e Pedro claramente está menos confortável que caçando bandidos. Mas ele abraça a missão, como qualquer um que se entenda como ser humano deveria fazer. Seus novos desafios são entender a mudança da matemática, a adolescência e como criar um super-bebê. Enquanto o lado investigativo e aventureiro se concentra na Mulher-Elástico, a normalidade, por assim dizer, fica nas mãos de Pedro, que se esforça nessa aventura particular, mostrando que é um bom pai. E essa parte mais leve e com muita comédia só é possível por Zezé (Fucile), personagem que rouba a cena.
Toda essa comédia tem uma razão de ser. Além do motivo óbvio que é fazer a plateia rir, o que acontece em muitos momentos, a descoberta dos variados poderes do caçula fala de potencial. É bem comum vermos relatos de pessoas que tem vidas definidas pelos pais, seja na esfera profissional ou de como lidam e enxergam o mundo. Então o que Bird fez ao dar a Zezé uma miríade de poderes é reforçar que ainda inocente e sem pressões, o ser humano pode ser o que quiser – e isso é uma lição muito bela, uma que tendemos a esquecer quando envelhecemos.
E há também um segundo motivo. Ao assistirmos essas partes relativamente mundanas – pois tratamos de super-seres – podemos chegar à conclusão que elas estão lá para desviar a atenção da audiência do foco principal. Ao ainda estarmos anestesiados das desventuras de Zezé por não ter consciência da própria capacidade, Bird tenta nos desviar da identidade do Hipnotizador. É verdade que isso só funciona para os mais jovens e desavisados, pois os mais calejados vão entender na hora a relação entre dois personagens. Porém, não significa que seja uma estrutura sem força para se segurar durante as quase duas horas de filme.
À princípio, pode parecer que não há evolução dos personagens em Os Incríveis 2. Isso acontece por ser uma continuação imediata do primeiro filme e por personagens que já aprenderam bastante na produção original. Mas uma olhada atenta mostra sim uma ligeira mudança, uma que pode ser definida como gradual, própria de qualquer edição número 2. Não é grande o suficiente para ser radical, nem pequena o bastante para ser desprezada. Com trocas de lugares, personagens que perdem o chão, exigindo um amadurecimento e uma dose de ingenuidade vinda de um tempo mais simples, a produção é uma mistura nostálgica e reflexiva, pois mostra a preocupação do diretor em querer que as coisas sejam melhores. Como visual retrofuturista de Metroville, Bird olha para o passado, mas mira o futuro.
Elenco
Craig T. Nelson
Holly Hunter
Sarah Vowell
Huck Milner
Samuel L. Jackson
Bob Odenkirk
Catherine Keener
Direção
Brad Bird (Missão: Impossível – Nação Secreta)
Roteiro
Brad Bird
Fotografia
Mahyar Abousaeedi
Trilha Sonora
Michael Giacchino
Montagem
Stephen Schaffer
País
Estados Unidos
Distribuição
Walt Disney Pictures
Duração
118 minutos
Ainda lidando com o fato de serem desautorizados pelo governo, a família Incrível recebe a ajuda de dois irmãos dispostos a fazer que os heróis sejam de novo aceitos e amados pela sociedade – uma missão que cai nos ombros da Mulher-Elástica.
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