Odeio o Dia dos Namorados | Crítica | Brasil, 2013
Odeio o Dia dos Namorados é outro daqueles filmes para ocupar um período no cinema e perpetuar o jeito televisão de se fazer as comédias nacionais.
Com Heloísa Périssé, Daniel Boaventura, Danielle Winits, Marcelo Saback, MV Bill, Marcelo Matos, Toni Tornado, Fernando Caruso e Daniele Valente. Roteirizado por Paulo Cursino. Dirigido por Roberto Santucci (De Pernas Pro Ar 2).
É bem verdade que o cinema nacional já saiu há bastante tempo do estigma de quando é bom, o comentário comum seja “é um filme legal, apesar de ser nacional”. Mas também é verdade que as comédias daqui ainda precisam percorrer um longo caminho. Basta pesquisar as melhores bilheterias dos últimos anos nesse especial do Adoro Cinema para ver a (falta de) qualidade do gênero. A nova produção de Santucci e Cursino é uma coleção infinita de clichês e dona de uma falta de cuidados impressionantes. Odeio o Dia dos Namorados é assim: poucas risadas e um elenco de qualidade duvidosa, mas plenamente conhecido na televisão, mostram que precisamos de sangue novo nas telas.
Quando era mais nova, Débora (Perissé) dispensou o então namorado Heitor (Boaventura) justamente no dia dos namorados, mesmo depois de um lindo pedido de casamento, para poder estagiar no Japão e seguir carreira de publicitária. Nos dias atuais, ela é uma famosa Diretora de Arte e a sua agência é contratada pela empresa que Heitor faz parte para uma campanha do doze de junho. Mas ela sofre um grave acidente de carro, e momentos antes de seguir para a morte certa é visitada pelo antigo – e falecido – sócio, Gilberto (Saback), para uma jornada espiritual, assim descobrindo como os outros a enxergam e repensar a própria vida.
O problema não é o clichê, já que histórias de seres espirituais que visitam os humanos para que eles mudem de ideia existe na literatura desde passagens bíblicas, por “Um Conto de Natal” (A Christmas Carol, livro de Charles Dickens, de 1843), e no cinema com “A Felicidade Não se Compra” (It’s a Wonderful Life, 1947). Só que nada adianta se a produção não criar carisma com nenhum personagem: pode ser a chefe rabugenta, o melhor amigo gay, a super romântica ou o grandalhão que mostra que tem um bom coração. A história de redenção da personagem principal tem poucos momentos de destaque, sendo um o flashmob que acontece no começo – num plano sequência muito interessante, com a visão subjetiva de Débora –, um outro já no fim, e a tortura que a protagonista, ainda no plano metafísico, impõe a Fred (Caruso), que fica engraçada mesmo por causa dos jeito e olhos esbugalhados do ator. Depois disso, é difícil achar mais qualidades na produção.
Desde o começo, fica bem a impressão geral é que esse filme é um grande especial de TV transportado para o cinema. Os atores são todos da carreira Globo que fizeram carreira em novelas – com exceção de uma ponta do rapper MV Bill – e aparentemente toda os designers de produção, fotógrafos e cinegrafistas também. Existem merchandises violentos no filme, como já é comum na TV, fazendo que os personagem não usem marcas fictícias nos trabalhos da agência. Então, uma campanha é para uma grande loja virtual de comércio de calçados, e a principal é dos bombons com celofane vermelho e com nome de dança. É compreensível que o filme precise de investidores para injetar dinheiro, mas se essa tendência televisiva passou para o cinema não sei mais o que esperar.
Além desses péssimos de atores e atrizes – principalmente Heloísa Périssé, que não convence de jeito nenhum – o filme é tecnicamente ruim. Por exemplo, quando Débora bate o carro e é projetada para fora de um SUV – sem nenhum arranhão, diga-se de passagem – ela começa a voar em câmera lenta enquanto é assistida pela própria projeção astral e do falecido Gilberto que aponta para abaixo do viaduto, dizendo que a morte dela é certa. Apesar do momento estar mais devagar no tempo-espaço, o tráfego na parte de baixo da ponte continua fluindo normalmente. E os fundos em CGI são extraídos de qualquer capítulo da “Grande Família” e da atual grades de novelas do canal, não existindo nenhum tipo de empenho em melhorar um pouco que seja e tirar esse ar de produção barata. Quando a história se projeta para o futuro de 2036 é pior ainda. E a fotografia só poderia receber o adjetivo jocoso de qualquer coisa. Apesar das viagens no tempo, indo do presente para os anos 1980 e depois para o futuro, quase não há diferenciação entre si. Para não ser injusto, existem dois momentos em que isso acontece, mas é porque a luz natural do fim da tarde obriga que isso aconteça.
Odeio o Dia dos Namorados é só mais um filme para ocupar um período no cinema e perpetuar o jeito televisão de se fazer comédias no Brasil. O público mais acostumado com o que vê diariamente em casa provavelmente lotará as salas, e isso vai dar aval a mais e mais produções de gosto duvidoso que não se importam em mudar. Não digo que para um filme ser bom ele precise ser uma superprodução. Mas sair um pouco da zona de conforto da novela não faria mal nenhum.
Odeio o Dia dos Namorados | Trailer
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