O Predador | Crítica | The Predator, 2018
O Predador consegue inovar pela dose de violência extrema e comédia, mas falha em todo o resto, deixando uma obra insípida para o fã do cinema de ação.
As boas memórias nunca nos deixaram – mas os estúdios parecem tentar com toda a força. O Predador se perde na hora de fazer homenagem ou fazer um filme de ação, sendo relevante apenas nas já conhecidas doses de comédia de Shane Black. Ele e Dekker, seu co-roteirista, escondem as passagens fracas e sem sustentação do roteiro por meio da montagem, do nosso conhecimento prévio desse caçador das estrelas e das passagens gore gratuitas que servem só para nos descolar da aventura. Deixando de lado até mesmo insinuações mais críticas que fizeram parte de seus dois filmes anteriores, essa é uma daquelas típicas produções que tentam enganar o espectador pelo que está por fora, esperando assim que ele esqueça da fragilidade interna.
Assim como tantas produções, o novo filme de Black busca um público mais imediatista, menos preocupado em ser coeso mesmo dentro do próprio universo. Isso não tem nada a ver com pensar só quem gosta do original – que o diretor estrelava, aliás – mas sim em fazer cinema. É verdade que ele tenta uma novidade, pois é a primeira vez que vemos um Predador fugindo ao invés de caçar uma presa como aconteceu nas outras cinco encarnações do personagem na tela grande. E como é típico da filmografia do diretor, momentos de ação se intercalam com comédia, o que rende pelo menos algumas boas e sinceras risadas durante a segunda parte do filme.
Black e Decker são felizes também em colocar que os Predadores já fazem parte do nosso mundo, o que acelera as coisas, e desenvolvem bem e em poucos minutos tanto a personalidade de Quinn (Holbrook) quanto a de seu filho, Rory (Tremblay). Num espectro, o ranger cuida primeiro de sua missão para depois se preocupar com a enorme espaçonave que está para cair na sua cabeça – o que mostra que ele é alguém centrado e confiável. Do outro lado, seu filho, estando em algum espectro do autismo, é inteligente e prefere consertar as coisas. De certa maneira, ambos são párias. Um por ver o que não deveria ter visto e o outro por ser diferente para os padrões de um mundo cruel.
Infelizmente, com a Dra Casey Brackett (Munn) e todo o séquito de militares deslocados, não é a mesma coisa. Fazendo um paralelo com o primeiro filme, a doutora se afasta daquela personagem pega no fogo cruzado e toma rédeas como um pessoa inteligente e que interrompe até o mansplaining de Traeger (Brown) – ao mesmo tempo que a jogo no clichê atual da mulher forte, que, por algum motivo, consegue ser hábil com vários tipos de armas sem um bom motivo para isso, quando um simples diálogo resolveria esse estranhamento. Já com o resto do elenco, o erro foi inchar a narrativa com esses personagens que estão lá apenas para fazer referência à equipe de Dutch em 1987.
Quando as piadas começam a surgir naturalmente, principalmente desses personagens que pertencem todos à uma casa de veteranos com algum tipo de transtorno psicológico, a trama prende mais a atenção. Essa pegada de comédia é, junto da ação inicial, a melhor parte do filme. Entre aquela loucura que o trio principal, Quinn, Rory e Casey, são tragados é que nos identificamos. Ainda que nós na plateia não sejamos snipers, cosmólogos ou gênios precoces, estamos dentro do nosso mundo e somos retirados dele à força, por eventos que não podemos controlar, algo comum dentro do gênero da aventura. Ou seja, mesmo que um objeto de grande poder não tenha caído nas nossas mãos, é possível entender pelo que esses personagens estão sentindo.
Os problemas da trama continuam com a insistência do diretor em fazer desse um filme violento – inspirado, talvez forçado por outros sucessos Rated R do estúdio como Logan (2017, James Mangold) e Deadpool (2016, Tim Miller) – em detrimento da história. O que acontece é que a dupla de roteirista sabe da fragilidade da trama que estão apresentando e escondem isso com sangue, entranhas à mostra e membros decepados – que só funcionam dentro da proposta humorística –, como um musical que esconde sua fragilidade por números grandiosos. Aliás, outro defeito que Black faz é acreditar que tudo deve ser maior que o que foi feito antes. De novo, uma ilusão, pois não é ter um Predador de 3,5m na tela que faz as coisas serem melhores.
Isso não significa que não existam pontos a serem louvados. A questão é que os maus momentos se superam aos bons – e se não fossem as ótimas piadas, esse seria um filme praticamente esquecível, seja pela fragilidade do ato final, pela atuação do elenco ou pelo péssimo CGI. Dentro de conveniências monstruosas, como Rory saber que o pai estava no casco da nave sem tê-lo visto ou Cassey percorrer muito rápido uma distância que foi alcançada pelo Predador em fuga, e diálogos expositivos demais até para um filme de ação, a continuação vai se tornando aos poucos uma experiência que marca pela negatividade deixada. Até a tentativa de transformar a trama numa carta progressista com uma questão ambiental parece forçada.
Além de não deixar que a história se feche em si mesma, reforçando outro grande problema dos estúdios que é querer transformar tudo em uma franquia, O Predador sem dúvida encontrará defesas por sua ação, comédia e momentos divertidos. O mesmo clichê usado para defender até mesmo o mais questionável filme de super-heróis que temos ou teremos simplesmente pela marca que estampa. Nem todo filme precisa fazer que reflitamos sobre a vida, o universo e tudo mais, porém, parece que muitas produções recentes entraram numa máquina de ideias para serem trituradas e deixá-las com uma cara parecida. Apesar de Black diferenciar sua obra com violência e pitadas de comédia, basta uma leve sacudida no exterior para perceber essa massa homogênea e sem gosto que nos tem sido colocada.
Elenco
Boyd Holbrook
Trevante Rhodes
Jacob Tremblay
Keegan-Michael Key
Olivia Munn
Thomas Jane
Alfie Allen
Sterling K. Brown
Direção
Shane Black (Dois Caras Legais)
Roteiro
Fred Dekker
Shane Black
Baseado em
Predador (Jim Thomas, John Thomas)
Fotografia
Larry Fong
Trilha Sonora
Henry Jackman
Montagem
Billy Weber
Harry B. Miller III
País
Estados Unidos
Distribuição
20th Century Fox
Duração
107 minutos
3D
Irrelevante
Os mais letais caçadores do espaço estão de volta à Terra, e agora um grupo nada preparado para a missão pode ser a última barreira entre a sobrevivência da raça humana e sua aniquilação
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