O Sono da Morte | Crítica | Before I Wake, 2016, EUA
O Sono da Morte vem nos passos de filmes de terror com mensagens que vão além do susto pelo susto.
Elenco: Kate Bosworth, Thomas Jane, Jacob Tremblay, Annabeth Gish, Dash Mihok | Roteiro: Mike Flanagan, Jeff Howard | Direção: Mike Flanagan (O Espelho)
O Sono da Morte vem nos passos de filmes de terror com mensagens que vão além do susto pelo susto.
Mike Flanagan é uma pessoa bem ocupada. Só em 2016 tivemos o lançamento de Hush: A Morte Ouve (direto para a Netflix), o vindouro Ouija: Origem do Mal (previsto para outubro) e a estreia dessa semana O Sono da Morte. Passeando entre os papeis de diretor, roteirista e montador de seus filmes, Flanagan tem um gosto especial pelo suspense e pelo terror. Essa é a terceira vez que ele tem sucesso na empreitada, mas também o faz de maneira ousada. Ainda que o filme aposte em sustos fáceis da trilha sonora aguda e frames rápidos, há uma mensagem importante por trás da trama, algo que está se tornando comum para os filmes do gênero e por isso merecem serem acompanhados e discutidos.
Apresentado num sinistro prólogo, sob a mira de uma arma, a inocência do jovem Cody (Tremblay) desponta. Seu medo é tátil e por isso ele se esforça em não apenas ser, mas parecer doce. É impossível não gostar do garoto – claro, em grande parte também pela atuação de Jacob Tremblay – com seu jeito de não querer fazer mal a ninguém. Com poucos segundos ele conquista Jessie (Bosworth), Mark (Jane) e a plateia. Ele vem para dar mais cor a esses pais sem filho, vivendo num ambiente tomado por tons pastel, e lidando com a maior das dores – tão grande que não tem um nome.
Essa saturação nas cores reflete em ambientas da casa e também no figurino do casal. Notem como a saboneteira da banheira parecem dentes de um monstro, ou como Jessie constantemente usa azul, a mesma cor que está eternizada na foto de família em que seu falecido filho aparece, não conseguindo passar a tragédia. Quando Cody se junta à vida dos dois, ele se torna alguém que nos apegamos e queremos defender. E quando Jessie começa a usar o jovem como um canal para reviver memórias do filho que se foi, pode-se interpretar como um problema que muitas crianças passam nesse mundo, o abuso infantil. Mesmo que seja num desespero e quase inconscientemente, o que Jessie faz é errado.
O tema principal da história, algo que vai além da camada superficial de ser um filme de monstros, é o luto. Lidando com a grande perda da sua vida, Cody canaliza violentamente a sua dor. Flanagan apresenta o monstro à audiência relativamente cedo para mostrar que a aparição é um tanto boba, infantil para nós, é suficiente para amedrontar o jovem causar mal aos que estão em volta. Esse ser que se alimenta dos sonhos de Cody, ao mesmo tempo em que convive com ele, tem a capacidade de tirar a luz do jovem e englobar em escuridão aqueles à sua volta. A interpretação desse maligno provavelmente não causará medo nos adultos, mas é justificado com competência depois.
A atmosfera por todo o filme é triste, carregando por pouca variação das cores – quebradas pelos sonhos iniciais e coloridos de Cody – e em si uma depressão, um estado de espírito que tenta emular a perda de Jessie e Mark. É uma pena que na trilha sonora original Flanagan se renda ao caminho mais fácil, e marca sustos mais pelo som do que pela imagem. Alguns planos são, inclusive, extremamente previsíveis para os mais experientes. Outros momentos poderiam ser menos didáticos, como mostrar por flashs como o filho de Jessie e Mark morreu, já que a preocupação que os dois têm com a banheira da casa já era suficiente para isso, deixando mais acessível para um público ávido por explicações.
A dor do luto é algo incomensurável e se manifesta de maneiras diferentes em pessoas diferentes. Em O Sono da Morte Mike Flanagan faz um exercício sobre como alguém muito especial lidaria com essa dor. No entanto, diferente de outros exemplos da filmografia do diretor, há um raio de esperança – que resulta numa cena um tanto piegas, é verdade – algo que só o amor pode trazer. É praticamente um conto de fadas macabro, com lições e tudo que os clássicos do estilo trazem e que se fecha não de maneira sutil e num misto do que a vida realmente é: bons e maus momentos e como lidamos e passamos por essas melancolias para jogar um pouco mais de luz em nós mesmo, ainda que aos poucos.
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O Sono da Morte | Galeria
O Sono da Morte | Sinopse
Logo após perder o filho pequeno, o casal Jessie (Kate Bosworth) e Mark (Thomas Jane) aceita adotar Cody (Jacob Tremblay), um garoto da mesma idade. O filho adotivo se adapta bem à nova família, mas ele tem um problema: os seus sonhos se tornam realidade, e os pesadelos, especialmente, podem ser mortais. Quando Jessie e Mark investigam o passado do garoto, descobrem histórias sinistras.
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